Quantas mortes terá custado a demora de SP em endurecer a quarentena?
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O governador João Doria (PSDB) anunciou o endurecimento da quarentena no município de São Paulo nesta segunda (30) - um dia após a recondução de seu correligionário Bruno Covas à prefeitura da capital. A taxa de ocupação de UTIs por covid já havia levado especialistas a recomendarem a ele a tomada de medidas restritivas imediatamente - o que o governador não fez. Decidiu esperar com base nos "dados" que tinha em mãos.
Como alertei no domingo, hoje seria o dia de saber em quais locais os gestores sujeitaram decisões de combate à pandemia às suas necessidades políticas. Ou seja, anúncios como esse já eram previsíveis. O que não faz com que sejam menos chocantes.
Para um governo que se gabou de ter sido um contraponto racional ao terraplanismo sanitário do presidente da República, e que realmente tomou medidas corretas enquanto o presidente se aliava ao coronavírus, é um tanto quanto constrangedor a percepção de que segurou ações impopulares para não afetar a votação de aliados.
Natural que uma parte da população esteja cansada do isolamento social e desrespeite regras de distanciamento. Da mesma forma, era esperado (infelizmente) que candidatos "flexibilizassem" as restrições por conta própria e se aglomerassem com seus eleitores.
Mas isso não dá a governadores e prefeitos autorização para agirem de forma irresponsável, colocando suas necessidades acima da qualidade de vida de milhões de pessoas. Mesmo diante do esperado impacto causado pelo endurecimento de uma quarentena - como a limitação do horário de bares e restaurantes, em meio aos dias quentes de um segundo turno.
O posicionamento do governador foi seguido pelo prefeito, que afirmou que não havia necessidade de retroceder na quarentena em sabatina ao UOL e à Folha de S.Paulo, na última quinta (26). Pregava a estabilidade da doença, apesar de a redução no número de leitos de UTIs vagos em hospitais privados e públicos apontarem outra coisa.
Ignorando o conselho de médicos e pesquisadores, Doria preferiu esperar esta segunda (30), quando já estava marcada uma revisão do Plano São Paulo, que classifica as regiões do Estado em fases quanto a níveis de abertura. Agora, passou a capital e outras regiões da fase verde para a amarela.
O governador e o prefeito vão dizer que esse questionamento é leviano, mas se não houvesse eleição neste momento, São Paulo teria retrocedido antes na flexibilização da quarentena?
Os mortos decorrentes desses dias que perdemos certamente não poderão responder.