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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Governo Bolsonaro empurra Brasil à escuridão ao enterrar o Censo de 2021

Acervo IBGE
Imagem: Acervo IBGE

Colunista do UOL

23/04/2021 14h42

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O governo Jair Bolsonaro informou, nesta sexta (23), que o Censo de 2020, que já havia sido adiado para 2021 devido à pandemia, não será realizado neste ano. Talvez só em 2022. Ou após o fim da atual gestão, quando a realidade voltar a ser considerada elemento relevante para balizar a vida cotidiana.

A notícia de que o Censo foi posto em coma induzido foi dada pelo secretário especial de Fazenda do Ministério da Economia, Waldery Rodrigues.

O chefe dele, ministro Paulo Guedes, já havia demonstrado insatisfação com levantamento do IBGE logo após assumir o cargo. "Vamos tentar, pelo amor de Deus, simplificar", afirmou no dia 22 de fevereiro de 2019, sugerindo a diminuição do questionário. "Se perguntar demais você vai acabar descobrindo coisas que nem queria saber", disse.

O Congresso Nacional já havia aprovado, para este ano, um corte de mais de 90% no orçamento do Censo, inviabilizando-o. Havia esperança de que os recursos fossem recompostos, o que não rolou. A previsão era gastar R$ 2 bilhões em 2021 - o que já seria uma sombra da estimativa de R$ 3,4 bilhões de 2019. Naquela época, o valor foi desidratado e o número de questões, reduzido, como queria Guedes.

Como sempre digo aqui, o Brasil sempre produziu números embasados, nossos institutos têm renome internacional e os trabalhadores desses órgãos são de grande competência. Mas os últimos tempos têm sido sinistros para quem trabalha com levantamento de dados, uma vez que o governo, insatisfeito com a realidade, vem comprando brigas com ela. E dizendo que termômetros são culpados por febres.

Nesse campo, Bolsonaro já se lambuzou de tudo o que é jeito. Afirmou que a metodologia de cálculo de desemprego da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua estava errada; disse que tinha a "convicção" de que os dados de desmatamento da Amazônia do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) eram "mentirosos"; colocou sob desconfiança a contagem de mortos por covid-19. Tudo porque os números demonstram a incompetência de sua gestão.

Se um país não garante informações confiáveis sobre economia e outros aspectos da vida cotidiana, a fim de que pessoas, organizações e empresas tomem decisões baseadas na realidade, ele caminha no escuro. Isso acontece com mais frequência em governos pouco afeitos à democracia, pois assim podem adaptar a realidade às suas mentiras.

Ou vocês acham normal que veículos de comunicação precisem se juntar em um consórcio para apurar e divulgar à população os dados de mortes por covid-19 por que falta confiança e transparência nos dados do governo?