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Leonardo Sakamoto

Com 11 em campo, debate em SP teve retranca, canelada e "cocô no chão"

Colunista do UOL

02/10/2020 03h04

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Com 11 candidatos à Prefeitura de São Paulo, mais o mediador no debate da TV Bandeirantes e um largo palco para garantir o distanciamento de 1,6 metro entre cada um deles, dava para fazer dois times e um joguinho na noite desta quinta (1). O que não dava é para debater direito a fim de permitir os eleitores escolher quem é a melhor pessoa para a cidade.

Celso Russomanno (Republicanos) e Bruno Covas (PSDB), à frente na disputa, jogaram recuados, adotando contra-ataques usando o PT. Apelaram até para informação falsa, dizendo que a gestão Haddad terminou com rombo.

No retrospecto, a tática do antipetismo funcionou nos campeonatos de 2016 e 2018, mas estamos em 2020. O jogador é outro - Jilmar Tatto, aliás, teve uma participação bem apagada nesta noite. O técnico - Lula - parece que está de férias da política. E parece que a torcida compartilha antipatia por outros times. Basta ver que mais gente votaria, com certeza, em um candidato apoiado por Lula (20%) do que por Bolsonaro (11%) e Doria (8%), segundo o Datafolha.

Então por que o antipetismo? Russomanno e Covas querem o apoio desse naco de torcida da direita para ir à final.

Torcida que também é disputada por Arthur do Val (Patriotas) e Joice Hasselman (PSL) - que, apesar de escanteados, mostraram a força da retórica de YouTube. Ela jogou pela direita conservadora, com a criação de uma "cristolândia" no lugar da "cracolândia"; ele, pela direita neoliberal, com a proposta do "Programa Jovem Capitalista". Ainda cravou no final uma frase sobre pessoas em situação de rua: "enquanto a gente debate aqui, tem gente na rua, fazendo cocô no chão".

Ambos tiveram desempenho melhor que Felipe Sabará (Novo) que, no auge, quase disse "Itaú" ao invés de "Anhangabaú".

Russomanno centrou seu esquema tático em "gosto de gente" e "sou amigo do Bolsonaro" - mostrando que o poder no Brasil é uma grande mesa de boteco de pós-jogo. E, provavelmente orientado pela equipe do presidente, propôs criar um auxílio emergencial em São Paulo e fez promessas à comunidade gamer. Deve ter fórum de chan que foi ao delírio.

Chegou ao limite de dizer que o presidente da República é o único que está fazendo algo contra a pandemia. Sim, usamos o VAR para verificar o lance e foi isso mesmo: carrinho dentro da área, sem bola, com as travas da chuteira direto na canela de 144 mil pessoas.

Chamado de "invasor" por vários dos adversários, o coordenador do MTST e candidato pelo PSOL, Guilherme Boulos, poucas vezes teve a posse de bola. Era evitado pelos demais. Um dos pontos altos, contudo, foram lances da disputa com Márcio França (PSB), seu concorrente direto pelo terceiro lugar na tabela do campeonato e que buscou mostrar um discurso moderado.

Boulos perguntou ao ex-governador o porquê dele ter dito que feminicídio não era questão de polícia em 2018. Foi acusado de fake news. Pediu então para a audiência procurar o tema no Google, fazendo com que a matéria da Folha sobre o assunto se tornasse a mais lida. O Google, aliás, foi um dos grandes destaques da noite, usado pelos candidatos e mostrando que tem futuro.

O deputado federal Orlando Silva (PC do B), desaparecido no começo, deu uma crescida no final, principalmente ao cutucar Arthur do Val, dizendo que havia no debate "um monte de herdeiros que abre a boca para falar sobre a geração de empregos, só que nunca bateu um prego numa barra de sabão".

Andrea Matarazzo (PSD), que foi para o ataque contra o tucanato, ouviu de Covas duas vezes que ele estava "amargo" porque foi preterido dentro do PSDB, na disputa à Prefeitura, em detrimento a João Doria, em 2016. E Marina Helou (Rede) ainda tentou fazer um lançamento do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, no colo de França - que fez o corta-luz e deixou a bomba ir para a linha de fundo.

A Globo desistiu de transmitir a fase de grupos e vai direto para a final. O SBT também. Temos pela frente Record, Rede TV, CNN e UOL/Folha - este último, fora da TV, terá menos candidatos e mais debate. Pois, com 11 congestionando o campo, pouco tempo para jogadas complexas e transmissão de caneladas curtas, vai sobrar apenas os fanáticos assistindo. Aquela coisa vistosa, de futebol arte? Esquece.