Leonardo Sakamoto

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Reportagem

Evangélicos? Comunistas? Não, polarização é Lula vs Bolsonaro, diz pesquisa

De 0 a 10, o quanto você gosta de evangélicos? E de comunistas? De ateus? E de petistas e bolsonaristas? Essa foi a pergunta que uma pesquisa Genial/Quaest, divulgada com exclusividade por esta coluna, neste sábado (11), fez a mais de 2 mil pessoas.

O objetivo foi medir a polarização afetiva, ou seja, os sentimentos de desafeição e o desejo de distanciamento social a pessoas que fazem parte de outro grupo. E os resultados mostram que a polarizacão no Brasil não está na opinião sobre religião, direitos humanos ou mesmo comunismo, mas concentrada na relação entre petistas e bolsonaristas.

O instituto pediu aos entrevistados responderem em uma escala de zero (totalmente contra) a dez (totalmente a favor), quanto gostavam de oito grupos.

A nota média foi: evangélicos (7,2), defensores de direitos humanos (7,2), petistas (4,5), bolsonaristas (3,9), ateus (2,5), comunistas (2,2), defensores da ditadura (2) e racistas (0,9). A margem de erro de 2,2 pontos.

Os que votaram em Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno de 2022 deram média de 7,3 para os bolsonaristas e avaliaram os petistas com nota 1,7. Já os eleitores de Lula (PT) deram 1,8 para os bolsonaristas e 6,7 para os petistas.

Entre os que não votaram em ninguém, seja porque não compareceram à urna, seja porque optaram por branco ou nulo, a avaliação dos petistas (média 3,8) é semelhante à dos bolsonaristas (3,6).

"A pesquisa mostra que há grande diferença de acordo com a preferência político-eleitoral, mas que outras identidades e orientações políticas não parecem muito afetadas pela polarização afetiva. Eleitores de Lula desgostam de bolsonaristas e eleitores de Bolsonaro desgostam de petistas", avalia Pablo Ortellado, coordenador do Monitor do Debate Político no Meio Digital da Universidade de São Paulo.

"Em geral, nestes estudos o importante é a diferença na 'escala de calor' entre gostar do próprio grupo e gostar do grupo adversário. Esse intervalo no caso brasileiro é bastante elevado para os padrões internacionais", diz.

Vale ressaltar que a única comparação acima da margem de erro é sobre a avaliação que eleitores de Lula e Bolsonaro têm de petistas e bolsonaristas.

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Evangélicos e comunistas

Outros três grupos que tiveram mais de um ponto de diferença na comparação entre respostas de eleitores de Lula e de Bolsonaro foram evangélicos, defensores dos direitos humanos e comunistas.

Evangélicos, grupo cuja maioria votou no ex-presidente, recebeu nota 7,9 dos que votaram em Bolsonaro, 6,7 dos que optaram por Lula e 7,3 entre quem não votou em ninguém.

A situação se inverte quando a questão é sobre os defensores de direitos humanos, criticados pela extrema direita. Eles receberam nota 7,9 dos eleitores de Lula, 6,4 dos que foram com Bolsonaro e 7,1 entre quem optou por ninguém em 2022.

E apesar de registrarem nota baixa nos três grupos, os comunistas foram um pouco melhor entre eleitores de Lula (2,7) do que entre os de Bolsonaro (1,6) e os que não votaram em ninguém (2,3).

Gênero, idade, região, religião

Quando as respostas são divididas por gênero, há diferença na avaliação de defensores dos direitos humanos, com mulheres dando média de 7,7 e homens 6,7.

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Na divisão por idades, bolsonaristas tiveram 3,2 entre quem tem 60 anos ou mais e 4,2 entre os que estão entre 16 e 34 anos. Já comunistas e defensores de direitos humanos têm 2,9 e 7,7, respectivamente, entre o grupo mais jovem e marcam 1,5 e 6,7 junto ao mais velho.

Petistas têm sua melhor avaliação no Nordeste (5,6) e sua pior no Centro-Oeste e Norte (4). Ao contrário de bolsonaristas, que contam com sua melhor avaliação no Centro-Oeste e Norte (4,6) e a pior no Nordeste (3,2).

Católicos gostam um pouco mais de petistas, dando a eles nota 4,9, do que de bolsonaristas, que tiveram 3,4. Por outro lado, evangélicos preferem bolsonaristas (5) a petistas (3,7). Por fim, católicos dão nota 6,6 a evangélicos e este segundo grupo dá 8,8 a si mesmo.

Ultrapolarização e destruição do outro

A polarização é vista como natural do jogo político, pois é parte de um processo em que cidadãos reconhecem que seus posicionamentos são semelhantes ou antagônicos aos de outras pessoas e se organizam em grupos para defendê-los. O problema é quando essa polarização se aprofunda ao ponto de desejar o mal de quem pensa diferente.

A redução de contato entre grupos polarizados leva à diminuição de informações sobre o que eles querem, desejam e fazem. Sem informações sobre o outro é mais fácil que as lacunas sejam preenchidas por desinformação. O desconhecido causa medo e passa a ser visto como ameaça. Nesse ponto, aquele que é adversário político a ser vencido se torna inimigo para a ser destruído.

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O que justifica o comportamento de lideranças autoritárias que prometem acabar com aqueles que "ameaçam" seus seguidores com suas crenças e seu modo de vida. Um processo de desumanização que tem terminado em violência, como foi o caso do 6 de janeiro de 2021, nos Estados Unidos, e no 8 de janeiro de 2023 no Brasil.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.