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Juliana Dal Piva

REPORTAGEM

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Propaganda do Dia das Mães foi artimanha de mulheres na Constituinte de 88

Mulheres na Constituinte em 1988 - Crédito: Fernando Bezerra/Arquivo BG Press/Agência Senado
Mulheres na Constituinte em 1988 Imagem: Crédito: Fernando Bezerra/Arquivo BG Press/Agência Senado

Colunista do UOL

26/03/2023 04h00Atualizada em 26/03/2023 19h02

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Uma propaganda do Dia das Mães foi utilizada como estratégia durante a Constituinte de 1988 por um grupo de mulheres feministas para aumentar a licença-maternidade de 84 para 120 dias e criar a licença-paternidade.

A ideia surgiu da ativista e pedagoga Schuma Schumaher, que fazia parte do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher. Ela quis aproveitar o mês de maio de 1987 para fazer campanha para essas duas pautas. Cada ministério tinha um tempo e uma data estabelecida na TV pra usar como quisesse. Originalmente, o Exército tinha a data reservada para fazer uma propaganda de alistamento.

A ativista, então, foi até a cúpula do Exército e convenceu a Força a ceder a data para a veiculação de uma campanha de Dia das Mães. Ela, porém, não contou que também iria usar o espaço para mostrar a importância da ampliação da licença para as mulheres e da criação do benefício aos homens. Desse modo, saiu uma propaganda em prol das licenças com selo do governo e tudo. E ainda contradisse o ministro da Casa Civil, Marco Maciel, que chegou a declarar à imprensa da época que o governo só tinha condição de dar uma semana a mais —bem diferente da ampliação para 120 dias que Schuma ajudou a concretizar.

Essa história está contada no episódio dois do podcast Jogo de Cartas, original da Deezer, produzido pela Rádio Novelo em parceria com o Instituto Update. O trabalho estreou em março, que também é marcado pelo mês de luta das mulheres.

Há 35 anos, o Lobby do Batom, um grupo de mulheres ativistas e legisladoras se mobilizou na "Carta das Mulheres Brasileiras aos Constituintes" para modificar a realidade --e emplacar reivindicações de equidade de gênero na Constituição de 1988.

No documento, idealizado entre 2.000 mulheres, os pedidos iam do aumento de direitos civis, econômicos e sociais; igualdade jurídica entre homens e mulheres; licença-maternidade de 120 dias; o direito de serem donas de suas próprias terras e a igualdade de direitos e responsabilidade familiar.