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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Bolsonaro tenta fugir de culpa por genocídio yanomami com tática 'E o PT?'

Criança é tratada para desnutrição: Ação pró-garimpo de Bolsonaro fomentou genocídio - Urihi Yanomami
Criança é tratada para desnutrição: Ação pró-garimpo de Bolsonaro fomentou genocídio Imagem: Urihi Yanomami

Leonardo Sakamoto

Colunista do UOL

29/01/2023 07h26

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Sentindo que vai se formando um consenso de que suas ações e omissões representaram uma tentativa de genocídio dos yanomamis, Bolsonaro se pronunciou nas redes sociais e resgatou a velha tática "E o PT?"

"A verdade Yanomami: nunca um governo dispensou tanta atenção e meios aos indígenas como Jair Bolsonaro", tuitou ele, neste sábado (28), trazendo um link para um relatório de uma CPI no Congresso concluída em 2008, ou seja, durante o segundo governo Lula, sobre desnutrição infantil em territórios indígenas.

Detalhe que o epicentro dos problemas era Mato Grosso do Sul e Maranhão naquela época. A fome não era um problema sistêmico para os yanomamis, como afirmou ao jornal Folha de S.Paulo o seu líder, Davi Kopenawa. E o poder público agia contra a fome enquanto Bolsonaro a incentivou ao estimular a invasão da terra indígena por garimpeiros e desmobilizar a fiscalização. Sim, tivemos um presidente que intencionalmente agiu contra um povo inteiro.

Ou seja, a postagem é uma nuvem de fumaça produzida pelo ex-presidente para que seu rebanho possa responder às discussões no grupo de zap da família.

Sem contar a hipocrisia de Jair. Uma das soluções para a fome indígena é avançar nas demarcações de territórios - coisa que Jair prometeu não fazer de jeito nenhum e cumpriu. Além de garantir mais acesso de saúde aos indígenas - coisa que Jair se negou a fazer até durante a pandemia de covid-19.

Como resultado, temos uma crise humanitária sem precedentes, com 570 crianças de menos de cinco anos mortas em quatro anos de seu governo, segundo levantamento do portal Sumaúma. Segundo a nova presidente da Funai, Joenia Wapichana, em entrevista ao UOL, esse número já cresceu com 100 novos casos.

Nenhum governo vergonhosamente garantiu o total cumprimento dos direitos dos povos indígenas, ressalte-se. A diferença com Bolsonaro é que ele tinha um projeto e impôs a eles um ultimato: ou se aculturavam e liberavam suas terras para serem exploradas por garimpeiros, madeireiros e fazendeiros ou morriam de fome, de doença, à bala. Dessa forma, retomou o genocídio de onde a ditadura militar havia parado.

A colheita de mortos a partir da situação semeada e adubada por ele aumenta a chance de ser punido por esse genocídio. Talvez não no Brasil, que ainda engatinha no respeito aos direitos de povos e comunidades tradicionais, mas fora.

"Nunca um governo dispensou tanta atenção e meios aos indígenas como Jair Bolsonaro." Num ponto, ele está certo. Ele tinha verdadeira fixação.

Jair já disse que indígenas são "fedorentos", "animais em zoológico", mandou eles "comerem capim", afirmou que "cada vez mais são seres humanos iguais a nós" - ou seja, um dia chegam lá. A sua verborragia violenta produziu provas contra ele, ajudando a expor esse projeto genocida de tomada de terras. Nenhum mandatário chegou perto de dar tanta atenção negativa quanto ele.

Tanta dedicação merece ser reconhecida. Pelo Tribunal Penal Internacional, em Haia.