Leonardo Sakamoto

Leonardo Sakamoto

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Até os EUA vão largando Netanyahu, mas Tarcísio e Caiado o paparicam

Os Estados Unidos apresentaram um projeto de resolução ao Conselho de Segurança das Nações Unidas pedindo um cessar-fogo imediato em Gaza vinculado à libertação dos reféns do Hamas, como informa Jamil Chade, no UOL.

Ironicamente, o governo Joe Biden vai se distanciando da gestão de Benjamin Netanyahu por motivos eleitorais (parte de sua base democrata não está satisfeita com o genocídio em curso), enquanto os governadores de São Paulo, Tarcísio de Freitas, e de Goiás, Ronaldo Caiado, vão até Israel e tiram uma foto sorridentes com o criminoso de guerra.

Até agora, quase 32 mil palestinos foram mortos e mais de 74 mil ficaram feridos devido aos ataques e ao cerco do governo Netanyahu contra Gaza como resposta aos atos terroristas do Hamas, que deixaram 1.139 mortos em Israel e fizeram mais de 200 pessoas reféns.

O primeiro-ministro, que no início teve suporte total de nações ocidentais, com Estados Unidos à frente, foi perdendo apoio à medida que ficavam mais evidentes os crimes de guerra cometidos pelas Forças de Defesa de Israel contra a população civil, sob a justificativa de destruir terroristas.

No exemplo mais recente, cujas imagens ganharam o mundo, mais de 110 pessoas famintas foram mortas e centenas ficaram feridas após militares israelenses dispararem, em 29 de fevereiro, contra uma multidão que se reunia em torno de caminhões que levavam ajuda humanitária a Gaza.

O Exército de Israel retrucou, dizendo que teriam matado um grupo menor, cerca de uma dezena, sendo que a maioria das vítimas foi pisoteada ou atropelada ao tentar pegar mantimentos. A disputa de narrativas de guerra esconde o fato desesperador: dezenas de palestinos famintos estão morrendo ao tentar alcançar comida para eles e seus filhos.

Perdendo votos de progressistas e árabes, horrorizados com o morticínio em Gaza, o governo Joe Biden tem, lentamente, mudado o discurso, dizendo que Netanyahu "prejudica mais do que ajuda Israel", liberando o líder da maioria democrata no Senado dos EUA, Chuck Schumer, judeu, a pedir novas eleições em Israel e mandando ajuda (quer dizer, migalha) humanitária.

Ao mesmo tempo em que Netanyahu vai se tornando tóxico para uns, ele parece ficar atraente para outros. Na disputa pelo espólio político ultraconservador de Jair Bolsonaro, Tarcísio e Caiado viajaram para Israel e encontraram-se com políticos locais, demonstrando sua solidariedade.

Uma parte do bolsonarismo, principalmente os cristãos conservadores, defendem Israel com unhas e dentes. O que foi, inclusive, usado largamente contra o presidente Lula devido à sua declaração comparando o que está ocorrendo em Gaza com a ação de Adolf Hitler. Os governadores sabem que a visita, além de fustigar Lula, que passou a ser considerada persona non grata por Israel, também os fazem ganhar pontos com os seguidores de Jair.

Continua após a publicidade

Israel é uma democracia, mas Netanyahu não é civilizado, que dirá democrata. Ele vem aplicando uma estratégia de terra arrasada a fim de gerar um fato político que o mantenha no poder quando a guerra terminar. Casos de corrução, interferência na Suprema Corte e incompetência em prever os ataques do Hamas mesmo com um dos melhores serviços de inteligência do mundo pesam contra ele. O problema é que o resultado disso vem sendo um genocídio.

A próxima etapa é Rafah, no extremo sul do território, para onde o próprio governo Netanyahu mandou os palestinos se deslocarem porque estariam salvos.

Discute-se, com toda a razão, que um presidente não deve tirar fotos sorridentes com ditadores, como Nicolás Maduro. Mas governadores também não deveriam tirar fotos sorridentes como um criminoso de guerra, como Benjamin Netanyahu.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL