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Juliana Dal Piva

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Defesa nega ameaça à eleição, mas bolsonaristas insuflam voto impresso

Ministro da Defesa, Walter Braga Netto - ADRIANO MACHADO
Ministro da Defesa, Walter Braga Netto Imagem: ADRIANO MACHADO

Colunista do UOL

22/07/2021 14h39

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O ministro da Defesa, Walter Braga Netto, chamou de "desinformação" a revelação feita pelo jornal O Estado de S. Paulo de que ele teria enviado um "recado" ao presidente da Câmara, Arthur Lira (Progressistas-AL), por meio de um interlocutor político. A "mensagem" teria sido de que as eleições de 2022 não iriam ocorrer sem voto impresso e "auditável". Apesar da declaração de Braga Netto, na mesma época do "recado", grupos bolsonaristas começaram a se organizar para levar às ruas a tentativa de encampar uma bandeira no tema.

As urnas eletrônicas são auditáveis, diferente do que o presidente e seus auxiliares tentam alardear. O episódio do "recado" teria ocorrido no dia 8 de julho e o ministro estaria junto com os comandantes do Exército, da Marinha e da Aeronáutica no momento.

Após a reportagem revelar o caso, Braga Netto não usou a palavra "mentira" em sua nota oficial que tenta negar o episódio. É provável que, a essa altura, ele já saiba que uma ala de apoiadores bolsonaristas articula desde a semana em que teria ocorrido o "recado" uma manifestação em Brasília no Dia do Soldado, dia 25 de agosto.

Veteranos das Forças Armadas estão sendo chamados por grupos de Whatsapp e redes sociais. O encontro tem como lema "Deus, Pátria e Família", o que lembra e muito as bandeiras da Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade, a TFP, conhecida por sua atuação em prol da ditadura nos anos 1960.

No entanto, um organizador do protesto do dia do soldado contou à coluna que a ideia é que a manifestação tenha como foco a defesa do voto impresso. A pauta, que corre solta nas redes bolsonaristas, não surgiu de um clamor popular, sequer era mencionada até que o presidente Jair Bolsonaro tocasse no assunto com acusações sem provas.

O foco do presidente Jair Bolsonaro e seus aliados na defesa do voto impresso coincide com o agravamento das crises de seu governo. Há semanas a investigação sobre a compra da vacina Covaxin desgasta Bolsonaro que já vinha sofrendo com as críticas pela caótica gestão da pandemia, em especial, a demora na compra de vacinas.

Mas, essa semana em que o "recado" teria sido enviado por Braga Netto, também é a semana em que Bolsonaro ouviu as gravações de sua ex-cunhada Andrea Siqueira Valle se tornarem públicas no podcast A vida secreta de Jair, que mostrou o envolvimento direto de Bolsonaro com um esquema ilegal de entrega de salários. O presidente não tocou no assunto com apoiadores e nem em suas redes sociais.

No mesmo dia 8, Bolsonaro também disse que as eleições de 2022 estariam ameaçadas sem o voto impresso. "As eleições no ano que vem serão limpas. Ou fazemos eleições limpas no Brasil ou não temos eleições". O Brasil jamais teve fraude comprovada nas eleições depois da adoção das urnas eletrônicas. O presidente já foi chamado no Judiciário para apresentar provas que mostrem as fraudes que ele alega. Bolsonaro nunca apresentou.

O presidente e seu núcleo mais próximo parecem querer apostar na antiga reclamação de Bolsonaro sobre voto impresso, sem fundamento, para engrossar essa discussão no Congresso. Ao mesmo tempo, se o voto impresso não vingar, o que é mais provável, o falso discurso de fraude também ganharia corpo para os bolsonaristas. Seja com viés golpista ou como desculpa para uma eventual derrota.