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Bolsonaro articula multidões em atos de 7 de Setembro para atacar pesquisas
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O presidente Jair Bolsonaro tem articulado diretamente com empresários e deputados federais e estaduais a ida de caravanas de apoiadores para os atos em São Paulo e Brasília no feriado de 7 de Setembro. Bolsonaro pretende dar uma demonstração de força semelhante à dos comícios da campanha eleitoral de 2018.
O objetivo é usar esses eventos para questionar a seriedade das pesquisas que apontam a sua queda de popularidade e a provável derrota na eleição presidencial do ano que vem. Quem conversa com o presidente ouve uma ladainha sobre institutos de pesquisa que estariam maquiando pesquisas, o que é mentira.
Ao longo deste ano, os atos da oposição reuniram mais gente do que as manifestações pró-governo. Bolsonaro quer virar esse jogo de imagens. Num momento de crescente isolamento político e econômico, com perda de interlocução no Supremo Tribunal Federal e no empresariado, ele planeja transformar os atos de 7 de Setembro em eventos de grande porte que permitam colocar em dúvida as pesquisas de opinião, como se elas estivessem sendo manipuladas para enganar a população.
Empresários de São Paulo têm recebido telefonemas do presidente e de deputados federais para que paguem caravanas à capital paulista e Brasília. Parlamentares que foram policiais têm pedido a PMs da ativa e aposentados que organizem viagens de pessoas dessas corporações aos atos de 7 de Setembro.
A estratégia é semelhante à de Donald Trump no ano passado, quando o então presidente americano fazia comícios no meio da pandemia para sinalizar ter maior apoio popular do que o adversário Joe Biden e colocar em dúvida a credibilidade dos levantamentos que apontavam favoritismo do democrata em relação ao republicano.
Trump dizia que as pesquisas apontavam vitória de Hillary Clinton em 2016, mas ele foi o eleito. Bolsonaro afirma que as pesquisas previram vitória de Fernando Haddad em 2018, mas ao final ele venceu o petista. Ou seja, as pesquisas seriam mentirosas. Hillary teve mais votos do que Trump, que venceu no Colégio Eleitoral devido às regras do sistema americano. Em 2018, as pesquisas apontaram corretamente a vantagem de Bolsonaro sobre Haddad na reta final da disputa.
A narrativa bolsonarista precisa falsear a realidade o tempo todo, exatamente como Trump fez. Bolsonaro está atrás de duas fotografias: encher de gente a avenida Paulista e a Esplanada dos Ministérios em 7 de Setembro. Essas imagens seriam provas de que ele teria o apoio do povo, permitindo entoar palavras de ordem, como a defesa da liberdade que estaria sob ameaça por uma suposta conspiração de ministros do STF em favor do favorito para vencer a eleição presidencial no ano que vem, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).
Empresários têm ajudado deputados federais e estaduais a alugar ônibus e pagar a alimentação de apoiadores do presidente para que compareçam a Brasília e São Paulo na terça-feira da semana que vem. O presidente faz convocações todos os dias em discursos e nas suas redes sociais para os atos.
A mobilização do presidente e aliados tem sido intensa. Manter coesa a sua base social para chegar ao segundo turno nas eleições do ano que vem é fundamental para Bolsonaro. Ele acredita que, num segundo turno contra Lula, poderia reacender o antipetismo que o ajudou a vencer em 2018.
Vocabulário bolsonarista
Nesse contexto, há um vocabulário bolsonarista usado pelo presidente e aliados especialmente contra Lula e o PT. Eles sempre falam de Cuba e Venezuela, dizendo que o PT defende ditaduras e quer implantar o comunismo no Brasil. A recente fala do ex-presidente petista em defesa da regulamentação da mídia é utilizada como uma evidência de uma suposta tentativa de acabar com a liberdade de expressão no país. O vídeo com as declarações de Lula circulou no fim de semana em redes sociais de empresários.
Bolsonaro também se diz vítima de uma ditadura da toga que o impediria de governar enquanto articula o retorno de Lula ao poder, mais uma de suas teorias conspiratórias.
A narrativa bolsonarista, sempre falsa, depende da vitimização de um presidente que lutaria contra tudo e todos. Bolsonaro se queixa de como é difícil se sentar na cadeira de presidente, para entoar o discurso de que faz sacríficio pela população. Trump dizia exatamente o mesmo.
Bolsonaro é o autoritário, mas acusa as instituições de tolherem sua liberdade de governar. Bolsonaro construiu um patrimônio à sombra das rachadinhas, mas afirma que os corruptos querem retomar o poder. Bolsonaro é quem convive mal com a imprensa, mas acusa o PT de ser quem deseja censurar a mídia. Bolsonaro usa o nome de Deus em vão, mas afirma que os comunistas querem acabar com a família e a liberdade religiosa no Brasil.
Nessa guerra cultural, entram repetecos dos ataques de 2018 à "ideologia de gênero" e às minorias que desejariam impor seus costumes à maioria conservadora e religiosa. São reedições das fake news semelhantes ao "kit gay" e à "mamadeira de piroca" da eleição passada.
Como Trump, Bolsonaro acusa os outros de serem o que ele é, o pior presidente da História do Brasil, um governante que matou mais brasileiros na pandemia com suas decisões negacionistas, um candidato a ditador que enfraquece a democracia e um manipulador do sentimento religioso da população. Se obtiver fotografias de multidões em São Paulo e Brasília, ele terá munição para alimentar a sua base fascista para manter a sua guerra de destruição das instituições.
Por último, o estímulo à violência da parte de seus apoiadores está no centro da organização dos atos da semana que vem. A fala sobre fuzil e feijão se encaixa nesse contexto. Bolsonaro quer intimidar opositores com a sua estratégia miliciana. Não é recomendável subestimar o plano presidencial para 7 de Setembro. Se sangue vier a ser derramado nas ruas na semana que vem, sabemos de quem será a responsabilidade.
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