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Josmar Jozino

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Reportagem

Rival de Marcola está há 12 anos em prisão federal sem passar por psicólogo

Ele já ficou isolado ao menos oito vezes em RDD (Regime Disciplinar Diferenciado). Permaneceu meses sem sair da cela para o banho de sol e sem receber visitas. Em novembro próximo, o preso vai completar 12 anos de internação em penitenciária federal sem passar por psicólogo ou psiquiatra.

Roberto Soriano, 50, o Tiriça, foi o primeiro integrante da cúpula do PCC (Primeiro Comando da Capital) a ser transferido da Penitenciária 2 de Presidente Venceslau (SP) para um presídio federal. Isso aconteceu em 16 de novembro de 2012.

Pessoas ligadas a Tiriça disseram à reportagem que o prisioneiro sempre manteve o controle emocional durante esse período e nunca precisou ser atendido por psicólogo ou psiquiatra. As mesmas fontes afirmam ainda que o prisioneiro jamais tomou remédio para depressão ou ansiedade.

Segundo as fontes, o presidiário tem a mente preservada e um dos segredos é a leitura. Tiriça lê uma média de cinco livros por semana. Ele também chegou a escrever um livro, mas o material foi censurado e confiscado pela diretoria da Penitenciária Federal de Brasília, como informou esta coluna em 2020.

As mesmas fontes ressaltaram que Tiriça jamais se abalou, mesmo vivendo há mais de uma década "em um sistema cruel e desumano de cumprimento de pena em presídio federal", onde o preso fica trancado 22 horas por dia na cela individual sem acesso a rádio e TV.

"Ele [Tiriça] é classificado por muitas autoridades como psicopata. Mas o fato de ficar esse tempo todo na tranca dura sem passar por especialistas em psicologia e psiquiatria só mostra que o preso mantém o autocontrole emocional, não é violento nem tem tendência suicida", afirmou uma fonte.

A fonte deixa claro, no entanto, que a maioria dos prisioneiros de unidade federal não tem esse domínio da mente, como Tiriça, e acabam enlouquecendo e tentando tirar a própria vida. "Muitos não recebem visita há anos. Sem o apoio familiar, desenvolvem psicose e só pensam mesmo em se matar", acrescentou.

Sem trégua nem acordo

Em 15 de fevereiro deste ano, Tiriça foi excluído do PCC, junto com Abel Pacheco de Andrade, o Vida Loka, e Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho, sob a acusação de calúnia e traição. Os três foram acusados pela cúpula da facção de chamar Marcola de delator.

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E isso porque um áudio da conversa de Marcola com um agente na Penitenciária Federal de Porto Velho (RO), chamando Tiriça de psicopata, vazou. O áudio foi usado em um júri no Paraná que culminou com a condenação de Soriano a 31 anos pela morte de uma psicóloga do presídio de Catanduvas.

Ainda segundo as fontes, o preso Cláudio Barbará da Silva, o Barbará, um dos chefes do PCC, recolhido na mesma ala que Tiriça na Penitenciária Federal de Brasília, tentou convencê-lo a aceitar uma trégua e ser reintegrado às fileiras da organização ao lado de Andinho e Vida Loka.

As fontes disseram que Tiriça, Andinho e Vida Loka, recusaram a proposta de trégua e não querem nenhum acordo com Marcola nem com a cúpula da facção criminosa.

Marcola, por sua vez, está em outra ala do presídio, onde também se encontram recolhidos os líderes do PCC Antônio José Muller Júnior, o Granada; José de Arimateia Pereira Faria de Carvalho, o Pequeno; e Rogério de Araújo Taschini.

Reportagem

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