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Leonardo Sakamoto

REPORTAGEM

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Atrás de Lula, Bolsonaro arma bomba eleitoral com gasolina, alerta senador

Outdoor criticando o presidente Jair Bolsonaro e o preço da gasolina é instalado em Belo Horizonte - Reprodução/Twitter/forabolsonarobh
Outdoor criticando o presidente Jair Bolsonaro e o preço da gasolina é instalado em Belo Horizonte Imagem: Reprodução/Twitter/forabolsonarobh

Colunista do UOL

08/02/2022 17h33

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"Durante três anos, Bolsonaro penalizou a população com um preço escorchante dos combustíveis. Agora, atrás de Lula nas pesquisas, ele quer reduzir esses preços à força, armando uma bomba fiscal eleitoral que vai explodir no colo do próximo governo. E, ao explodir, vai atingir a qualidade de vida da população."

A avaliação é de Rogério Carvalho (PT-SE), autor do projeto de lei que está sendo analisado pelo Senado para mudar a política de preços da Petrobras. Segundo ele, simulações apontam que, uma vez aprovado, os preços poderiam chegar a R$ 5, o litro de gasolina, e R$ 65, o botijão de gás de cozinha, mantendo o lucro da empresa em 50%.

"Se Bolsonaro realmente quisesse enfrentar a questão, bastaria abraçar nosso PL, que já foi aprovado pela Comissão de Assuntos Econômicos. Ele cria um fundo e um imposto para a exportação de óleo cru e fomenta o refino do petróleo aqui no Brasil", afirma.

Mas a Proposta de Emenda à Constituição que está sendo apoiada pelos aliados do presidente vai em outra direção, permitindo a redução de impostos sobre combustíveis e energia elétrica nos anos de 2022 e 2023 sem necessidade de compensar a perda de receitas.

Isso significa que mais de R$ 100 bilhões, que seriam destinados para financiar educação, saúde, segurança pública, geração de empregos, iriam evaporar feito gasolina ao sol.

A chamada "PEC Kamikaze", em alusão aos pilotos japoneses que jogavam com seus aviões contra navios inimigos quando seu país estava perdendo a Segunda Guerra Mundial, foi assinada pelo primogênito do presidente, senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) - o que é lido como apoio do Palácio do Planalto.

O ministro Paulo Guedes se colocou terminantemente contra, avisando que essa bomba vai explodir o dólar, os juros e a inflação. Mas o ex-czar da economia apita muito pouco em sua própria pasta neste ano eleitoral, tendo o poder se transferido para o centrão. Quem decide o que fazer com o dinheiro do país é o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), por exemplo.

Para Rogério Carvalho, Bolsonaro permitiu que o preço abusivo de combustíveis e do gás de cozinha impactassem diretamente na inflação, levando-a a dois dígitos no ano passado, e na taxa de juros do país, o que prejudicou principalmente os mais pobres. E após impor uma situação difícil, vende um projeto "eleitoreiro e irresponsável" como se fosse a única saída.

Na avaliação do senador petista, isso também demonstra "uma reiterada tentativa de Bolsonaro de responsabilizar os governadores por um problema que é do governo federal, uma vez que envolve a Petrobras". O presidente vem culpando os impostos estaduais pelo alta no preço da gasolina desde o ano passado. Mas se exime de responsabilidade sobre as instabilidades política e econômica.

Bolsonaro investiu em discursos e ações golpistas ao longo de 2021, tendo puxado manifestações contra o Supremo Tribunal Federal em 7 de setembro. Isso contribuiu com a alta da moeda norte-americana e, por conseguinte, com a disparada do preço dos derivados de petróleo.