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Golpe de Bolsonaro levaria seus sócios no Congresso ao lixo da História
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Jair Bolsonaro levou uma chapoletada, por 23 a 11, na comissão especial que analisou a introdução do voto impresso nas eleições de 2022, como era previsto. Culpa o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Luís Roberto Barroso, pelo resultado, quando um dos grandes responsáveis foi o ministro da Defesa, general Braga Netto - que, com sua ameaça ao Congresso Nacional, enterrou a chance de aprovação na comissão.
Agora, os tutores do presidente na Câmara dos Deputados tentam provocar um tapetão e levar a matéria para ser analisada no plenário. Sob a justificativa de entregar alguma coisa para ele mostrar aos seus seguidores e cantar vitória, discutem um "meio termo" para acalmar os ânimos, informação trazida pela coluna Painel, da Folha de S.Paulo.
Como o presidente busca a aprovação do voto impresso não para ampliar a segurança das eleições, mas a fim de criar um elemento para tumultuar o país em caso de derrota, ou seja, em nome de uma tentativa de atacar as eleições de 2022, os tutores de Bolsonaro acabam trabalhando por um "meio golpe de Estado".
O contexto de caos tem sido produtivo para alguns. Enquanto o presidente ameaça embrulhar peixe com as páginas da Constituição, a Câmara aproveita para tocar boiadas ambientais, trabalhistas, eleitorais. Ou seja, Nero põe fogo e os representantes do povo atuam pela redução do patrimônio natural do país e da dignidade do trabalhador a cinzas. E, claro, para cruzar o Rubicão do bom senso com aberrações como o "distritão".
Avançar com uma Reforma Tributária parruda, com progressividade na cobrança de impostos sobre renda, que é bom, nada.
Se Jair Bolsonaro dedicasse o tempo que usa para minar a credibilidade do sistema eleitoral em medidas para desenvolver um projeto nacional a fim de reduzir os 14,8 milhões de desempregados, não precisaria se preocupar tanto em pavimentar um golpe de Estado em caso de derrota no ano que vem, pois sua popularidade seria maior. O que reforça que o único projeto que ele sabe tocar desde o primeiro dia no cargo é a sua permanência no poder.
O país não conta com um projeto nacional de geração de postos de trabalho, apenas como variações da malfadada "carteira verde e amarelo" - proposta que apresentou na eleição de 2018. Grosso modo, ela quer gerar empregos através da retirada de direitos. Uma reciclagem do conto do vigário da Reforma Trabalhista, de Michel Temer, que reduziu proteções à saúde e segurança dos trabalhadores, mas não teve impacto significativo na geração de vagas.
O que os líderes do centrão na Câmara querem é um Bolsonaro fraco o bastante para continuar sendo o seu poodle, mas que não se veja totalmente encurralado, sob o risco de se tornar incontrolável - o que seria péssimo para os negócios. Não apenas para o comércio de emendas e cargos, mas também para os toques de boiadas legais e infralegais. Então, buscam dar um pirulito para o menino Jair.
O problema é que a defesa da democracia não admite transigência. Qualquer concessão, neste momento, não é ser ponderado, mas oferecer apoio explícito ao comportamento golpista do presidente. Como forçar a barra na votação do voto impresso para que ele consiga o seu intento de cravar uma estaca no coração do processo eleitoral.
Acreditar que Bolsonaro ficará satisfeito pequenas concessões é ignorar todas as temporadas anteriores desta série de terror que somos obrigados a viver. O seu cotidiano é forçar as regras, de forma a esgarçar as instituições e avançar em seu intento. Com polícia, com milícia, com tudo.
Vale lembrar que ninguém aplica um golpe de Estado sozinho. A História tem um cantinho especial para os nomes daqueles que se omitiram, sendo sócios na empreitada. Pois "desembarcar" no dia D, na hora H será tarde demais.
Se ela vai registrar o nome de um procurador-geral da República, um presidente da Câmara dos Deputados e um presidente do Senado Federal daqui a alguns anos, depende só deles.