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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonarismo critica viagem de Mario Frias e apoia ataque de Sérgio Camargo

Foto: Reprodução/Facebook
Imagem: Foto: Reprodução/Facebook

Colunista do UOL

13/02/2022 09h37

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Mario Frias, secretário nacional de Cultura, foi a Nova York encontrar um lutador bolsonarista gastando R$ 39,1 mil de dinheiro público em passagens e diárias. Sérgio Camargo, presidente da Fundação Palmares, afirmou que Moïse Kabagambe, congolês executado a pauladas no Rio, foi um "vagabundo morto por vagabundos", culpando a vítima por sua própria execução.

As duas polêmicas envolvendo assessores de Jair Bolsonaro ganharam tração nas redes nesta semana, causando reações diferentes entre os seguidores mais fiéis do presidente. O que ajudou a explicar aos leigos as prioridades e visões de mundo do bolsonarismo.

Enquanto Camargo ganhou apoio do bolsonarismo-raiz em mensagem em grupos de aplicativos de mensagens por, como disse um dos comentários, "restabelecer a verdade", Frias cancelou a viagem que faria à Rússia na comitiva do presidente por orientação do Palácio do Planalto. E ainda teve que fazer uma live, neste sábado (12), para tentar explicar o porquê da ida aos EUA.

A secretaria de Cultura disse, em nota, que o governo pediu a redução da comitiva ao país presidido por Vladimir Putin. Mas a verdade é que pegou muito mal junto aos seguidores do presidente ele ter torrado uma grana do contribuinte para ir conversar com o mestre em jiu jitsu Renzo Gracie sobre assuntos que poderiam ter sido tratados via zoom.

"Se eu quisesse ficar na mamata, ficava na vida que eu tinha. E não pra vir pra cá e ficar levando pedrada", afirmou Frias, mostrando que as críticas pesaram.

A diferença entre os dois casos explicita o conjunto de valores dos setores mais radicais, para quem Camargo e Frias sistematicamente se reportam com suas polêmicas.

O bolsonarismo-raiz não só aceita como quer ver o governo federal minimizando o racismo - até porque acredita na doida ficção de que o verdadeiro racismo no Brasil esteja sendo perpetrado por negros contra brancos. Isso faz parte do pacote da guerra cultural da extrema direita, que perdeu o seu guru, Olavo de Carvalho, recentemente ao que tudo indica para a covid-19.

Mas não admite que o governo que foi eleito para acabar com o que chamam de "mamata" e com a "corrupção" atue da mesma forma que gestões anteriores. A percepção de que Bolsonaro e seus assessores esbanja dinheiro público aflige esses fãs e seguidores. Menos por uma questão ética, mas porque isso atinge o argumento que eles sistematicamente adotam ao falar com parentes, colegas e amigos, de que Jair é diferente dos outros.

Sabemos que o histórico do Patriarca das Rachadinhas aponta para outro lado, mas o que importa é que a narrativa seja protegida a todo o custo de se dissolver diante dos fatos.

A ala olavista do governo tem sido fundamental para ajudar Bolsonaro a manter o apoio do público mais radical. Esse grupo responde por mais da metade dos 23%, 24% de votação espontânea que o presidente atinge nas pesquisas eleitorais. Manter esse pessoal ao seu lado e mobilizado é a certeza de que não haverá terceira via que tire seu lugar no segundo turno em outubro.

A própria viagem de Jair à Rússia dialoga com esse público interno, tentando mostrar que o presidente brasileiro não é o pária internacional que, de fato, é ao ser tratado como uma ameaça climática e sanitária global por conta do salto no desmatamento da Amazônia e da sabotagem do combate à covid-19.

A viagem tem o mesmo DNA dos discursos que ele profere nas aberturas das Assembleias Gerais das Nações Unidas, a cada mês de setembro, em Nova York. Aquelas bizarrices não são direcionadas a interlocutores no exterior ou ao conjunto dos brasileiros, mas a seus seguidores. Ele governa para esse grupo, não para todos nós.

Ruídos como a viagem de R$ 39,1 mil de Mario Frias não ajudam Jair a manter esse pessoal coeso. Pelo contrário, atrapalham. Como resolveu trocar Moscou por Nova York, tornou-se momentaneamente radioativo e terá que ficar no Brasil para não contaminar o chefe.