Josmar Jozino

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Justiça Federal deve arrolar Marcola como testemunha no júri de rival no PR

A Justiça Federal deve arrolar o preso Marco Willians Herbas Camacho, 56, o Marcola, como testemunha no júri do rival Roberto Soriano, 50, o Tiriça, acusado de ser o mandante do assassinato do agente penitenciário federal Alex Belarmino, de Souza, 36 anos. O julgamento não tem data definida.

Os dois presos são apontados como integrantes da cúpula do PCC (Primeiro Comando da Capital) e romperam a amizade depois que Marcola foi acusado por Tiriça de ser delator ao chamá-lo de psicopata durante conversa com um funcionário da Penitenciária Federal de Porto Velho (RO).

O diálogo de Marcola com o agente foi gravado e o áudio acabou usado em outro júri que condenou Tiriça a 31 anos e meio de prisão pela morte da psicóloga Melissa de Almeida Araújo, da Penitenciária Federal de Catanduvas (PR), assassinada a tiros em maio de 2017, em Cascavel (PR).

Caso seja arrolado como testemunha no novo júri, Marcola será indagado pelo juízo, por cinco procuradores da República e também pelos defensores do réu, se sustenta ou não a declaração feita no presídio de Porto Velho em 15 de junho de 2022, quando chamou Tiriça de psicopata.

Nos meios jurídicos, os comentários são de que se isso acontecer mesmo - Marcola arrolado - será o maior ajuste de contas entre a liderança do PCC em pleno tribunal e poderá agravar ainda mais a crise na principal organização criminosa do Brasil.

Cláudio Dalledone e Adriano Bretas, advogados de Roberto Soriano, tinham arrolado Marco Willians Herbas Camacho como testemunha no júri do cliente. Mas, em 15 de janeiro deste ano, os defensores decidiram abrir mão do depoimento de Marcola.

Áudio vazado rachou a facção

O vazamento do áudio no júri do assassinato de Melissa gerou um dos maiores rachas da história do PCC. Segundo o MP-SP (Ministério Público do Estado São Paulo), Tiriça, e os comparsas Abel Pacheco de Andrade, 49, o Vida Loka, e Wanderson Nilton de Paula Lima, 45, o Andinho, decidiram excluir Marcola do PCC.

Marcola, por sua vez, considerado o líder máximo da organização, contou com o apoio da "sintonia final", a cúpula da facção, que em contrapartida divulgou "salve" (comunicado), informando que ele não havia feito nada de errado.

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No comunicado, a "sintonia final" anunciou que Tiriça, Vida Loka e Andinho estavam excluídos do PCC e jurados de morte sob as acusações de calúnia e traição contra Marcola. O "salve" foi repassado para os integrantes da organização nos presídios e nas ruas.

Marcola, na possível condição de testemunha arrolada pelo juízo, terá a oportunidade de esclarecer se agiu ou não como delator e em qual contexto chamou Tiriça de psicopata. Os dois presos, assim como Vida Loka e Andinho, estão recolhidos na Penitenciária Federal de Brasília.

Um relatório sigiloso do sistema prisional ao qual a reportagem teve acesso mostra como os rivais de Marcola decidiram expulsá-lo da facção criminosa. O documento cita um diálogo de Vida Loka com uma visita no parlatório da penitenciária em 8 de dezembro de 2023.

Vida Loka demonstra o descontentamento com Marcola porque este último havia chamado Tiriça de psicopata. Na conversa com o visitante, o preso deixa claro que "a rua" ou seja, todos os integrantes do PCC em liberdade, precisavam saber o que Marcola havia dito sobre Tiriça.

Segundo consta no documento, no dia 10 de fevereiro deste ano Vida Loka cumpriu determinação de Tiriça e passou um "salve" para os presos da ala D da unidade sobre o conteúdo da gravação do diálogo entre Marcola e o agente penal de Porto Velho.

Vida Loka manifestou apoio total a Tiriça e acrescentou estar do lado dele. O relatório aponta que os novos inimigos de Marcola o acusaram de "cagueta, traição e fraqueza" e anunciaram a exclusão dele da facção.

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Tiriça saiu do PCC em 2014, diz Vida Loka

Ouvido como testemunha de defesa de Tiriça no júri ao qual o réu foi condenado pela morte da psicóloga Melissa, Vida Loka afirmou que desde 2014, o aliado não integra mais o Primeiro Comando da Capital. O depoimento foi gravado em vídeo. A reportagem teve acesso ao material.

O depoente disse que em 2014, quando ficou preso na Penitenciária Federal de Catanduvas (PR), estava em uma cela vizinha ao xadrez de Tiriça. Segundo Vida Loka, o aliado contou que por motivos pessoais estava deixando as fileiras do PCC.

Vida Loka acrescentou que o PCC aceitou a saída de Tiriça, assim como faz com todos os integrantes que resolvem deixar a organização, "sem ameaças nem represálias". A testemunha contou que, desde então, Tiriça não tem mais voz de comando no PCC e por esse motivo não poderia ordenar atentados.

O agente penal Alex Belarmino de Souza foi assassinado em setembro de 2016 na cidade de Cascavel (PR). Ele era de Brasília e tinha ido ao Paraná para dar curso de tiro aos colegas. Onze réus já foram condenados por participação no homicídio.

Tiriça é apontado como mandante do crime, mas nega. Cláudio Dalledone e Adriano Bretas garantem que o cliente é inocente e será absolvido. O júri estava marcado para março, mas foi adiado, sem definição de nova data.

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