Bloqueio a Gaza leva hospitais ao colapso e aumento de mortos, diz entidade
Após Israel aprofundar o cerco a Gaza, como resposta pelas centenas de mortes deixadas pelos ataques do grupo Hamas, médicos e organizações de saúde no território palestino apelam à comunidade internacional para que pressione o governo de Benjamin Netanyahu a deixar passar medicamentos e combustíveis. Alertam para uma catástrofe humanitária sem precedentes.
Israel vem bombardeando Gaza e os moradores esperam uma nova invasão pelo exército a qualquer momento — cerca de 100 mil soldados israelenses foram reunidos na região. Enquanto isso, um bloqueio de produtos e de energia foi instituído, o que afeta o Hamas, mas principalmente civis.
Haneen Wishah, gerente de projetos da Al Awda, organização que administra hospitais e serviços de emergência para feridos em Gaza, deu uma entrevista por telefone à coluna na manhã desta segunda (9). Ela conta que há pouco tempo para evitar um colapso no atendimento.
A situação aqui está se deteriorando. Aviões atingiram 130 locais na Faixa de Gaza nas últimas três horas. O número de mortos e feridos, incluindo crianças, está escalando. E devemos ficar sem medicamentos, produtos hospitalares e sem poder realizar operações nos hospitais por conta do bloqueio imposto.
"A saúde nunca foi simples porque estamos sob um cerco israelense que já dura 17 anos, com ataques periódicos. Agora, tudo está piorando", diz. Segundo ela, civis estão chegando feridos dos bombardeios, mas a estrutura, que já era insuficiente, irá ficar praticamente paralisada.
A coluna conversou rapidamente com um médico, que pediu para não ser identificado. Ele estava correndo entre pacientes que chegavam de escombros em um hospital. Questionado quando ele poderia atender com mais calma, disse que tal situação, infelizmente, não ocorrerá tão cedo.
O governo Netanyahu também interrompeu o fornecimento de energia a Gaza. Haneen afirma que, com isso, sobrou uma usina solar em funcionamento — além de geradores a combustível. "Temos quatro horas de energia por dia, por enquanto. Isso dificulta a realização de cirurgias, que são extremamente necessárias agora."
Ela alerta para uma catástrofe humanitária, caso os postos de controle não sejam parcialmente reabertos. "Estamos apelando à comunidade internacional para que pressionem Israel a abrir as fronteiras apenas para medicamentos e combustíveis para os geradores. Não temos estoques para uma semana. Pessoas que poderiam ser salvas, vão morrer", afirma.
Também pede doações desses produtos para garantir a continuidade do atendimento humanitário.
Outra alternativa em negociação é convencer o Egito, que fica na fronteira sul e também é inimigo do Hamas, a permitir a passagem de produtos.
Neste sábado (7), um dia após os 50 anos do início da guerra árabe-israelense do Yom Kippur, o Hamas lançou uma ofensiva, com milhares de foguetes e realizando ataques com suas milícias em território de Israel.
'Hoje, nenhum lugar é seguro em Gaza'
Haneen ressalta que o funcionamento dos hospitais e dos centros de atendimento de emergência é um paliativo, principalmente se uma invasão maciça se confirmar.
"O que estou falando diz respeito à disponibilidade de medicamentos e de combustível, de funcionalidade dos hospitais. Mas eles estão bombardeando loucamente por toda parte. Hoje, nenhum lugar é seguro em Gaza, nem mesmo hospitais, nem abrigos, nem residências."
Mas há lugar mais perigosos do que outros. Ela mora no centro da cidade de Gaza e evacuou a sua casa com seus filhos porque os moradores foram alertados pelo Exército israelense a deixar o local — um sinal de que a região é um dos alvos prioritários.
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Quero receber"Coletei as memórias preciosas que eu tinha na casa e com meus cinco filhos fugimos para outro lugar em Gaza. Fiz isso porque tenho medo por eles", afirma. "Se eu estivesse sozinha, nem pensaria em sair, mas os vi chorando e gritando." Milhares de palestinos deixaram suas casas e estão em escolas e outros edifícios que, segundo ela, também foram alvo dos mísseis israelenses.