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Após sabotar quarentenas, Pazuello alega quarentena para não ir à CPI
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O general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, avisou que deve faltar à CPI da Pandemia, nesta quarta (5), porque teve contato com pessoas que testaram positivo para covid-19, segundo o presidente da comissão, senador Omar Aziz (PSD-AM). Isso mostra duas coisas: o treinamento feito pelo Palácio do Planalto para prepara-lo não deve ter funcionado muito bem e óleo de peroba é produto de primeira necessidade no governo federal.
O instinto é afirmar que a justificativa é uma mentira tosca para retardar o depoimento de alguém que, devido à sua incapacidade argumentativa, pode colocar o governo em maus lençóis na comissão. Afinal, ele foi o executor da sabotagem presidencial no combate ao coronavírus, peça-chave no ataque ao isolamento social, no atraso da compra de vacinas, na falta de oxigênio em Manaus, na promoção da cloroquina e do vermífugo.
Mas considerando que Pazuello não costuma seguir recomendações sanitárias contra o coronavírus, é bem provável que ele tenha tido mesmo contato com pessoas contaminadas. Sim, a oportunidade faz o covarde. A questão é que o general nunca se preocupou muito em infectar ou ser infectado, agindo como um centro dispersor de coronavírus. Mas, pela necessidade de ganhar tempo, agora demonstra se preocupar com o coletivo.
O uso do discurso de preocupação sanitária para retardar os trabalhos da comissão é semelhante ao que foi feito pelo senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ).
"O presidente Rodrigo Pacheco está errando, está sendo irresponsável, porque está assumindo a possibilidade de, durante os trabalhos dessa CPI, acontecerem mortes de senadores, mortes de assessores, mortes de funcionários aqui desta Casa, em função da covid, porque, em algum momento, as audiências, as reuniões vão ter que ser presenciais, no momento em que nem todos estão vacinados", afirmou na instalação da comissão no último dia 27.
Dias depois, nas manifestações que defenderam o autogolpe de Bolsonaro, neste sábado (1), o primogênito do presidente celebrou as aglomerações de apoiadores nas redes sociais. Isso só é contraditório se você acreditou nas palavras dele no Senado.
Pazuello nunca se furtou a ir a uma das Festas da Covid, aquelas aglomerações produzidas pelo seu chefe junto a apoiadores no auge da pandemia.
E mesmo sabendo que reinfecções são possíveis para quem já contraiu a doença, como ele, não só passeou recentemente por um shopping center, em Manaus, sem máscara, como ironizou a proteção ao ser questionado: "onde compra isso?"
A CPI da Pandemia tem o dever de remarcar o depoimento presencialmente em duas semanas, verificando se ele está realmente cumprindo uma quarentena e não aceitar o golpe da participação à distância. Os senadores precisam garantir que as cordas que controlam esse fantoche sejam cortadas.
Ele vai ganhar mais tempo para poder se preparar? Sim, vai. Mas nem os melhores profissionais de gerenciamenrto de crise podem fazer milagre diante da matéria-prima que têm nas mãos.
As ações de Pazuello e Flávio apenas reforçam o quão importante é a CPI, pois revelam um governo que sabota sistematicamente o "isolamento social", contribuindo com a morte de milhares, e só leva a ideia a sério quando é usada para garantir a tranquilidade de Bolsonaro.
Desejo que Pazuello não tenha contraído, novamente, o vírus, mesmo que o governo para quem trabalha não tenha desejado o mesmo para os brasileiros.