Comparsa de irmão de Marcola pagava R$ 5.000 de aluguel para Deolane em SP
Preso em 27 de outubro de 2021 por suspeita de lavagem de dinheiro para o PCC (Primeiro Comando da Capital), Everton de Sousa, 30, o Gordão, disse durante interrogatório que pagava R$ 5.000 por mês pelo aluguel de um apartamento na Rua Anália Franco, Tatuapé, zona leste de São Paulo.
O Deic (Departamento Estadual de Investigações Criminais) apurou que o imóvel era da influenciadora digital Deolane Bezerra Santos, 36, presa no Recife em uma operação contra organização criminosa acusada de envolvimento em jogos de azar e lavagem de dinheiro.
Os policiais foram ao apartamento para cumprir mandados de prisão temporária e de busca e apreensão. Segundo os investigadores, a própria Deolane e uma irmã dela, também advogada, acompanharam a ação do Deic no apartamento.
O depoimento de Gordão foi prestado em 5 de novembro de 2021 na 6ª Delegacia de Investigações sobre Facções Criminosas e Lavagem de Dinheiro, do Deic. Ele contou que pagava R$ 5.000 de aluguel pelo apartamento de Deolane e mais R$ 1.200 de condomínio.
A mulher de Gordão foi presa na mesma operação. Ela também foi interrogada e disse no Deic que o marido havia alugado o apartamento de Deolane Bezerra, em contrato verbal, porque ele era amigo dela. A depoente não soube dizer o valor da locação.
No dia da operação, foram apreendidos porções de drogas, uma pistola Taurus furtada, um aparelho usado para bloquear sinal de telefone celular - muito utilizado pelas quadrilhas de roubos de cargas e assaltos a bancos -, cinco telefones celulares e um automóvel BMW.
O casal passou a ser investigado por lavagem de dinheiro após a prisão de dois homens flagrados com 199 tabletes de cocaína em abril de 2020, na região metropolitana de São Paulo. Com a droga, havia um bilhete com endereço relacionado a Everton.
Gordão não chegou a ficar um mês preso após a operação. Ele acabou condenado a um ano em regime aberto apenas pelo porte de arma. A Justiça entendeu que as porções de drogas apreendidas no imóvel não configuraram crime de tráfico de entorpecentes. A mulher dele já estava livre.
Suspeito de lavar dinheiro para Marcolinha
O Deic continua investigando Gordão e suspeita que ele lave dinheiro para Alejandro Juvenal Herbas Camacho Júnior, 52, o Marcolinha, irmão de Marco Willians Herbas Camacho, 56, o Marcola, apontado como líder máximo do PCC. Ambos estão recolhidos no presídio federal de Brasília.
Investigadores do Deic apuraram que Gordão era casado com Isabel Cristina Alves Gomes, sobrinha de Francisca Alves da Silva, a Preta, mulher de Marcolinha, presa pela Polícia Federal em 24 de abril deste ano sob a acusação de envolvimento com jogos de azar e tráfico de drogas no Ceará.
Nas investigações cearenses são citadas transações bancárias entre Preta e Deolane (R$ 11,7 mil) e também de Preta com Everton Gordão (R$ 70 mil). O Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) considerou as movimentações suspeitas.
Ainda no interrogatório à Polícia Civil em São Paulo, Gordão revelou que, além dele, a atual sogra também é amiga de Francisca e que ela a conheceu durante as festas da família. O Deic pediu as prisões preventivas dele e de Preta, mas a Justiça negou. Deolane não é investigada no inquérito do departamento paulista que apura lavagem de dinheiro.
Os policiais fizeram diligências, seguiram Gordão e o flagraram várias vezes se dirigindo a um dos apartamentos de Francisca, no Tatuapé. Ele foi fotografado e sempre tentava se disfarçar. Usava capuz para esconder o rosto e deixava o carro estacionado a 100 metros do prédio de alto padrão.
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Quero receberOs agentes descobriram ainda que até os 21 anos, Gordão morava em um apartamento simples na região da 'cracolândia', mas logo em seguida passou a ser dono de duas empresas, uma delas em sociedade com a ex-mulher Isabel. A polícia diz que ela morreu misteriosamente em junho de 2017.
Ele também teve vários veículos de luxo, como BMW, Mercedes Benz, Porsche Boxter, Toyota Hilux, Evoque, Renault Fluence, Chevrolet Cobalt e Volkswagen Jetta. De acordo com o Deic, Gordão foi orientado por criminosos mais precavidos a se desfazer dos automóveis caríssimos.
Para o MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo), Gordão é o "faz de tudo", o operador financeiro de Marcolinha e também braço direito de Preta. O nome dele aparece várias vezes no inquérito instaurado pela PF que culminou com a prisão da mulher do irmão de Marcola.
A reportagem não conseguiu contato com os advogados de Everton de Sousa, Francisca Alves da Silva e Deolane Bezerra. O espaço continua aberto para manifestações dos defensores.
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