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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Lula muda preço de combustíveis e mostra que não estava mentindo na eleição

Colunista do UOL

16/05/2023 10h14

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Para surpresa de ninguém, a Petrobras anunciou sua nova política de preços, cumprindo uma das conhecidas promessas de campanha de Lula. Você pode discordar da mudança. Mas é essa proposta que foi a mais votada nas eleições. Democracia é isso, o contrário é bolsonarista vandalizando o Palácio do Planalto, o Congresso e o STF.

Com a alteração, divulgada nesta terça (16), outros fatores além do preço internacional do petróleo passam a ser considerados para a formação do valor cobrado pelos combustíveis ao consumidor final, como custos e concorrência locais. A empresa também anunciou que, a partir desta quarta, o litro do diesel para as distribuidoras cairá R$ 0,44, o da gasolina, R$ 0,40, e o do quilo do gás de cozinha, R$ 0,69.

Na prática, a companhia criou um colchão interno para evitar repasses constantes decorrentes da oscilação do dólar e do preço lá fora - reivindicação de setores econômicos que precisam de um mínimo de previsibilidade para fazer seu planejamento. E, claro, dos consumidores.

Lula prometeu durante a campanha que mudaria a política da Petrobras. Colocou isso como a diretriz número 58 do seu plano de governo: "O país precisa de uma transição para uma nova política de preços dos combustíveis e do gás, que considere os custos nacionais e que seja adequada à ampliação dos investimentos em refino e distribuição e à redução da carestia".

Repetiu a promessa várias vezes, em entrevistas, debates, palanques. Por exemplo, ao UOL, em 27 de julho do ano passado, disse que a atual política de preços é "para agradar aos acionistas em detrimento de brasileiros". Ele prometeu fazer mudanças para que o preço seja calculado em função dos custos nacionais "porque produzimos em real, pagamos salário em real".

Ainda assim tem gente que ficou chocada com o anúncio desta terça. Apostavam que eram capazes de forçá-lo a desistir da ideia.

Lula precisa compor com outras forças políticas para poder governar - prova disso é que o novo pacote de regras fiscais, apresentado pelo ministro Fernando Haddad, desagradou setores do próprio PT e aliados da esquerda. Isso não significa, contudo, que o presidente tenha que fazer o oposto àquilo que prometeu aos brasileiros na campanha.

Um governo de frente ampla e de diálogo com o mercado para mostrar seriedade não precisa do enorme estelionato que representaria ignorar a promessa feita à população sobre os combustíveis. Da mesma forma, há quem defenda que o seu governo não revise a Reforma Trabalhista, para fortalecer sindicatos e mudar regras que fragilizaram as proteções aos trabalhadores, ignorando o que prometeu nas eleições.

Todo governo frustra seus eleitores - e certamente não será diferente com este. Mas o pessoal que defende a manutenção da política anterior achava o quê? Que Lula daria uma banana aos eleitores apenas 135 dias após ter assumido o poder em um assunto tão sensível à classe média?

Ironicamente, a política de paridade ao preço em dólar surgiu exatamente de um estelionato eleitoral. Na campanha de 2014, essa não era uma promessa da chapa Dilma Rousseff e Michel Temer à reeleição. Pelo contrário, a candidata rejeitou à equiparação. Mas, após sofrer impeachment, a medida foi implementada por seu sucessor - que, por ter sido eleito na mesma chapa, tinha o compromisso com as mesmas pautas.

A petista cometeu erros na gestão dos preços dos combustíveis, mas a administração Temer deu uma banana ao eleitorado. Entre uma coisa e outra, havia outras possibilidades - que não foram debatidas exaustivamente em público. Pois a questão não é apenas se a política é boa ou ruim, mas o que a democracia decidiu.

A política de paridade vem sendo boa para acionistas com lucros multibilionários que não se traduzem em investimentos suficientes na empresa, nem em melhoria da qualidade de vida da população, mas em gordos dividendos (aliás, seria ótimo se fosse obrigatório que todo analista que fale de economia explicite ao pé de seus comentários se possui ações da Petrobras, como alguns veículos exigem de forma voluntária...) E, ao mesmo tempo, gerou crises com caminhoneiros, problemas para setores econômicos e aumentou nosso custo de vida.

Buscar saídas que corrijam os problemas da formação de preço é fundamental. Respeitar projetos que saíram das urnas, também.

Observação: Este colunista não possui ações da Petrobras.