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Leonardo Sakamoto

REPORTAGEM

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Bolsonaro ressuscita promessa de 2018 ao falar de 13º para mulheres pobres

Colunista do UOL

04/10/2022 11h27

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Ao afirmar que instituirá a 13ª parcela para mulheres que recebem o Auxílio Brasil a partir do ano que vem, Jair Bolsonaro (PL) ressuscita uma promessa de campanha que já tinha feito em 2018 e que, hoje, não está em vigor.

Naquele momento, o então candidato Bolsonaro prometeu pagar o 13º a todos os beneficiários do Bolsa Família, não apenas às mulheres. Isso veio como resposta às acusações de que suas declarações (ver abaixo) e as de seu então candidato à vice, general Hamilton Mourão, indicariam que ele colocaria um fim ao programa.

Em 15 outubro de 2019, ele, de fato, assinou a medida provisória número 898 para garantir o pagamento de uma 13ª parcela. Porém, sua validade era apenas para dezembro daquele ano.

Tanto que, em dezembro 2020, não houve esse tipo de pagamento sob a justificativa de que estava sendo transferido o auxílio emergencial. Não só isso como houve uma suspensão no pagamento do benefício voltado à sobrevivência na pandemia entre o final de dezembro de 2020 e abril de 2021, momento em que as mortes escalaram para mais de 4 mil por dia.

E, em dezembro de 2021, já com o nome de Auxílio Brasil, o benefício também não contou com uma 13ª parcela.

Após as urnas se abrirem, no último domingo (2), e Lula despontar com 48% enquanto Bolsonaro marcou 43%, o presidente começou a disparar promessas para mulheres e a fatia mais pobre da sociedade, grupos em que ele conta com bem menos apoio que o petista.

Além da promessa eleitoral de que quer implementar o 13º para mulheres, Bolsonaro antecipou o pagamento da parcela deste mês do Auxílio Brasil e do Auxílio Gás para antes do segundo turno. O desembolso, que terminaria um dia após a votação, agora acabará cinco antes.

Metade (47%) dos beneficiários do Auxílio Brasil está no Nordeste, onde Lula teve 11 pontos a mais que ele - ou 12,9 milhões de votos de vantagem.

Antecipação de pagamento pode confundir beneficiários

A coluna conversou com assistentes sociais que acompanham a implementação do auxílio em dois estados do Nordeste e ouviu reclamações sobre a estratégia de antecipação do pagamento.

Para eles, como se trata de um benefício usado, principalmente, na compra de alimentos, o respeito à periodicidade é importante a fim de que as famílias se programem para evitar deixar períodos do mês descobertos. Como a antecipação de uma semana vale apenas para outubro, parte delas pode passar um período mais longo sem o recurso em novembro.

Também criticam que as constantes mudanças no programa geram instabilidade ao cotidiano dos servidores públicos. Lembram que, para ajudar a tirar famílias da pobreza, não basta apenas transferir renda, mas deve haver um acompanhamento que fica prejudicado com alterações de última hora.

Anúncios de aumento de recursos, decididos por necessidades eleitorais e que não dialogam com as gestões estaduais e municipais, acabam gerando, segundo eles, filas na rede de atendimento de uma população que ouviu a promessa de chegaria mais dinheiro às suas mãos. Esses técnicos lembram que a política pública não acompanha o ritmo do marketing eleitoral.

Também destacaram à coluna que enquanto o governo aumentou os valores para a transferência de renda, ou seja, a entrega de dinheiro direta, deixou em descoberto o orçamento para garantir a prestação de serviços.

Um dos mais afetados é o Sistema Único de Assistência Social (Suas), responsável pelo atendimento aos cidadãos em situação de vulnerabilidade social e pela estrutura que garante o funcionamento de programas sociais.

Bolsonaro já disse que beneficiários de auxílios 'não sabem fazer quase nada'

Antes de descobrir os benefícios eleitorais da transferência de renda, o presidente Jair Bolsonaro criticava o programa Bolsa Família.

"O Bolsa Família é uma mentira, você não consegue uma pessoa no Nordeste para trabalhar na sua casa. Porque se for trabalhar, perde o Bolsa Família", afirmou em entrevista à Record News, em 2012.

"O cara tem três, quatro, cinco, dez filhos e é problema do Estado, cara. Ele já vai viver de Bolsa Família, não vai fazer nada. Não produz bem, nem serviço. Não produz nada. Não colabora com o PIB, não faz nada. Fez oito filhos, aqueles oito filhos vão ter que creche, escola, depois cota lá na frente. Para ser o que na sociedade? Para não ser nada", disse em entrevista ao documentarista Carlos Juliano Barros, em 2015.

Mesmo depois de eleito, ele continuou repetindo esse discurso.

"Não tem como tirar o Bolsa Família do pessoal, como alguns querem. São 17 milhões de pessoas que não têm como ir mais para o mercado de trabalho. Com todo o respeito, não sabem fazer quase nada", explicou, em outubro de 2021, em entrevista à Rede TV.

O Auxílio Brasil, sucessor do Bolsa Família, atendeu 20,6 milhões de famílias, representando, 53,9 milhões de pessoas, com um benefício médio mensal de R$ 607,52, em setembro deste ano. O valor total repassado nesse mês foi de R$ 12,5 bilhões.

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