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Bolsonaro usa 'tática do doido' para fingir que não há corrupção no MEC
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A profusão de prefeitos que denunciaram pastores cobrando pedágio para que verbas públicas fossem liberadas no Ministério da Educação torna impossível Jair Bolsonaro dizer que não há corrupção na pasta. Mas ele continua repetindo isso num caso clássico de uso da 'tática do doido'.
Todos vocês a conhecem porque vimos isso na infância. Após uma criança espatifar um vaso no chão, ela jura que não foi ela, independente de ter sido um descarado flagrante. Ou terceiriza a culpa para o gato, o cachorro, o amiguinho. Ou pior ainda: atesta que ali não jaz um vaso quebrado.
O presidente a usa com frequência na esperança de que uma mentira contada várias vezes seja absorvida como verdade. Não pela maioria da sociedade, que acha um insulto à sua inteligência o uso dessa tática, mas por seus seguidores já predispostos a isso. Pesquisa Datafolha, divulgada nesta sexta (25), afirma que 17% da população acredita em tudo o que diz Jair. Tudo.
Após o jornal O Estado de S.Paulo revelar o esquema dos pastores e a Folha de S.Paulo mostrar o próprio ministro da Educação dizendo que a prioridade era atender os amigos do pastor Gilmar Santos a pedido do presidente, Jair disse, na terça (23), que o seu governo está há "três anos e três meses sem qualquer denúncia de corrupção nos ministérios". Assim, na cara dura, sem corar as bochechas.
Dias depois, em sua live semanal, chamuscou-se ao dizer que "boto minha cara no fogo pelo Milton".
O caso é escabroso. Prefeitos estão vindo a público contar que pastores cobravam propina em espécie, em barra de ouro de um quilo e através da compra de bíblias para garantir acesso ao governo e aos seus recursos. O dinheiro seria usado para construir igrejas. E, consequentemente, votos para o presidente.
Esse escândalo, nunca é demais lembrar, não é só de Milton Ribeiro, mas de Jair Bolsonaro. O pastor Gilmar Santos tem, publicamente, a simpatia da primeira-dama, Michelle, a gratidão do primogênito, Flávio, e acesso ao próprio presidente antes mesmo do atual ministro assumir a pasta. Ribeiro estava, ao que tudo indica, cumprindo ordens - coisa que o governo também se faz de doido e tenta ignorar.
O cheiro de sangue na água atiçou parte do centrão, que já tem o controle do fundo da educação, mas quer ficar com o orçamento do ministério inteiro. Bolsonaro resiste por um rosário de razões: trocar ministro a esta altura é confissão de culpa em um caso sensível envolvendo corrupção e evangélicos; a disputa entre aliados pela pasta pode levar a mais sangue na água; Ribeiro vem atendendo às necessidades ideológicas do presidente sem o estardalhaço chamativo de Abraham Weintraub; Jair gosta dele pessoalmente, mas também sabe que trair um aliado fiel pode dar dor de cabeça.
Diante disso, vai enrolando, mesmo com o risco do caso causar um impacto à sua imagem.
Pesquisa Quaest, divulgada no dia 16, mostra que entre os que consideram a corrupção o principal problema do país, Bolsonaro é apontado como o melhor candidato, seguido por Lula. Apesar de Moro focar sua campanha até agora no combate a esse crime, ele fica só em terceiro.
Mesmo com a profusão de casos de corrupção durante seu governo, como os pedidos de propina para compra de vacinas contra covid-19 no Ministério da Saúde ou os gastos de milhões de reais de dinheiro público para que ele pudesse passar férias, o presidente convenceu uma parcela da população que é honesto. Considerando que a mesma pesquisa aponta Lula como o melhor nome para resolver a economia e gerar emprego, Jair tem que se agarrar no que tem.
A aposta de que não só o seu rebanho, mas uma parcela da população vai cair na 'tática do doido' é arriscada. Mas como tem funcionado até agora, ele vai segurando seu ministro e os pastores pendurados em ambos.