Hang, citado em pressão por golpe, foi condenado por coação pró-Bolsonaro
![Dono das lojas Havan, Luciano Hang, e Jair Bolsonaro Dono das lojas Havan, Luciano Hang, e Jair Bolsonaro](https://conteudo.imguol.com.br/c/parceiros/52/2022/08/23/dono-da-havan-luciano-hang-e-o-presidente-jair-bolsonaro-1661275849688_v2_900x506.jpg)
Apontado pelo delator Mauro Cid como um dos empresários que se reuniram com Bolsonaro para pressionar por um golpe de Estado, Luciano Hang, dono das lojas Havan, foi recentemente condenado a pagar mais de R$ 85 milhões por intimidar empregados a votarem em Jair na eleição presidencial de 2018.
Um áudio do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do então presidente da República, foi enviado ao comandante do Exército, general Freire Gomes falando da visita, segundo a Polícia Federal. Estiveram presentes, além de Hang, Meyer Nigri (Tecnisa) e Afrânio Barreira (Coco Bambu), entre outros.
Segundo Cid, os empresários pressionaram Bolsonaro para que o Ministério da Defesa fizesse um relatório duro, com o objetivo de "virar o jogo", sobre o sistema de votação e o resultado das eleições. A mensagem serviria para convencer o general de um contexto favorável ao golpe.
Hang e Nigri negaram qualquer ação contra as instituições democráticas.
Essa é a segunda vez em menos de um mês que Hang é citado em um caso de pressão em prol de Bolsonaro. A outra foi a decisão do juiz Carlos Alberto Pereira de Castro, da 7ª Vara do Trabalho de Florianópolis, que condenou a Havan e Hang por coação de empregados em 22 de janeiro. À decisão, cabe recurso.
De acordo com a ação civil pública movida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), o proprietário teria promovido campanhas políticas em prol do candidato com o envolvimento obrigatório de empregados em "atos cívicos" na empresa.
Ele é acusado de ameaçar fechar lojas e dispensar empregados caso Fernando Haddad (PT), adversário de seu candidato, ganhasse a eleição. Além disso, os trabalhadores teriam sido constrangidos a responder enquetes internas promovidas pela Havan em seus terminais de computadores, informando em quem votariam - num momento em que já era conhecida a preferência do dono da empresa.
Em nota enviada ao UOL, o empresário Luciano Hang classificou como "descabida e ideológica" a decisão.
"É um total absurdo. Inclusive, na época dos acontecimentos foram feitas diversas perícias nomeadas pela própria Justiça do Trabalho e nada ficou comprovado, não houve irregularidades. O juiz deveria seguir as provas, o que não fez, seguiu a sua própria ideologia. Mais uma vez o empresário sendo colocado como bandido", afirma.
A Justiça do Trabalho calculou o valor a ser pago como multa e indenização da seguinte forma: a) R$ 500 mil para cada loja da Havan existente na época por descumprimento de cautelar que impedia o assédio eleitoral; b) danos morais coletivos de R$ 1 milhão (a ser revertido para o Fundo Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente de SC); c) dano moral individual de R$ 1 mil para cada empregado contratado até outubro de 2018; d) juros e correção monetária.
Com isso, o valor calculado pela Justiça é de mais de R$ 85 milhões, sendo que o total ainda pode sofrer alterações. A decisão determina que a sentença seja cumprida dez dias após esgotados todos os recursos. E obriga Havan e Hang a se absterem de tentar influenciar o voto de seus funcionários.
O Ministério Público do Trabalho recebeu 3.505 denúncias de assédio eleitoral, em 2022, um número mais de 17 vezes maior que o total de 2018. A instituição diz que denunciou cerca de 2,5 mil empresas e instituições públicas, firmou 487 termos de ajustamento de conduta, ajuizou 93 ações e fez 1.498 recomendações.
O grande número de denúncias de assédio, há dois anos, levou o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, a vir a público relembrar que isso é um crime. "Não é possível que, em pleno século 21, se pretenda coagir o empregado em relação ao seu voto", desabafou.