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Leonardo Sakamoto

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Coronel prova na CPMI que militares bolsonaristas são corajosos só no zap

Colunista do UOL

27/06/2023 13h13

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Em um patético depoimento na CPMI dos Atos Golpistas, nesta terça (27), o coronel Jean Lawand Júnior reforçou a percepção de que militares bolsonaristas são corajosos em conversas do WhatsApp, mas covardes à luz do dia.

Tratando os deputados e senadores como otários, ele disse que as mensagens que enviou ao tenente-coronel Mauro Cid, então faz-tudo de Jair Bolsonaro, pressionando o colega a incentivar o chefe a dar um golpe de Estado, eram, na verdade, para "apaziguar" o Brasil.

"Afirmo aos senhores que em nenhum momento falei sobre golpe, atentei contra a democracia brasileira ou quis quebrar, destituir, agredir qualquer uma das instituições", disse ele na CPMI. Os diálogos ocorreram no final do ano, quando Lawand também era subchefe do Estado Maior do Exército.

"Cidão, pelo amor de Deus, cara. Ele dê a ordem, que o povo está com ele. Acaba o Exército Brasileiro se esses caras não cumprirem a ordem do Comandante Supremo", disse ele ao tenente-coronel.

"Se o EB [Exército Brasileiro] receber a ordem, cumpre prontamente. De modo próprio o EB nada vai fazer, porque será visto como golpe. Então, está nas mãos do PR [presidente]" também afirmou, "Se a cúpula do Exército não está com ele, da Divisão para baixo está. Assessore e dê-lhe coragem. Pelo amor de Deus."

Ou seja, ele diz que nunca disse o que efetivamente disse com medo de ser expulso da corporação ou até mesmo preso após ter perdido um posto nos Estados Unidos por conta das revelações de suas articulações golpistas.

Lawand mostra-se, dessa forma, alinhado ao próprio discurso de Bolsonaro, que, agora, nega o golpe três vezes até o galo cantar. Alega que suas mentiras contra as instituições e o sistema eletrônico de votação, que mobilizaram milhares de pessoas a tentarem um golpe em Brasília, eram apenas "sugestões".

"É justo cassar os direitos políticos de alguém que reuniu embaixadores? Não é justo falar [que] atacou a democracia", disse Jair nesta segunda (26), referindo-se à micareta golpista na qual juntou representantes de outros países no Palácio do Alvorada para atacar o sistema eleitoral do país usando, para isso, recursos públicos. "Não podemos aceitar passivamente no Brasil que possíveis críticas ou sugestões de aperfeiçoamento do sistema eleitoral seja tido como ataque à democracia", afirmou.

O problema para Lawand é que essa tática não funciona. Tanto que Jair está prestes a se tornar inelegível em julgamento pelo TSE e pode ser preso por incitar o golpe de Estado.

É um alívio saber que a maioria da cúpula das Forças Armadas não divide as mesmas opiniões com esses oficiais bolsonaristas. Imagine se a covardia demonstrada em não assumir o que disse se traduzir em comportamento no campo de batalha? O Suriname conquistaria o Brasil em dois dias, caso quisesse nos invadir.

E, como bom bolsonarista, Lawand jogou alguém ao mar para se salvar. Neste caso, o próprio Jair. "Uma palavra do Bolsonaro, uma manifestação dele faria com que aquelas pessoas nas ruas retornassem aos seus lares e retornassem às suas vidas", afirmou. A palavra, como sabemos, não veio. Ou seja, Jair é que não quis.