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Bolsonaristas resgatam Adélio para esconder os 4 anos da morte de Marielle
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Para tentar encobrir a repercussão dos quatro anos de impunidade da execução da vereadora Marielle Franco e de seu motorista Anderson Gomes, nesta segunda (14), as redes sociais e aplicativos de mensagens bolsonaristas estão bombando o nome de Adélio Bispo - responsável pelo atentado contra o então candidato Jair Bolsonaro em setembro de 2018.
O nome dele chegou a ser um dos assuntos mais tuitados nesta manhã, sendo postado inclusive como resposta a publicações cobrando solução para o caso de Marielle. Não conseguiu rivalizar, contudo, com o nome da vereadora.
O caso de Marielle segue em aberto, de forma vergonhosa. Os ex-policiais Ronnie Lessa, vizinho do presidente da República, e Élcio de Queiroz foram presos acusados de serem os executores e aguardam julgamento. Cinco delegados já estiveram à frente da investigação mas, até agora, os mandantes não foram apresentados, nem o porquê das mortes. Suspeita-se do envolvimento de milícias e políticos.
Já o caso de Bolsonaro foi resolvido pela própria Polícia Federal que investigou e apontou Adélio Bispo como alguém com transtornos mentais que planejou e esfaqueou Jair em um ato solitário. Por decisão da Justiça, ele está internado por tempo indeterminado.
Como os fatos apurados pela PF não são interessantes ao bolsonarismo, que insiste em um complô, o presidente, seus familiares e apoiadores têm espalhado uma teoria da conspiração sem fundamentos de que houve uma trama de esquerda para executá-lo - teoria que vem sendo repetidamente resgatada neste ano eleitoral.
Essas postagens do bolsonarismo, em uma data simbólica como a do aniversário da execução de Marielle, tentam substituir o nome da vereadora pelo do presidente como a principal vítima de um atentado político não resolvido no Brasil - por mais que, repito, todos já saibam quem o atacou e, no caso dela, a polícia não tenha apontado um responsável.
Ou seja, até na morte, o bolsonarismo tenta roubar o protagonismo de uma mulher negra, LGBTQIA+, de origem pobre.
Uma das fontes para a paranoia do bolsonarismo contra Marielle é o próprio presidente da República. E não apenas porque milícias, grupos de policiais criminosos por ele incensados, podem ser os mandantes do crime. Há processos psicanalítico e eleitoral envolvidos.
"Quando levei a facada, eles não falaram nada. Não vi ninguém da Folha falando 'quem matou o Bolsonaro?' Pelo contrário, levo pancada o tempo todo. Se for pegar o número de horas que a Globo fez para Marielle e no meu caso, acho que dá 100 para um, mas tudo bem", disse ele, em 26 de maio de 2020, em uma clara demonstração de ciúmes.
Primeiro, é necessário lembrar a Bolsonaro que ele não morreu - apesar de sua inação na pandemia, na geração de empregos e no combate à inflação apontarem um vácuo no Palácio do Planalto. Segundo, houve grande repúdio nos grandes veículos de imprensa ao atentado que sofreu. Terceiro, a PF chegou à conclusão de que Adélio agiu como um lobo solitário contra ele, mas a morte de Marielle ainda não chegou a uma solução.
Desde seu assassinato, Marielle vem sendo alvo do ódio nas redes sociais e aplicativos de mensagens da extrema direita, o que piora a cada 14 de março.
Mentiras, como ela ter sido financiada pelo Comando Vermelho ou casada com o traficante Marcinho VP, foram bombadas por grupos que militam contra a esquerda, sendo compartilhadas até por políticos e magistrados. Memes sobre a execução da vereadora ainda são recorrentes em grupos bolsonaristas.
No último Dia de Finados, nomes de alguns estabelecimentos listados no aplicativo iFood foram alterados para "Marielle Franco Peneira", entre outros. A empresa afirma que isso ocorreu a partir da conta de um funcionário de uma prestadora de serviços, que tinha permissão para ajustar informações cadastrais.
Os conteúdos foram replicados à exaustão nas mesmas redes bolsonaristas que, nesta segunda (14), repetem que a vereadora teve o que mereceu.