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Dino: 'Direita venceu a esquerda nas eleições, mas Bolsonaro foi derrotado'

Do UOL, em São Paulo

30/11/2020 09h34Atualizada em 03/12/2020 18h13

O governador do Maranhão, Flávio Dino (PCdoB), avaliou hoje que, embora a direita tenha saído vitoriosa nas eleições municipais encerradas nesse domingo (29), o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) saiu derrotado, sendo parte do que ele chamou de "direita selvagem e anedótica".

"Se olharmos nacionalmente, não há dúvida que a direita venceu a esquerda", afirmou Dino. "Quando nós matizamos isso, olhamos as várias nuances que há no interior de cada campo político, vamos encontrar que o bolsonarismo, a antipolítica, coisas meio caricatas, anedóticas, que prevaleceram em 2018, não tiveram muito espaço em 2020", considera Dino, durante conversa com o colunista Leonardo Sakamoto no UOL Entrevista.

"Diria que essa face da direita brasileira, a face mais selvagem, bruta, violenta, anedótica, saiu derrotada. Como o Bolsonaro é a expressão disso, não há dúvida [de] que saiu derrotado", completou.

O governador do Maranhão apontou ainda que espera um "processo de decadência" do governo Bolsonaro —que, segundo ele, deve ir até 2022, quando ocorrerão as próximas eleições presidenciais. "É um governo desacertado, desorganizado, desorientado. Não existe gestão em nenhuma área, muito menos na econômica. Por isso, imagino que a força de atração do Bolsonaro é declinante. Ou seja, 2020, a meu ver, parte para um processo de decadência que irá até 2022", declarou.

Para ele, a tendência é que o presidente tente "colar ainda mais na direita tradicional". "Mal avaliado, acredito que não terá êxito nesse objetivo", completou o governador.

Esquerda não é "terra arrasada"

Na avaliação do governador maranhense, os resultados destas eleições municipais mostram também que a esquerda ainda existe e conseguiu manter influência em diferentes regiões do país.

"Temos no campo da esquerda um balanço que envolve a constatação de que estamos vivos, não é terra arrasada", afirmou. Para Dino, a esquerda consegui "polarizar" eleições importantes, como em São Paulo e Porto Alegre, onde as candidaturas de Guilherme Boulos (PSOL) e Manuela D'Ávila (PCdoB) conseguiram chegar ao segundo turno.

O governador destacou que, em ambos os casos, foi determinante a existência de uma espécie de aliança progressista para alavancar as candidaturas. No caso de Porto Alegre, Dino avaliou que Manuela acabou perdendo a disputa devido a uma união da direita contra a sua candidatura.

Dino destacou ainda que esse é um "retrato" da esquerda e afirmou que o PT continua a ser o partido nacionalmente mais forte dentro desse espectro político.

"Claro que, quando você vai esquadrinhar nosso campo político, vamos encontrar que o PT continua a ser o partido mais nacional. É importante lembrar isso, porque partido não é de cidade ou região", avaliou Dino, colocando partidos como o PDT e o PSB em posições "muito próximas" à do PT. "O PSOL e o PCdoB [estão] com êxitos mais pontuais, eu diria, menos nacionalizados".

União da esquerda

Dino citou as vitórias de Edmilson Rodrigues (PSOL), eleito prefeito de Belém, e de José Sarto (PDT), eleito prefeito de Fortaleza, para ressaltar a importância da união da esquerda nas eleições. As duas candidaturas receberam apoios de diferentes lideranças políticas já no primeiro turno.

"É preciso entender que continuamos numa ofensiva na direita, uma direita amplamente vencedora nas eleições municipais —nas suas várias facetas, porém amplamente vencedora. Então, temos que nos unir do lado daqui para poder enfrentar essa ofensiva", disse.

"Mesmo o resultado do Rio de Janeiro, o que aconteceu? Saiu PDT, PSB de um lado, PT, PCdoB do outro e PSOL com uma terceira candidatura. Ficamos fora do segundo turno. Poderíamos ter ido ao segundo turno, não fomos pela divisão. Essa é a questão principal", avaliou.

Formação de frente de esquerda para 2022

Dino disse não acreditar na formação de uma frente ampla, com presença de partidos de centro-direita junto à esquerda, para o primeiro turno das eleições de 2022. Mas defendeu a importância da união dos partidos da esquerda "para não correr o risco de ficar de fora do segundo turno".

"Miro o tempo inteiro na chamada frente ampla progressista em torno destes partidos que mencionei: PT, PSOL, PCdoB, PSB, PDT. Tentar juntar isso para a gente disputar o primeiro turno, para não ocorrer o risco de ficar de fora do segundo. Esse é o ponto: para limpar a mesa de mitificações, de que agora, A, B ou C vai sozinho redimir a esquerda. Esse é um erro gravíssimo, que pode conduzir a um desastre em 2022. Qual seria o desastre? Ficarmos fora do segundo turno", declarou.

O governador do PCdoB, que foi no domingo votar com uma camiseta "Lula Livre", reafirmou que não há como pensar nela sem a presença do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou do PT.

"É impossível construir um projeto vitorioso da esquerda brasileira se não partir da liderança do ex-presidente Lula. Não significa que ela seja suficiente. Não é, claro que não, mas não é dispensável, descartável", disse. "Nenhuma esquerda séria no Brasil pode partir dessa ilusão que vai construir um projeto vitorioso sem o PT".