Leonardo Sakamoto

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Opinião

Desemprego cai, renda sobe, mas Lula celebra queda do feijão e do arroz

O desemprego no país é o menor desde 2014, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, para um trimestre encerrado em abril (8,5%). Ao mesmo tempo, o rendimento médio mensal subiu 4,7% em um ano, alcançando R$ 3.151. Os dados foram divulgados nesta quarta (29).

São boas notícias para o governo Lula, somadas a um IPCA-15, a prévia da inflação de maio, que veio ontem em 0,44%, menor que a expectativa do mercado, ainda que pressionada pela alta da gasolina. Que, agora, vira dor de cabeça para a nova presidente da Petrobras, Magda Chambriard.

Mas o feijão e o arroz, que vêm sendo um dos motivos do mau humor dos consumidores, caíram. O preço do feijão preto reduziu, em média, 8,6%, e do carioca, 5,36%, enquanto o arroz variou 1,25% para baixo.

É um sinal positivo, mas ainda longe de gerar uma mudança profunda na percepção da qualidade de vida dos mais pobres após anos de alta. O arroz ainda acumula uma subida de 25,1% só nos últimos 12 meses e o feijão preto, 7,35%. O carioca teve queda de 17% nesse período.

Só para registrar: a picanha caiu 0,66% e a cerveja subiu 0,59%. Ambas são promessas de campanha de Lula. Em um ano, a picanha acumula queda de 6,3% e a cerveja, alta de 3,22%.

Por conta da tragédia no Rio Grande do Sul, grande produtor de arroz, o governo federal anunciou a autorização de importação de até 1 milhão de toneladas do grão. Isso pode ajudar a evitar mais altas no preço, a despeito da gritaria de parte dos produtores e dos expoentes do mercado, que acreditam que pobre faz fotossíntese.

Vale lembrar que o excesso de chuva em Minas Gerais e Goiás também afetou a safra de feijão. E ainda há negacionistas no agronegócio, vai entender...

Como já disse aqui, a renda dos domicílios sobe, desemprego cai, PIB cresce, juros estão sendo reduzidos, dívidas encolhidas. Contudo, isso não se traduz, necessariamente, em alta da percepção da qualidade de vida de todos os trabalhadores. O motivo é o preço dos alimentos básicos que continua nas alturas desde o último governo.

Há análises que não consideram a percepção sobre o custo de vida como uma das questões centrais para a perda de aprovação do governo Lula e olham só para os grandes índices. Trabalhadores e suas famílias não comem indicador econômico temperado com arcabouço fiscal. Isso alimenta outra espécie, os farialimers.

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A economia melhorou no país com o governo Lula, mas isso ainda não se traduziu em um grande salto para a vida cotidiana, tal como ocorreu nos dois primeiros mandatos do petista. O que impacta negativamente sua popularidade. Enquanto o bolsonarismo se esforça para tentar convencer que a picanha, usada por Lula em sua campanha eleitoral para prometer dias melhores, disparou de preço (quando, na verdade caiu, em média), o problema político está no peso do arroz com feijão do cotidiano.

Para além de agir para reverter os preços de alimentos (investir na formação de estoque, ajudar mais os pequenos agricultores, fomentar a produção de arroz em outras regiões), o governo tem que mostrar ao país que a economia melhorou apesar de o bolsonarismo bater bumbo dizendo que não. Enquanto não fizer isso com força, vai receber críticas.

Como sempre digo aqui, Lula conseguiu ser eleito porque uma parte dos eleitores, que não são petistas, nem bolsonaristas, também acreditou em sua promessa de dias (de compras) melhores.

A percepção da melhora da qualidade de vida será o elemento que vai garantir ou não a Lula o favoritismo em 2026. Se estiver boa, vai ter governador de estado que irá preferir a reeleição garantida do que disputar com o petista. Caso contrário, Lula terá companhia de peso.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL