Topo

Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Com alto preço dos alimentos, Lula mantém fortaleza de votos entre pobres

Lula ficou estacionado em 45% e Bolsonaro subiu dois pontos, segundo o Datafolha -  Reprodução/Montagem
Lula ficou estacionado em 45% e Bolsonaro subiu dois pontos, segundo o Datafolha Imagem: Reprodução/Montagem

Colunista do UOL

09/09/2022 21h17

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Pesquisa Datafolha, divulgada nesta sexta (9), mostrou que não fez muita diferença Bolsonaro avisar que é imbroxável no 7 de setembro. Com o preço dos alimentos nas alturas, o presidente não consegue roubar votos de Lula entre os mais pobres, que veem o governo como impotente para melhorar suas vidas.

No levantamento geral, ele reduziu em mais dois pontos a diferença que com o petista, indo a 34%, enquanto o adversário segue com 45%.

Boa parte da responsabilidade por isso é que Lula mantém uma fortaleza de votos entre quem ganha até dois salários mínimos - que, segundo o Datafolha, representa mais da metade da população. De 18 de agosto, primeira pesquisa após o Auxílio Brasil de R$ 600 começar a ser pago, até agora, Lula oscilou de 55% para 54% entre esse grupo, enquanto Bolsonaro foi de 23% para 26%. A margem de erro é de dois pontos.

Entre quem recebe o benefício, 56% estão com Lula e 28%, com Bolsonaro - números que não variaram nos dois últimos levantamentos.

Nesta sexta, o IBGE divulgou que o Brasil teve deflação de 0,36% em agosto, porém os alimentos continuaram subindo, registrando 0,24% de alta. No mês passado, também houve deflação, mas a comida ficou 1,3% mais cara.

O leite longa vida caiu 1,78%, mas ainda acumula alta de 60,81% nos últimos 12 meses. Tanto que, para muitas famílias virou produto de luxo, sendo trocado por soro de leite ou água.

Isso mostra que o pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600 ainda não se traduziu em votos para o presidente como ele esperava ao buscar a aprovação da PEC da Compra dos Votos.

É possível inferir, baseado nos números do Datafolha, que os mais pobres ainda não tiveram a chamada percepção coletiva de melhora da qualidade de vida.

Explico: não é a chegada dos R$ 600 às contas individuais dos beneficiários que muda o voto, mas as famílias sentirem que a vida delas e de sua comunidade está de fato melhor.

O que inclui pagar as dívidas com a mercearia, ter geladeiras mais cheias, poder dar um dinheiro para os filhos comprarem um sacolé, tomar uma cerveja com os amigos no domingo. E, ao que tudo indica, isso ainda não ocorreu.

A sociedade sentiu a queda no preço da gasolina, causada pela redução do ICMS (quando o Congresso tirou à força recursos de educação, saúde e segurança nos Estados para baratear os combustíveis). Mas os mais pobres, que têm nos alimentos seu principal gasto, não comem gasolina.

O governo festejou a alta no PIB de 1,2% no segundo trimestre. Mas esquece que não importa o tamanho do PIB mas o conforto que ele proporciona. E a quem.

A questão aqui é de timing, ou seja, quando os eleitores mais pobres vão sentir os alimentos serem mais acessíveis - aquele momento em que a queda dos preços se encontra com os R$ 200 a mais, fazendo diferença no carrinho de compras.

O presidente tenta empurrar a resposta para isso para outubro, contando com a melhora da economia e o pagamento de uma terceira parcela do auxílio.

Como já disse aqui antes, existe um eleitor atraído tanto pela segurança material do legado de Lula quanto pelo discurso de costumes e comportamento de Bolsonaro. Devido aos altos preços dos alimentos, é provável que esse público se conecte mais ao discurso do petista, que adota uma campanha baseada na lembrança de como era a vida em seu governo. A história da picanha e da cerveja em seu governo.

Caso os preços caiam, esse público pode ficar mais aliviado com o futuro e se conectar com os discursos de Bolsonaro, que poderá, assim, roubar votos do petista. A questão para tudo isso é tempo, que o presidente tem cada vez menos.