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Leonardo Sakamoto

REPORTAGEM

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Brasileiros ganharam peso na pandemia, diz estudo com 14 mil participantes

Pratos de comida que doados pelo restaurante Mocotó na pandemia - Divulgação
Pratos de comida que doados pelo restaurante Mocotó na pandemia Imagem: Divulgação

Colunista do UOL

09/02/2021 16h32

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Há mais pessoas que ganharam peso do que as que perderam durante a primeira onda da pandemia de coronavírus, no ano passado, principalmente o grupo com até 11 anos de escolaridade. É o que apontam resultados de um estudo do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (Nupens).

O NutriNet Brasil comparou o peso corporal de 14.259 pessoas com mais de 18 anos antes do início da pandemia (entre 26 de janeiro e 18 de março) e cerca de seis meses depois (entre 14 de setembro e 19 de outubro).

Grávidas e mulheres com parto recente foram excluídas da pesquisa. Para ganho ou perda de peso foram consideradas variações iguais ou maiores que dois quilos. Cada participante declarou seu peso.

A prevalência de ganho de peso excedeu à de perda em todas as idades (19,7% a 15,2%, respectivamente), com exceção do grupo entre 55 e 64 anos, em que o ganho (14,3%) e a perda (14,6%) foram semelhantes.

Ser jovem, do sexo masculino ou contar com excesso de peso antes da pandemia foram fatores de risco tanto para o ganho quanto para a perda de peso.

Contudo, a escolaridade, não. O grupo com até 11 anos de estudo, que representa praticamente o tempo de duração do ensino básico, teve maior ganho de peso do que aquele com mais de 12 anos. O risco de ganho de peso entre quem tem até 11 anos de escolaridade com relação foi 30% maior em relação ao segundo grupo.

Acesso a menos alimentos frescos e mais ultraprocessados

Com os dados disponíveis, ainda não é possível apontar causas. Os pesquisadores avaliaram hipóteses para os resultados.

Analisam, por exemplo, que indivíduos mais escolarizados "podem ter desenvolvido comportamentos alimentares mais favoráveis durante a pandemia por disporem de maior tempo para preparar refeições ou mesmo por terem mais conhecimento sobre a importância da nutrição na defesa contra a covid-19".

Enquanto isso, avaliam que "pessoas com menor escolaridade podem ter tido menor acesso a alimentos frescos e/ou terem sido mais afetadas pela publicidade de alimentos não saudáveis no período".

E lembram que como grande parte dos brasileiros passou a ficar mais tempo em casa, isso também levou a mudanças em suas atividades físicas e no tempo de uso de televisão, celular e computador, o que pode levar a alterações no peso corporal.

"Precisamos de políticas públicas que melhorem o acesso à alimentação saudável. Neste momento de pandemia, isso inclui desde a retomada do auxílio emergencial para que as pessoas possam comprar alimentos, até o incentivo ao pequeno produtor e às feiras livres, que disponibilizam comida de verdade", afirmou à coluna Maria Alvim, pesquisadora do Nupens e do NutriNet.

"E a população precisa ter acesso à informação de qualidade para escolher, conscientemente, o que quer comer", avalia.

Alvim, também ressalta a necessidade de controle público da propaganda e do estímulo aos alimentos chamados de "ultraprocessados", que são aqueles em que a lista de ingredientes tem substâncias que não usamos para cozinhar e que utilizam produtos químicos que imitam características de comida - e que nem sempre são considerados saudáveis.

Produtos ultraprocessados valeram-se do prazo de validade estendido garantido por conservantes, que não são benéficos à saúde, para se destacar em um contexto de medidas de isolamento social.

Estudo já tem 89 mil participantes cadastrados

A pesquisa, a primeira a avaliar mudanças no peso corporal de brasileiros de todas as regiões do país durante a pandemia, contou com maior representação de mulheres e de indivíduos com alta escolaridade e residentes na região Sul e Sudeste do que o perfil sociodemográfico brasileiro. Portanto, os dados devem ser trabalhados com cuidado.

O estudo conduzido pelo Nupens, considerado um dos mais relevantes centros de pesquisa sobre nutrição humana do mundo, já conta com mais de 87 mil cadastrados em sua plataforma on-line, que respondem a questionários a cada três ou quatro meses.

Os responsáveis pretendem alcançar 200 mil até o final deste ano. O objetivo é identificar padrões de alimentação praticados pela população que protegem ou aumentam o risco de doenças crônicas não transmissíveis como obesidade, diabetes, doenças do coração e vários tipos de câncer.

A obesidade e doenças crônicas relacionadas a ela aumentam o risco de quadros mais graves de infecção pelo coronavírus. A obesidade, aliás, também é considerada uma pandemia no Brasil.