Leonardo Sakamoto

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Opinião

Asfalto ainda não conseguiu pavimentar melhora da avaliação de Nunes em SP

Mesmo após ter despejado toneladas de asfalto sobre as vias de São Paulo e introduzido a tarifa zero no transporte público aos domingos e alguns feriados, o prefeito Ricardo Nunes (MDB) ainda não conseguiu melhorar sua imagem junto aos paulistanos.

Pelo contrário: a avaliação de ótimo e bom oscilou para baixo no limite da margem de erro, de 29% para 26%, e a de ruim e péssimo foi de 24% para 25%. A regular também oscilou de 43% para 45%. Os dados são de pesquisa Datafolha, divulgados nesta quarta (29).

São Paulo teve a dívida quitada com a União em troca da cessão do Campo de Marte, uma negociação que começou com o falecido Bruno Covas e teve participação importante do "primeiro-ministro" da capital, Milton Leite (União Brasil), presidente da Câmara e aliado de Nunes. Com isso, o prefeito contava com mais de R$ 30 bilhões em caixa para gastar por sua reeleição. Mas os gastos parecem ainda não ter impacto em sua avaliação.

Tampouco parece ter trazido benefícios, até agora, o fato de ele ter se aproximado do bolsonarismo, a ponto de ter defendido a atuação do ex-presidente no combate à covid-19 (sim, ele fez isso) e abraçado as escolas cívico-militares.

O bolsonarismo vem pressionando o prefeito a aumentar o espaço da extrema direita em sua campanha. Ressalte-se que, segundo o Datafolha, 61% não votariam nem que a vaca tussa em um candidato de Jair na capital paulista (eram 63% em março), enquanto que 45% não escolheriam um nome de Lula (42%, em março) de jeito nenhum. Até agora, apenas 26% dos eleitores sabem que Bolsonaro apoia Nunes.

Seria interessante que as pesquisas verificassem se as denúncias envolvendo a gestão municipal estão impactando ou não a avaliação do prefeito. Milton Leite foi envolvido pelo Ministério Público em um escândalo de desvio de dinheiro e corrupção com a viação Transwolff e o PCC. Mas, além deste, há outros casos sob escrutínio.

O escândalo bilionário das obras emergenciais da Prefeitura de São Paulo, por exemplo, subiu de patamar com a investigação publicada, em março, pelo UOL, mostrando que, pelo menos, 223 dos 307 contratos tinham indícios de conluio para a combinação de preços. Isso sugeria uma ação sistemática para transferir grana pública para bolsos de empresas escolhidas pela gestão Ricardo Nunes. Os repórteres Thiago Herdy, Pedro Canário e Rafael Neves mostraram que os valores com indícios de problemas somam R$ 4,3 bilhões, ou 87% do total do contratado emergencialmente.

Em uma disputa, a empresa A apresentava um valor competitivo e a empresa B, não; daí, em outra, a mesma empresa B apresentava um valor competitivo e a mesma A, não. Como se tratava de seleções emergenciais, o poder público é que enviava os convites para a participação dos atores.

Ao invés de abrir licitações públicas para resolver problemas de contenção de encostas, intervenções em margens de rios, córregos e galerias pluviais e recuperação de vias públicas, deixando contratações urgentes para casos especialíssimos, a Prefeitura de São Paulo teria criado "emergências fabricadas". O termo está em relatório do Tribunal de Contas do Município (TCM) que analisou 53 contratos emergenciais de 2021 e 2022 apontando que a gestão abusou dessa ferramenta ao invés de adotar licitações, forma mais protegida de fraudes, para enfrentar conhecidos, históricos e previsíveis problemas da capital.

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Auditoria do TCM em contratos das secretarias municipais de Infraestrutura Urbana e Obras e de Subprefeituras, que concentram os contratos emergenciais, apontou que o valor gasto pela Prefeitura com esse tipo de obra sem licitação cresceu 10.400% em cinco anos: de R$ 20 milhões em 2017 para R$ 2,1 bilhões em 2022.

Segundo a investigação do UOL, as campeãs de contratos emergenciais para obras na gestão Nunes são três empreiteiras controladas pela mesma família: B&B Engenharia, BBC Construções e Abcon Engenharia. Elas assinaram 38 contratos no período analisado (15% do total), que somaram R$ 751,1 milhões, tendo sido convidadas a participar de 87 das 307 obras contratadas.

A Prefeitura tem afirmado que as denúncias têm cunho político e eleitoreiro e que os aumentos de valores gastos se devem ao fato de que esta gestão está fazendo mais pela cidade do que outras gestões.

No Rio de Janeiro de Cláudio Castro (PL), o escândalo dos "cargos secretos" envolveu mais de R$ 1 bilhão em desvios em 2022. Mas segundo decisão tomada por 4 votos a 3 pelo Tribunal Regional Eleitoral, dezenas de milhares de cabos eleitorais pagos com a grana não beneficiaram a campanha do governador e, por isso, ele escapou da cassação. Talvez o eleitor do Rio tenha chegado à mesma conclusão, caminho que pode ser trilhado pelo de São Paulo.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL