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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ipec mostra que Bolsonaro candidato sofre com peso do Bolsonaro presidente

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Imagem: REPRODUçãO

Colunista do UOL

19/09/2022 22h41

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A pesquisa Ipec, divulgada na noite desta segunda (19), mostra que Bolsonaro vem sendo um estorvo para Bolsonaro. Ou seja, o presidente Jair impede que o candidato Jair melhore sua intenção de voto, principalmente entre os mais pobres.

O governante vem despejando diariamente ataques contra seu adversário no rádio, na TV, nas redes sociais e aplicativos de mensagens. Mesmo assim, a rejeição a Lula, que era de 36% na pesquisa Ipec de 5 de setembro, caiu para 33% nesta segunda (19). Enquanto isso, a do presidente foi de 49% para 50%. A margem de erro é de dois pontos.

No final das contas, Lula oscilou positivamente de 46% para 47% e Bolsonaro manteve os 31%. Significa que o petista é um teflon e nada gruda nele? Não, na verdade, a culpa é de Jair, o presidente.

Esses números estão diretamente relacionados à outra questão, sobre a avaliação do governo. Os que consideram a atual administração ruim ou péssima passaram de 43% para 47% no mesmo período. Já os que a consideram ótima ou boa permaneceram nos mesmos 30%.

Qual o contexto disso? O IBGE divulgou que o Brasil teve deflação de 0,36% em agosto, porém os alimentos continuaram subindo, registrando 0,24% de alta. Em julho, também houve deflação, mas a comida ficou 1,3% mais cara.

Por exemplo, no mês passado, o leite longa vida caiu 1,78%, mas ainda acumula alta de pornográficos 60,81% nos últimos 12 meses. Tanto que, para muitas famílias virou produto de luxo, sendo trocado por soro de leite ou água.

O alto patamar do preço dos alimentos impacta especialmente os mais pobres, que são a maioria do eleitorado.

Entre quem ganha até dois salários mínimos, Lula oscilou três pontos para cima, entre 12 de setembro e agora, indo de 55% para 58%, enquanto Jair passou de 24% para 20%. E entre quem ganha de um a dois salários, Lula passou de 49% a 51% e Bolsonaro de oscilou de 28% a 27%.

Isso mostra que o pagamento do Auxílio Brasil de R$ 600 ainda não se traduziu em votos para o presidente como ele esperava ao buscar a aprovação da PEC da Compra dos Votos. É possível inferir, baseado nos números do Ipec, que os mais pobres ainda não tiveram a chamada percepção coletiva de melhora da qualidade de vida. Pois não é a chegada dos R$ 600 às contas individuais dos beneficiários que muda o voto, mas as famílias sentirem que a vida delas e de sua comunidade está de fato melhor.

Outras pesquisas vêm mostrando que a população já entendeu que Lula e não Bolsonaro o mais capaz de cumprir a promessa de manter o Auxílio Brasil nesse valor. Com os preços nas alturas e a percepção de que ele é o mais apto a ajudar os vulneráveis, o petista mantém uma fortaleza de votos entre quem ganha até dois salários mínimos.

Enquanto isso, o presidente tenta empurrar a eleição para outubro, contando com a melhora da economia e o pagamento de uma terceira parcela do auxílio.

Existe um eleitor atraído tanto pela segurança material do legado de Lula quanto pelo discurso de costumes e comportamento de Bolsonaro. Devido aos altos preços dos alimentos, esse público está se conectando mais ao discurso do petista, que adota uma campanha baseada na lembrança de como era a vida em seu governo.

Nesse sentido, não adianta Bolsonaro lacrar afirmando que o preço da gasolina em Londres é mais cara que no Brasil, tentando enganar em cima de quem não sabe o que é poder de compra. A sociedade sentiu sim a queda no preço da gasolina por aqui, causada pela redução do ICMS (quando o Congresso tirou à força recursos de educação, saúde e segurança nos Estados para baratear os combustíveis).

Mas, para azar de Jair, os mais pobres, que têm nos alimentos seu principal gasto, não comem gasolina.