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O milagre dos pastores do ouro, apoiados pela chapa Bolsonaro e Braga Netto
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A Casa Civil da Presidência da República, então comandada pelo general Braga Netto, pediu para que o Ministério da Educação atendesse o pastor Arilton Moura, em janeiro de 2021, conforme e-mail revelado pela Folha de S.Paulo, nesta sexta (8).
Soma-se a isso, o já icônico aúdio do então ministro da Educação Milton Ribeiro afirmando que "foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim" a demanda por acolher as necessidades do pastor Gilmar Santos e de seus "amigos" prefeitos, interessados em recursos públicos.
Moura e Santos integravam o "gabinete paralelo" montado no MEC, segundo revelou o jornal O Estado de S.Paulo. Para tanto, cobravam propina em dinheiro, barras de ouro e até impressão de bíblias.
Não era novidade que os religiosos visitaram dezenas de vezes o Palácio do Planalto desde que Jair assumiu o cargo - pedido do jornal O Globo, via Lei de Acesso à Informação, mostrou que eram figurinhas fáceis na Vice-Presidência, na Secretaria de Governo, no Gabinete de Segurança Institucional, na Casa Civil. Mas não se sabia o que faziam por lá. Até que o e-mail veio à tona.
A relação do pastor com Bolsonaro, vale lembrar, é anterior à chegada de Milton Ribeiro ao Ministério da Educação, em julho de 2020, como pode se constatar por declarações de gratidão do próprio senador Flávio Bolsonaro. A pergunta é se ela se manteve depois que o pastor Milton foi para o sacrifício, demitindo-se para preservar o chefe.
Qual o milagre que Arilton Moura e Gilmar Santos conseguem operar para ter, intercedendo a seu favor, nomes como o do presidente da República e o de Braga Netto, que, além de já ter comandado a Casa Civil e a pasta da Defesa, é hoje o virtual pré-candidato a vice de Bolsonaro nas eleições?
Se você é estudante e quer conseguir a atenção do Ministério da Educação para uma demanda justa (mais professores, reformas nas escolas, currículo decente, merenda insuficiente, falta água, luz, internet), precisa juntar-se a outros milhares e irem protestar na rua sob o risco de levar borrachada da polícia ou respirar gás lacrimogênio.
Os pastores, não. Eles tinham atendimento vip. Por quê?
Seja qual for o motivo, ele é grande o suficiente para que o presidente da República tenha se arriscado a interferir em uma investigação da Polícia Federal sobre a corrupção no MEC para alertar Milton Ribeiro que ele poderia ser alvo de operação. Gravações de conversas do ex-ministro e de sua família reforçam a suspeita.
Considerando todas as denúncias, há elementos mais do que suficientes para sustentar uma Comissão Parlamentar de Inquérito para entender por que o MEC foi sequestrado por pastores evangélicos que cobravam propina e que eram próximos ao presidente da República. Mas também por que o então-ministro chefe da Casa Civil, Braga Netto, pediu (e cobrou) que o MEC atendesse os religiosos. E, claro, qual a razão de uma investigação assustar tanto Jair que, ao que tudo indica, baixou a mão peluda sobre a PF.
A CPI do MEC foi aberta, mas sua instalação deve acontecer apenas após as eleições. Não só porque uma parte do Senado está defendendo Jair, mas porque está protegendo a si mesmo. Afinal, se for aberta a caixa preta do bilionário Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), vai aparecer impressão digital de muita gente que terá dificuldade de explicar isso em ano eleitoral.