Conteúdo publicado há 26 dias
Josmar Jozino

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Reportagem

Corpo de mulher de líder de facção foi velado em penitenciária em São Paulo

Aconteceu em um sábado no mês de outubro de 2006. Os responsáveis pelas escoltas de presos da Penitenciária José Parada Neto, em Guarulhos (SP), ficaram com medo de conduzir o chefe de uma facção criminosa até o cemitério onde o corpo da mulher dele seria velado e enterrado.

O temor dos agentes era de um possível resgate. Como o prisioneiro Francisco Alexandre da Silva, o Thesco, na época com 34 anos e líder do CRBC (Comando Revolucionário Brasileiro da Criminalidade) não pôde ir ao velório, o caixão com o corpo da mulher foi levado ao presídio.

A autorização partiu da antiga Coordenadoria dos Estabelecimentos Penitenciários da Capital e Grande São Paulo. As autoridades carcerárias concederam ao presidiário o tempo de 20 minutos para ele dar o último adeus à amada.

Algemado e trajando camiseta branca e calça amarela, cores do uniforme dos detentos em São Paulo na ocasião, Thesco foi retirado da cela e conduzido por agentes penitenciários ao prédio da administração da unidade prisional, por ordem da diretoria.

Depois seguiu até um setor perto da entrada principal da penitenciária. Já sem as algemas, Thesco foi autorizado a permanecer ao lado do caixão, aberto por um agente funerário. A triste cena foi acompanhada a poucos metros de distância por um grupo de servidores prisionais.

Funcionários ficaram constrangidos. Os mais antigos no sistema disseram nunca ter cena visto uma cena dessa. Depois da rápida, emocionada e solitária despedida, o caixão foi colocado de volta no carro funerário e levado para o Piauí.

Os agentes algemaram o preso e o reconduziram à cela. Colegas de Thesco o ampararam e o consolaram. Ele era conceituado no mundo do crime e respeitado pelos presos. Os comparsas decretaram três dias de luto na Penitenciária José Parada Neto, conhecida como P1 de Guarulhos.

Fontes do sistema prisional revelaram que, além de líder do CRBC, Thesco era o piloto (chefe) da prisão. O CRBC, criado na P1 de Guarulhos em dezembro de 1999, era o principal inimigo do PCC (Primeiro Comando da Capital) fundado seis anos antes na Casa de Custódia e Tratamento de Taubaté (SP).

Colocado em liberdade

Natural de Sousa, na Paraíba, Thesco, hoje com 52 anos, foi condenado pela Justiça de São Paulo pelos crimes de tráfico de drogas, roubos e porte ilegal de arma. Em 4 de junho de 2008, ele fugiu da ala do regime semiaberto da Penitenciária José Parada Neto.

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Porém, não ficou muito tempo nas ruas. Foi preso em flagrante em 15 de agosto de 2008, sob a acusação de tráfico de drogas, em São Bernardo do Campo. Por esse crime, acabou condenado a seis anos e nove meses. A pena total aumentou para 28 anos.

Em agosto de 2021, cumprindo pena na Penitenciária 2 de Potim, no Vale do Paraíba, em São Paulo, Thesco foi submetido a exame criminológico. Os psicólogos concluíram que ele estava em condições de retornar ao convívio social.

Em 9 de dezembro de 2021, a juíza Wania Regina Gonçalves da Cunha, da 2ª Vara das Execuções Criminais de Taubaté, concedeu ao prisioneiro Francisco Alexandre da Silva a progressão ao regime aberto e ele foi colocado em liberdade.

A reportagem não conseguiu contato com o advogado de Thesco, mas o espaço continua aberto para manifestações. O texto será atualizado, caso haja posicionamento do defensor dele.

Reportagem

Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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