Aviões, bancos, construtoras e roupas de grife: a face bilionária do PCC
Ler resumo da notícia
Foi-se o tempo em que um líder do PCC (Primeiro Comando da Capital) era preso em algum barraco na periferia de São Paulo e conduzido até uma delegacia da Polícia Civil, onde chegava sem camisa, com as tatuagens feitas a caneta, e usando apenas bermuda e um par de chinelos sem marca.
Os novos comandantes e colaboradores do PCC são narcotraficantes quase desconhecidos da polícia, endinheirados, sem antecedentes criminais. Quando descobertos acabam presos em mansões milionárias com pista para aeronaves. Usam roupas de grife, peças de ouro e têm advogados famosos.
Segundo o MP-SP (Ministério Público do Estado de São Paulo) os narcotraficantes Willian Barile Agati, 38, o Senna, preso pela Polícia Federal em janeiro, e Anselmo Bechelli Santa Fausta, 38, o Cara Preta, assassinado em dezembro de 2021, são exemplos da nova face bilionária do PCC.

Investigações da Polícia Federal apontam que Senna tinha conexões com a máfia italiana 'Ndrangheta, liderava uma rede de tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro do PCC e movimentou R$ 2 bilhões entre janeiro de 2018 a outubro de 2022.
A PF apurou que o narcotraficante era dono de aeronaves, havia contratado dois pilotos e usou os aviões para transportar toneladas de cocaína para a Europa, especialmente para a Bélgica e Portugal. O criminoso também era proprietário de mansões em Santa Catarina e em São Paulo.
Ao examinar os registros telefônicos de Senna, a PF encontrou fotos dele em casas de alto padrão em Florianópolis (SC) e outra ao lado de uma aeronave, segurando seu cachorro de estimação, de nome Escobar, em homenagem ao narcotraficante colombiano Pablo Escobar.
Os federais constataram ainda que o narcotraficante tinha empresas em Dubai, nos Emirados Árabes, onde movimentava milhões de dólares em contas bancárias. Senna também tinha construtoras, fazendas e até agência de viagem. E contava com o apoio de doleiros para lavar dinheiro.
Antes de ser preso pela PF, Senna, chamado de "concierge" (espécie de gerente) do PCC só era conhecido nos meios policiais por investigadores corruptos. Um deles era Valmir Pinheiro, o Bolsonaro, um dos delatados por Antônio Vinícius Gritzbach, 38, morto a mando do PCC.
Seguiu o policial delatado por Gritzbach
Bolsonaro foi preso pela PF junto com o investigador Valdenir Paulo de Almeida, o Xixo. Ambos foram acusados de receber propina de R$ 800 mil da quadrilha liderada por Senna para não investigar o bando por tráfico internacional de drogas.
Nos arquivos telefônicos de Senna, a PF também localizou fotos do investigador Bolsonaro. Os federais acreditam que a organização liderada por Senna planejava matar o policial civil porque ele estaria exigindo altos valores de propina do grupo criminoso.
Assim como Senna, o narcotraficante Cara Preta não tinha antecedentes era quase desconhecido pelo MP-SP e nos meios policiais. O apelido dele chegou a aparecer em uma investigação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial e de Combate ao Crime organizado), em 2013. Ele não foi identificado à época.
Cara Preta morava em apartamento de luxo no Jardim Anália Franco, zona leste paulistana. Ele tinha construtora, banco digital, aeronaves, veículos importados, empresas e dezenas de imóveis luxuosos. Também era acionista da empresa de ônibus UPBUs, ligado ao PCC, segundo o MP-SP. Os investigadores corruptos o conheciam.
O Gaeco apurou que Cara Preta era um dos maiores exportadores de cocaína do PCC e chegou a investir R$ 100 milhões em criptomoedas. Esse teria sido o motivo de seu assassinato. Vinícius Gritzbach foi o investidor e sumiu com o dinheiro dele. Foi acusado de mandar matá-lo e teve o mesmo fim.
Para o Gaeco, o novo PCC nem se interessa mais pelos grandes roubos. "O tráfico internacional de drogas é a maior atividade da facção. Rende bilhões de reais por ano ao grupo criminoso, que agora tem como colaboradores integrantes desconhecidos, sem antecedentes criminais", explicou o promotor de Justiça Lincoln Gakiya, que há 20 anos investiga a organização criminosa.
O que diz a defesa do preso
Eduardo Maurício, advogado de Willian Agati, disse por meio de nota que seu cliente é inocente, não praticou nenhum crime (seja ele qual for) e que tudo ficará provado na instrução processual, "já que Agati é um empresário idôneo em diversos ramos nacionais e internacionais sem nunca ter respondido nenhum processo na Justiça e não tem conexão com o PCC ou com a máfia italiana".
O advogado acrescentou que "a defesa busca que Agati responda ao processo em liberdade e aguarda julgamento de Habeas Corpus perante o Superior Tribunal de Justiça, já que a prisão do cliente é ilegal e abusiva".
14 comentários
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.
Andre Gustavo Reis Fialho
Alô alô receita Federal. Pra que servem? Apartamento de luxo, iates, laranjas, iates, jatinhos. Só checar recibos de médicos e dentistas?
Dorival Santos Scaliante
Qualquer bem que for apreendido pela Justiça, estão tranquilos. Sabem que tem uma hoste de ministros que se lhes mandam devolver.
Virgilio Vettorazzo
Eu sei que esse Bolsonaro é outro vaga, não o inominável, mas ler que ele foi preso pela PF é maravilhoso.