Josmar Jozino

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Fuga em Mossoró joga luz sobre segurança de presídio de SP, terror do PCC

Após a fuga de dois presos do CV (Comando Vermelho) do Presídio Federal de Mossoró (RN), o CRP (Centro de Readaptação Penitenciária) de Presidente Bernardes, na região oeste do estado de São Paulo, disputa o status da unidade prisional mais segura do Brasil.

Foi a primeira fuga da história registrada em uma das cinco penitenciárias federais construídas no mesmo modelo no país e administradas pelo governo federal. As outras ficam em Campo Grande (MS); Catanduvas (PR), Porto Velho (RO) e Brasília (DF).

O CRP foi inaugurado em 2 de abril de 2002 na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB) e já abrigou toda a liderança do PCC; o chefe máximo do CV, além de guerrilheiros e sequestradores. Até hoje, o presídio não registrou uma fuga, segundo a SAP (Secretaria Estadual da Administração Penitenciária).

Já ficaram recolhidos na unidade por diversas vezes Marco Willians Herbas Camacho, 56, o Marcola, tido como o número 1 do PCC; José Márcio Felício, o Geleião, e César Augusto Roriz Silva, o Cesinha, ambos fundadores da maior facção criminosa do País.

O presídio abrigou ainda Roberto Soriano, o Tirica, Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka, Cláudio Barbará da Silva, o Barbará, Daniel Vinícius Canônico, o Cego, Paulo César Souza Nascimento Júnior, o Neblina, Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, todos da cúpula do PCC.

Também passaram por lá outros dois líderes da organização: Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca. Os dois criminosos foram mortos a tiros em fevereiro de 2018, quando estavam em liberdade, na região metropolitana de Fortaleza (CE).

Luís Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, apontado como chefão do Comando Vermelho do Rio de Janeiro, ficou "hospedado" no CRP de Bernardes. Ele deu entrada na unidade em 27 de fevereiro de 2003 e chegou sob forte escolta policial.

Ficaram trancafiados ainda no CRP o chileno Maurício Hernandez Norambuena, um dos sequestradores do publicitário Washington Olivetto. O preso era guerrilheiro e comandante da organização político-militar Frente Patriótica Manoel Rodriguez.

Até líderes do MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra) como José Rainha Júnior, o Zé Rainha, e Felinto Procópio dos Santos, o Mineirinho, ficaram presos no CRP de Bernardes. A dupla ficou cinco dias na unidade.

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Cemitério dos vivos

Para os líderes do PCC, ficar no CRP de Bernardes é como ser enterrado vivo. O governo paulista gastou R$ 8 milhões na construção. O presídio foi feito para abrigar chefes de facções criminosas e autores de faltas graves no sistema prisional.

Sob o piso de concreto das celas há chapas de aço para impedir a escavação de túnel. As janelas têm grades de ferro maciço. Sobre as muralhas existem arames farpados e as guaritas de concreto e vidro são à prova de bala. No pátio tem um cabo de aço para evitar pousos de helicópteros. Também foram instalados bloqueadores de telefone celular.

Os presos ficam trancados na cela durante 22 horas e saem apenas duas horas para o banho de sol em grupo restrito. A visita íntima é proibida. A social acontece uma vez por semana num parlatório blindado. Presos e familiares não têm contato.

Os detentos não têm acesso a rádio, televisão, jornais e revistas. Os livros passam por censura. Se houver no título a palavra crime, a obra não é entregue ao preso. Os prisioneiros batizaram o CRP de "Big "Brother" por causa das 16 câmeras instaladas nas quatro alas da unidade.

O CRP tem capacidade para 160 prisioneiros. Apesar de toda essa segurança na unidade, o governo paulista decidiu remover todos os líderes do PCC para presídios federais, que até a última quarta-feira, quando dois presos escaparam de Mossoró, eram considerados modelos de segurança máxima.

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Advogados de líderes do PCC recolhidos em unidades federais travam batalhas na Justiça para tentar a remoção dos clientes para o estado de origem. Na avaliação dos defensores, o CRP de Bernardes oferece todas as condições de segurança para abrigar esses presidiários.

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