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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Problema das escolas não é detector de metal, mas falta de água e banheiro

Sala de aula em Buriti (MA) - Avener Prado/Folhapress
Sala de aula em Buriti (MA) Imagem: Avener Prado/Folhapress

Colunista do UOL

15/04/2023 17h14

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Pressionados pelo pânico após os ataques a escolas, parlamentares estão discutindo detectores de metal, altura de muros, catracas e sistemas de reconhecimento facial. Tratar do assunto dessa forma pode ajudar a mostrar serviço aos eleitores, mas nem resolverá a questão dos ataques, nem os problemas da educação que atingem milhões, como a falta de banheiros, de água, de internet.

O Brasil tem cerca de 190 mil escolas e pouco mais de 20 ataques com feridos nas últimas duas décadas. A chance de os filhos de alguém estudarem em um local que foi alvo de agressão é muito baixa. Contudo, o mesmo não pode ser dito da chance de eles frequentarem uma escola sem lugar para poderem fazer suas necessidades fisiológicas mais básicas.

De acordo com o Censo Escolar da Educação Básica 2021, o Brasil tem 5,2 mil escolas públicas sem banheiros, 3,5 mil sem abastecimento de água e 8,1 mil sem água potável.

O pânico que tomou as redes sociais e os aplicativos de mensagens após os recentes ataques a escolas faz com que os potenciais agressores pareçam numerosos. Mas o número deles é diminuto, como vêm tranquilizando os pesquisadores e as forças de segurança que monitoram esses grupos. Boa parte das ameaças que estão circulando, aliás, nem têm origem nos grupos de jovens de extrema direita, mas são fruto de molecagens irresponsáveis de adolescentes que querem pregar peças ou desejam cancelar aulas.

No curto prazo, ações mais efetivas passam pela imprensa evitar circular imagens e identidade dos criminosos para impedir sua mitificação; pelas plataformas removerem conteúdos de promoção de violência de suas redes sociais; por forças de segurança continuarem desbaratando tentativas de ataques; e por nós mesmos não contribuirmos com a desinformação, nem criarmos pânico.

Para além disso, o poder público terá que melhorar as estruturas de atendimento à comunidade escolar, com destaque para a ação de psicólogos, o treinamento de professores, os acolhimentos dos medos e traumas principalmente neste pós-pandemia e a identificação e o acompanhamento de estudantes com problemas. Isso sem contar a promoção de uma cultura de paz e de diálogo, ao invés de ações em nome do armamentismo e da violência.

Até porque, quando não são armas, podem ser facas e machadinhas. Ou gasolina. Ou um pau colhido no jardim da escola, como temos visto em outras partes do mundo. Mesmo se houvesse dinheiro para detectores de metal em todas as unidades de educação, eles não seriam efetivos.

É importante ações que realmente garantam a segurança da comunidade escolar e não medidas para eleitor ver. Mas tão importante quanto é não esquecer que o grande problema da educação no Brasil é que temos uma educação por construir.