Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Governo festeja mês de queda no desmatamento após esconder ano de alta
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O governo Jair Bolsonaro esconde os dados de desmatamento na Amazônia que são ruins para a sua imagem e bate bumbo quando eles são favoráveis. O problema é que as informações negativas superam, e muito, as positivas. E mesmo as positivas são questionáveis.
Nesta terça (14), o ministro do Meio Ambiente, Joaquim Leite, celebrou o resultado do levantamento mensal do sistema Deter, que mostrou novembro com queda de 19% em relação ao mesmo período de 2021 e a menor área desmatada para um mês der novembro desde 2015, com 249 km². A redução teria puxado para baixo o crescimento total do desmatamento desde agosto.
O que ele não disse, contudo, é que dados do próprio Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espacial), responsável pelo Deter, mostram que a área coberta de nuvens (o que atrapalha a captação de imagens por satélite) foi a maior dos últimos quatro anos pelo menos. Fazer fanfarra com esse número e ainda mais no período do inverno amazônico, ou seja, no período de chuvas, é imprudência ou má fé.
Some-se a isso altos graus de cinismo. Cobrado diante da alta no desmatamento indicada pelo Deter em outubro deste ano, 5% acima da taxa de outubro de 2020, o mesmo Joaquim Leite afirmou, durante a COP26 que não havia acompanhado os dados do Inpe. Não respondeu perguntas de jornalistas sobre isso no evento.
Pior: o governo Jair Bolsonaro segurou a divulgação dos dados do Prodes, sistema mais preciso e que traz o consolidado anual de desmatamento, para que não fosse questionado pelo recorde de desmatamento da Amazônia dos últimos 15 anos durante a conferência da ONU sobre mudanças climáticas.
O Inpe inseriu o relatório no sistema no dia 27 de outubro, mas ele só foi divulgado ao público no dia 18 de novembro. A COP26 foi realizada de 31 de outubro a 12 de dezembro.
Os dados trouxeram mostra uma devastação de 13.235 km2 entre agosto de 2020 e julho de 2021, o que representa 22% de aumento em relação ao período anterior, o maior aumento em 15 anos.
Nesta divulgação do dado de novembro, o ministro do Meio Ambiente afirmou que ele reflete a integração entre a fiscalização e a polícia. "O governo federal está atuando contundentemente contra qualquer crime ambiental. Mais do que isso, junto com a PF e Força Nacional, estamos atuando de forma integrada e permanente no território", disse.
E o ministro da Justiça, Anderson Torres, fez coro ao colega, dizendo que isso é fruto do aumento da presença das forças policiais, citando o trabalho contra o garimpo ilegal e o aumento de investimentos.
Pelo que foi mostrado em números, não em discursos, até aqui, a meta de redução de emissões de carbono com a qual o Brasil se comprometeu na COP 26 será letra morta se o presidente da República continuar sendo Jair Bolsonaro.
Desde o início de seu mandato, ele tem enfraquecido as instituições de fiscalização, como o Ibama, o ICMBio e a Funai, protegendo madeireiros, garimpeiros e pecuaristas ilegais. É vergonhoso admitir para o mundo, mas grileiros de terra e invasores de territórios indígenas são a base de apoio do presidente do Brasil.
Tanto que não é segredo que Jair tem abertamente dito a eles que podem ficar tranquilos que seu governo garante a impunidade diante do desmatamento. E empunhando teorias da conspiração sobre a invasão da Amazônia por países estrangeiros, ele traz para o balaio um naco dos militares desconectado da realidade.
Não só. Em discurso na abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas, ele culpou os indígenas pelo fogo que consumiu trechos da floresta amazônica. As imagens das queimadas provocadas por produtores ilegais circularam pelo mundo, ajudando a nos elevar à categoria de párias.
Somente muitos números positivos, decorrentes de trabalho árduo na área ambiental após a saída de Bolsonaro irão mostrar ao mundo que mudamos. Isso não incluem coletivas à imprensa que brincam com os dados apresentando uma narrativa de fantasia.