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Brasil colhe bomba em comício após Bolsonaro semear intolerância
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Uma bomba caseira foi lançada contra o palco do ato de Lula no Rio de Janeiro, nesta quinta (7). Ninguém se feriu. No mês passado, um drone atacou um ato do petista em Uberlândia (MG), lançando um produto químico contra moscas sobre os presentes. Não por falta de aviso, a violência política está escalando com o processo eleitoral. E se nada for feito, começaremos a ter mortes.
O presidente Jair Bolsonaro, que sofreu um abominável atentado, em setembro de 2018, deveria ser o primeiro a condenar ações como essas, pedindo à sua militância que não use de violência no processo eleitoral. Infelizmente, ele age no sentido oposto, alimentando a intolerância.
Essa não é uma violência em que um político diz: "vá e jogue uma bomba", mas em que cria o ambiente para que isso seja feito.
Bolsonaro e apoiadores, como políticos, religiosos fundamentalistas e comunicadores, dizem que não incitam a violência contra outras pessoas. Podem não ser suas mãos que lançam a bomba ou seguram a arma, mas é a sobreposição de seus discursos ao longo do tempo que distorce a visão de mundo das pessoas comuns e torna o ato de atacar banal.
Suas ações e regras redefinem, lentamente, o que é moralmente aceitável, visão que depois será consumida e praticada por seus seguidores. Estes acreditam estarem fazendo o certo, agredindo e matando, quase em uma missão civilizatória. Ou divina.
E o que seus discursos afirmam? Basicamente, a somatória deles nos últimos anos fez com que seus seguidores acreditassem que 1) há um complô da Justiça Eleitoral e da esquerda para fraudar as eleições; 2) caso ele não seja declarado vencedor, o povo deve fazer de tudo para que ele permaneça no poder; 3) Armas são o último recurso para o "cidadão de bem" fazer valer a sua vontade; 4) TSE e STF representam o mal e precisam ser combatidos.
O senador Flávio Bolsonaro, coordenador da campanha de seu pai à reeleição, já avisou, em entrevista ao jornal O Estado de S.Paulo, no dia 30 de junho, que eles não teriam controle sobre um hipotético levante de seguidores contra o resultado das eleições. Mais do que tirar o seu da reta, é um aviso de que isso pode acontecer.
Defendeu que Donald Trump não empurrou seus seguidores a invadir o Congresso (apesar de ele ter, de fato, empurrado) e que Bolsonaro não dará um "comando" nesse sentido. E, logo depois, lançou mais dúvidas sobre o processo eleitoral.
Nas redes sociais, a campanha bolsonarista diz que Lula não pode sair às ruas. Quando há atos públicos com a presença do líder petista, contudo, ataques são perpetrados por simpatizantes do presidente. Logo depois, postam nas redes que isso é a prova de que Lula não é bem quisto pela população. Ou seja, criam a "profecia" e fazem questão de cumpri-la para provar seu ponto.
Com ou sem tentativa de golpe por parte do presidente da República se perder as eleições, o mês de outubro já é uma tragédia anunciada pela escalada de violência. O temor é que, além de ataques ao próprio candidato petista e à militância, teremos outros como o do músico Moa do Katendê, que votou em Fernando Haddad e foi morto no dia do primeiro turno de 2018 após uma discussão sobre política em Salvador.
Para evitar isso, líderes políticos precisam melhorar o ambiente tóxico. E Bolsonaro deveria frear aqueles que atiçou, adotando um discurso de paz, não de guerra. O que, claramente, não deve acontecer. O presidente quer e precisa dessa violência para manter o engajamento de seus seguidores.
Essa violência, disseminada, também ataca com fezes e ovos o carro do juiz que ordenou a prisão do ex-ministro Milton Ribeiro no curso da investigação da Polícia Federal sobre corrupção na pasta de Educação de Bolsonaro.
Mesmo que as instituições façam o seu papel, punindo, com rigor, todo caso de violência política e publicizando os envolvidos, a intolerância já foi semeada em grande escala pelo bolsonarismo. E ele fará orgulhosamente a colheita dela daqui até o outubro.