Covid em alta somada à volta de outras urgências põe Samu em alerta em SP
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"Ficamos dois meses com atendimento quase residual de pacientes com covid. Agora, parece que a vida voltou ao 'normal' em São Paulo. Isso significa atender acidentes de trânsito e outras ocorrências de saúde e, ao mesmo tempo, os casos de covid, que voltaram a crescer."
A informação é de um dos médicos socorristas do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) ouvidos pela coluna.
A quantidade de casos e mortos relacionados à pandemia voltou a escalar no país, enquanto retornamos a índices pré-quarentena de isolamento social, seja por cansaço da população, seja por incentivo por parte do governo federal.
O resultado é que, além do aumento na ocupação de leitos de UTI em hospitais públicos e privados, os profissionais do Samu na capital e no interior também começam a sentir os efeitos. E temem que os problemas da vida "normal" somados aos da pandemia sobrecarreguem o sistema.
"Tivemos um aumento significativo de casos de AVC e de infarto. Provavelmente, são pessoas que ficaram sem acompanhamento ou relaxaram o controle nos últimos meses. A pandemia também alimentou o sedentarismo e, não raro, a alimentação ruim", afirma outra socorrista de um município do interior.
"Atender chamados sobre problemas represados de pessoas que não procuraram o serviço de saúde com medo da covid, mais os acidentes de trânsito, mais as doenças costumeiras, mais uma segunda onda não vai ser fácil, mesmo com todo o conhecimento que acumulamos desde o início", afirma outro socorrista.
Um médico que atende no Samu no litoral paulista desabafa: "Aqui a praia está lotada, como se não estivesse acontecendo absolutamente nada. Bares e restaurantes cheios, casas noturnas tentando vender ingressos para final de ano, feijoadas com música".
Com o aumento no fluxo de turistas, cresceu o número de atendimentos de um acidente costumeiro no verão: os afogamentos em municípios com praias. Vale ressaltar que o litoral paulista deve receber a visita para as festas do final do ano de quem viajaria para fora do país ou outros estados.
Ao mesmo tempo, a superlotação reduziu o número de acidentes de trânsito graves, por conta da redução da velocidade média dos veículos, avalia uma atendente. "Mesmo assim, acaba ocupando tempo do Samu, de raio-X, de médicos e enfermeiros."
Os socorristas ouvidos pela coluna afirmam que, ao contrário do primeiro momento da doença, quando sabíamos muito pouco sobre ela e quais seriam os tratamentos efetivos, agora há protocolos para manejar melhor a doença, compartilhados mundialmente e em tempo real.
Por outro lado, afirmam que a impressão é que uma parte da população perdeu o medo - e isso pode ser fatal.
"Atendemos uma ocorrência em uma região de bares na capital e ficamos parados um longo tempo devido ao trânsito causado pela vida noturna. Aglomerações de barzinhos, cheios de pessoas sem máscara. Acabou a quarentena, mas não avisaram ao vírus", reclama um dos socorristas.
"Um pouco de medo é bom. Não o medo que paralisa, mas o que te faz alerta para se prevenir e evitar o pior. Infelizmente, perdemos o medo."