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"Bandidos" do Rio têm tratamento diferenciado no sistema de Justiça
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A morte de 29 pessoas na comunidade do Jacarezinho, na Zona Norte do Rio, chocou o Brasil com tanto sangue espalhado em vielas e até em um quarto de uma criança. O STF (Supremo Tribunal Federal) recebeu imagens que mostram, claramente, execuções de moradores por policiais que estavam atuando nas operações. Só que os corpos levaram quase 24 horas para começarem a ser identificados, o que ocorreu só com a ajuda da OAB.
É assim que o Sistema de Justiça Criminal, do qual as Polícias Civil e Militar fazem parte junto com o Ministério Público e o Judiciário, trata alguns investigados. Esses que o vice-presidente Hamilton Mourão tratou como "tudo bandido". Acusam os mortos sem saber o nome, número de RG, CPF ou mesmo se existem, sequer, antecedentes criminais.
Mas nem todos os "bandidos" são tratados assim. É possível citar diferentes casos, mas para ficar apenas no âmbito policial do Rio de Janeiro. Há o caso de Júlia Lotufo, a viúva de Adriano Nóbrega, ex-capitão do Bope e líder do Escritório do Crime, em Rio das Pedras.
No mês passado, Júlia Lotufo conseguiu no STJ (Superior Tribunal de Justiça) um habeas corpus depois de ficar quase 40 dias foragida da Justiça, ou seja, também da Polícia do RJ. Ela colocou a tornozeleira eletrônica na última quarta-feira (5) e ficará presa em casa.
O MP-RJ (Ministério Público do Rio de Janeiro) fez uma operação no fim de março para prendê-la junto com outros investigados. Assim, ela poderá responder o processo em liberdade, mesmo que o ex-companheiro seja conhecido por liderar um grupo que era investigado por diversos homicídios.
A mesma "sorte" teve a cabeleireira Márcia Aguiar, mulher do policial militar Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro. No ano passado, quando a 27ª Vara Criminal do TJ-RJ decidiu pela prisão do casal, ela fugiu e ficou 40 dias foragida até que o ministro João Otávio de Noronha, também do Superior Tribunal de Justiça, decidiu permitir que ela ficasse presa em casa com tornozeleira.
Em comum, as duas têm: policiais na família e a imensa capacidade de se esconder da polícia do RJ. Nesses casos, não se ouviu dizer entre bolsonaristas que era "tudo bandido". Dá para ver que, até para quem defende o bordão, nem todo "bandido" é bom morto.
Além disso, quando o próprio Adriano Nóbrega morreu durante uma operação policial na Bahia, e sua família disse que ele teria sido vítima de execução, o próprio presidente Jair Bolsonaro chegou a cobrar uma perícia independente.
"Quem é responsável pela morte do capitão Adriano? A PM da Bahia, do PT. Precisa falar mais alguma coisa?", disse ele, na ocasião, ao cobrar investigações. Não foi o único da família a ir nesse sentido.
O MP informou que vai investigar a operação que gerou 28 mortes no Jacarezinho. Mas a chacina anterior, no morro dos Fallet-Fogueteiro, em fevereiro de 2019, com outras 13 mortes, teve um pedido de arquivamento do MP há pouco tempo.
O arquivamento foi pedido, apesar das imagens que registraram os policiais carregando corpos para o hospital, modificando a cena do crime e impossibilitando que a perícia pudesse verificar o alegado confronto. Naquela ocasião, moradores também denunciaram execuções. Mas a palavra deles ou as imagens contaram pouco. Será que vão valer agora?
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