Leonardo Sakamoto

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Reportagem

Hang, citado em pressão por golpe, foi condenado por coação pró-Bolsonaro

Apontado pelo delator Mauro Cid como um dos empresários que se reuniram com Bolsonaro para pressionar por um golpe de Estado, Luciano Hang, dono das lojas Havan, foi recentemente condenado a pagar mais de R$ 85 milhões por intimidar empregados a votarem em Jair na eleição presidencial de 2018.

Um áudio do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens do então presidente da República, foi enviado ao comandante do Exército, general Freire Gomes falando da visita, segundo a Polícia Federal. Estiveram presentes, além de Hang, Meyer Nigri (Tecnisa) e Afrânio Barreira (Coco Bambu), entre outros.

Segundo Cid, os empresários pressionaram Bolsonaro para que o Ministério da Defesa fizesse um relatório duro, com o objetivo de "virar o jogo", sobre o sistema de votação e o resultado das eleições. A mensagem serviria para convencer o general de um contexto favorável ao golpe.

Hang e Nigri negaram qualquer ação contra as instituições democráticas.

Essa é a segunda vez em menos de um mês que Hang é citado em um caso de pressão em prol de Bolsonaro. A outra foi a decisão do juiz Carlos Alberto Pereira de Castro, da 7ª Vara do Trabalho de Florianópolis, que condenou a Havan e Hang por coação de empregados em 22 de janeiro. À decisão, cabe recurso.

De acordo com a ação civil pública movida pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), o proprietário teria promovido campanhas políticas em prol do candidato com o envolvimento obrigatório de empregados em "atos cívicos" na empresa.

Ele é acusado de ameaçar fechar lojas e dispensar empregados caso Fernando Haddad (PT), adversário de seu candidato, ganhasse a eleição. Além disso, os trabalhadores teriam sido constrangidos a responder enquetes internas promovidas pela Havan em seus terminais de computadores, informando em quem votariam - num momento em que já era conhecida a preferência do dono da empresa.

Em nota enviada ao UOL, o empresário Luciano Hang classificou como "descabida e ideológica" a decisão.

"É um total absurdo. Inclusive, na época dos acontecimentos foram feitas diversas perícias nomeadas pela própria Justiça do Trabalho e nada ficou comprovado, não houve irregularidades. O juiz deveria seguir as provas, o que não fez, seguiu a sua própria ideologia. Mais uma vez o empresário sendo colocado como bandido", afirma.

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A Justiça do Trabalho calculou o valor a ser pago como multa e indenização da seguinte forma: a) R$ 500 mil para cada loja da Havan existente na época por descumprimento de cautelar que impedia o assédio eleitoral; b) danos morais coletivos de R$ 1 milhão (a ser revertido para o Fundo Estadual dos Direitos da Criança e do Adolescente de SC); c) dano moral individual de R$ 1 mil para cada empregado contratado até outubro de 2018; d) juros e correção monetária.

Com isso, o valor calculado pela Justiça é de mais de R$ 85 milhões, sendo que o total ainda pode sofrer alterações. A decisão determina que a sentença seja cumprida dez dias após esgotados todos os recursos. E obriga Havan e Hang a se absterem de tentar influenciar o voto de seus funcionários.

O Ministério Público do Trabalho recebeu 3.505 denúncias de assédio eleitoral, em 2022, um número mais de 17 vezes maior que o total de 2018. A instituição diz que denunciou cerca de 2,5 mil empresas e instituições públicas, firmou 487 termos de ajustamento de conduta, ajuizou 93 ações e fez 1.498 recomendações.

O grande número de denúncias de assédio, há dois anos, levou o presidente do Tribunal Superior Eleitoral, Alexandre de Moraes, a vir a público relembrar que isso é um crime. "Não é possível que, em pleno século 21, se pretenda coagir o empregado em relação ao seu voto", desabafou.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.