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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula dá troco no bordão 'E o PT?' ao comparar Mensalão com Bolsolão no JN

Reprodução/TV Globo
Imagem: Reprodução/TV Globo

Colunista do UOL

26/08/2022 08h06

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"Você acha que o mensalão, que tanto se falou, é mais grave do que o orçamento secreto?" Na entrevista que concedeu ao Jornal Nacional, na noite desta quinta (25), Lula aproveitou uma pergunta sobre como garantir governabilidade sem compra de votos no Congresso Nacional para defender que as denúncias de corrupção sobre seu adversário são bem piores do que aquelas que recaíram sobre ele.

Dessa forma, deu o troco em Jair Bolsonaro, que sistematicamente retruca "E o PT?", quando questionado sobre qualquer coisa.

Apesar de escândalos, como os que envolvem pastores amigos do presidente que cobraram propina em barras de ouro e em bíblias para facilitar a prefeitos acesso ao caixa do Ministério da Educação, o presidente tem se esforçado para vender seu governo como imune à corrupção. Sua propaganda eleitoral, que começa nesta sexta, repisará esse ponto, dizendo que roubalheira é coisa dos governos petistas.

Na entrevista, Lula chamou de "excrescência" o orçamento secreto (ou seja, o sistema de emendas de relator que repassa bilhões de forma anônima a parlamentares que votam com o governo), apelidado de "Bolsolão", revelado por investigação do jornal O Estado de S.Paulo.

As denúncias de compra de votos de parlamentares, durante o primeiro governo do petista, teriam movimentado cerca de R$ 102 milhões. Como o mundo não gira, mas capota, o principal denunciante do mensalão foi o então Roberto Jefferson (PTB), que foi condenado e preso por participar do esquema, ressurgiu, tornou-se feroz aliado de Bolsonaro, e hoje concorre à Presidência da República, apesar de estar em prisão domiciliar por ataques a instituições democráticas.

Já o duto de abastecimento da base bolsonarista no Congresso gastou bilhões nos últimos anos, custará R$ 16 bilhões só neste ano e já tem reservado R$ 19 bi para 2023 - independentemente de quem ganhe.

O petista considera que esse processo extrapolou a garantia de apoio parlamentar e representa usurpação de poder.

"Acabou o presidencialismo, o Bolsonaro não manda nada. O Bolsonaro é refém do Congresso Nacional. O Bolsonaro sequer cuida do orçamento, quem cuida é o Lira. O ministro liga para ele, não liga para o presidente. Bolsonaro parece o bobo da corte", afirmou.

Lula disse que conversaria com os deputados e senadores para mudar essa situação - o que, sabemos, não é tão simples. Por que alguém que tem uma galinha dos ovos de ouro toparia se desfazer da ave? Essa é a razão, aliás, do apoio do centrão a Bolsonaro, um presidente enfraquecido que aceitou a capitulação para evitar que qualquer um dos mais de 150 pedidos de impeachment começasse a tramitar.

Para tanto, o petista elencou os governadores como seus aliados nesse processo, ao citar que eles também estão reféns das emendas secretas. "Antigamente o deputado ia conversar com o governador para fazer aplicação de verba. Hoje, os deputados não conversam mais. Tem deputado liberando 200 milhões, 150 milhões, 100 milhões. Isso é um escárnio. Isso não é democracia."

E aponta que vai trabalhar para eleger deputados e senadores "com outra cabeça". Apesar de a necessidade de renovação frente a um Congresso que vende voto ser indiscutível, é pouco provável que ocorra uma mudança profunda na próxima legislatura exatamente porque os atuais parlamentares contam com benefícios trazidos pelo orçamento secreto para garantir a sua reeleição. Nesse sentido, é Lula que conta com o ovo ainda na galinha.

Por fim, ele também deixou claro que nenhum presidente governa sem estabelecer relação com o Congresso, mas que o centrão não é um partido, e, portanto, se eleito, conversará com partidos. E, se desvios de conduta ocorrerem, punirá os envolvidos.