De onde veio e para onde vai voto de Datena e Marçal? Resposta vale eleição
Antes que os estatísticos tenham um infarto agudo do miocárdio, vale explicar que não é possível comparar pesquisas que contém nomes diferentes. Dito isso, e considerando que esta fase de pré-campanha é rica em especulação, há duas perguntas que podem valer uma eleição: de onde vieram e para onde iriam os votos do apresentador José Luiz Datena (PSDB) e do coach Pablo Marçal (PRTB) em São Paulo?
Ambos não apareciam na pesquisa Datafolha de março deste ano, quando o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL) marcava 30% e o prefeito Ricardo Nunes (MDB), 29%, um empate técnico. A deputada federal Tábata Amaral (PSB), Marina "Não sou a ministra do Meio Ambiente" Helena (Novo), o deputado federal Kim Kataguiri (UB), entre outros, todos estavam lá. Menos Datena e Marçal.
Agora, Boulos marca 24%, tecnicamente empatado com Nunes, 23%. Datena está empatado com Tábata, com 8%, e ambos tecnicamente empatados com Marçal, que tem 7%.
O pacote de indecisos e branco ou nulo era de 20% em março e, agora, 18%. A margem de erro em ambas pesquisas são os mesmos três pontos percentuais.
Há uma grande chance de Boulos e Nunes terem "perdido" votos para Datena e Marçal, respectivamente - lembrando, novamente, do disclaimer do início deste texto.
Datena conversa muito bem com a classe trabalhadora que vota em Lula e que não é necessariamente petista. Boulos busca esse eleitor e espera uma transferência de intenção de votos no início do horário gratuito de rádio e televisão, em agosto, quando parte desse pessoal deve descobrir que ele é o candidato do presidente da República. Segundo o Datafolha, apenas 47% sabem que Boulos é o candidato do petista.
Inclusive a ação de Lula no evento na Zona Leste de São Paulo, no Dia dos Trabalhadores, pedindo irregularmente voto para Boulos, foi nesse sentido de mostrar que os dois são unha e carne.
O apresentador da TV Bandeirantes também tem trânsito entre evangélicos, parte da direita e a periferia, grupos em que o atual prefeito vai bem - o que o torna também uma pedra no sapato de Ricardo Nunes no primeiro turno.
Pablo Marçal, por outro lado, é identificado com o bolsonarismo, tendo apoiado abertamente o ex-presidente da República. Em busca de ser o seu herdeiro na capital, o PRTB convidou até a médica bolsonarista Nise Yamaguchi, que defendeu o tratamento com cloroquina contra a covid-19 durante a pandemia apesar de não haver indícios de que o remédio funcionasse para isso, para ser vice do coach. Marçal e Yamaguchi se candidataram à Câmara dos Deputados pelo mesmo partido, o PROS, em 2022, mas não foram eleitos.
O coach, ressalte-se, tem também a favor de si o fato que não é um candidato identificado apenas com parte do bolsonarismo, mas também com o lavajatismo e os farialimers, outras faces do antipetismo. Se Kataguiri não for até o final, ele pode ser beneficiado e herdar seus votos ao longo da campanha.
Caso ele se torne um nome competitivo, com potencial de ameaçar Nunes, sua candidatura prospera. Caso contrário, será usada pelo bolsonarismo para pressionar o atual prefeito a aumentar o espaço da extrema direita em sua campanha. O que é péssimo para ele, uma vez que 61% não votariam nem que a vaca tussa em um candidato de Bolsonaro na capital paulista (eram 63% em março), enquanto que 45% não escolheriam um nome de Lula (42%, em março).
Votos: de onde vieram, para onde iriam?
Mais importante até do que entender qual a origem da intenção de voto de Datena e Marçal é imaginar para onde ela iria. Por exemplo, o Datafolha aponta que Nunes herdaria 26% dos votos de Datena e 24% dos de Kim, caso ambos desistissem. Mas isso não considera a dinâmica eleitoral. Uma coisa é o eleitor apontar agora uma segunda opção, outra é isso ocorrer com o pau comendo na eleição.
Independentemente de pesquisas de segundo turno neste momento, que indicam apenas tendências, essa pergunta só vai ser respondida corretamente com o desenrolar da pré-campanha e mesmo da campanha.
Datena e Boulos respeitam-se bastante. Tendo isso em vista, o apresentador irá bater mais forte no prefeito do que no deputado federal? Ao mesmo tempo, é lógico que Marçal irá para o confronto com Boulos e poupará Nunes. A depender dessa dinâmicas, os eleitores de ambos podem ir para um lado ou outro no segundo turno.
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Quero receberEle já desistiu de candidaturas em outras eleições. Nesta, caciques do PSDB garantiram que ele teria apoio real do partido caso queira concorrer. A resposta final se ele será candidato, e se será a prefeito ou vice, ainda será dada.
E há Tábata Amaral, com uma intenção que não é desprezível, que teve uma boa notícia com a pesquisa. De um lado, Nunes gastou bilhões do caixa da prefeitura, do outro Boulos se agarrou em Lula e fez eventos mil. Mesmo assim perdem votos com a entrada de dois candidatos fortes, mas ela não. Manteve os mesmos 8% de março (novamente, lembre-se do disclaimer) nos cenários principais e oscilou para 9% em outro cenário.
Ela pode ter sido beneficiada pelos spots da propaganda partidária do PSB e pela divulgação de que foi de autoria dela o projeto que criou a bolsa de permanência no ensino médio.
Certamente, nos debates, ela irá enfrentar tanto Boulos quanto Nunes. Caso não cresça para disputar o segundo turno, é difícil imaginar que ela se mantenha totalmente neutra. Se a relação das campanhas dela e de Boulos não produzirem mais faíscas entre si, é provável que, ao menos, ela declare o não voto no atual prefeito.
Mas repito algo que disse aqui ontem, com base na pesquisa Atlas/CNN. O prefeito vem fazendo acenos ao bolsonarismo nas últimas semanas, esforçando-se para se aproximar do bolsonarismo, elogiando o ex-presidente por sua atuacão na pandemia (risos) e defendendo a implementação de escolas cívico-militares em São Paulo.
Com isso, havia uma expectativa de que a sua pré-campanha, após a consolidação de partidos do centro à extrema direita em torno dele, entraria em junho melhor colocada, abrindo até dez pontos de vantagem em relação a Boulos. Até porque ele está asfaltando até parquinho.
A não concretização de um cenário de forte descolamento de Nunes, pelo menos não nesta pesquisa e neste momento, trouxe dúvidas a membros de sua "frente ampla" de alianças. Nisso, surgem Datena e Marçal. E a eleição, que seguia relativamente polarizada, vai ficando mais divertida.