Leonardo Sakamoto

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Opinião

Pupilo de Bolsonaro, Ramagem quer o Rio, mas se torna candidato à cadeia

A retirada do sigilo sobre a investigação da Polícia Federal que apura o uso da Abin (Agência Brasileira de Inteligência) para o benefício da família Bolsonaro, determinada, nesta quinta (11), pelo ministro Alexandre de Moraes, mostra uma máquina de espionagem que abastecia milícias digitais com o objetivo de atacar desafetos e até aliados.

Há até trocas de mensagens de servidores sob responsabilidade do então diretor-geral da Abin, o hoje deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ), discutindo ações violentas contra Moraes. "Tá ficando foda isso. Esse careca tá merecendo algo a mais", escreveu um deles sobre a investigação de um ataque hacker ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Outro responde: "7.62", um calibre de munição. Por fim, um sugere tiro na cabeça do ministro.

A Polícia Federal também realizou hoje a 4ª fase da operação Última Milha que investiga a organização criminosa voltada ao monitoramento ilegal e à produção de mentiras. Ramagem não foi alvo desta etapa, tendo sido de outra, bem como o vereador Carlos Bolsonaro, responsável pela comunicação digital do pai. Ambos são as duas grandes figuras deste caso, além do próprio Jair.

Pelas informações até o momento, podemos dizer que esse é um dos maiores escândalos desde o fim da ditadura militar. Utilizando um software israelense que consegue monitorar deslocamento de pessoas pelo celular, o governo Bolsonaro espionou ministros do STF, parlamentares, governadores, advogados, jornalistas, ativistas, servidores públicos.

Até Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara e aliado de Bolsonaro, entrou na roda. Nem todos os nomes dos vigiados foram ainda divulgados.

Bolsonaro, que já havia instalado o Gabinete do Ódio nas dependências do Palácio do Planalto a fim de atacar adversários e jornalistas, ao que tudo indica criou também uma estrutura que atropelava garantias constitucionais e liberdades individuais, esvaziando a privacidade e fazendo arapongagem na vida pessoal e profissional de milhares de brasileiros. E conectou as duas.

Isso mostra o comportamento de um governante de estado autoritário, que vigia a tudo e a todos para garantir a sua perpetuação no poder.

Essa constatação não é exatamente surpreendente. Quando ele ainda era candidato à Presidência da República, em 2018, os que tinham apreço pela democracia avisaram que ele dobraria as instituições do Estado brasileiro às suas próprias necessidades.

Na fatídica reunião ministerial de 22 de abril de 2020, isso ficou explícito. "Eu não vou esperar foder a minha família toda, de sacanagem, ou amigos meu, porque eu não posso trocar alguém da segurança na ponta da linha que pertence à estrutura nossa. Vai trocar! Se não puder trocar, troca o chefe dele! Não pode trocar o chefe dele? Troca o ministro! E ponto final! Não estamos aqui pra brincadeira", disse ele.

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Bolsonaro queria Alexandre Ramagem como diretor da PF. O então ministro da Justiça e Segurança publica Sérgio Moro acabou pedindo demissão ao bater de frente com ele por conta disso.

Ele falava sério quando disse "não estamos aqui pra brincadeira". Ao longo de seu mandato, enfraqueceu ou sequestrou instituições públicas do Poder Executivo voltadas ao monitoramento e controle.

Pesquisa Datafolha, divulgada na sexta (5), aponta que Eduardo Paes (PSD) tem 53% das intenções de voto em sua tentativa de reeleição ao Rio - berço do bolsonarismo. Tarcísio Motta (PSOL) tem 9% e Ramagem, apenas 7%. A margem de erro é de três pontos.

Diante do avanço nas investigações e da baixa popularidade, Alexandre Ramagem (que é, sem dúvida, o mais bem informado pré-candidato do Brasil) vai deixando de ser viável ao Palácio da Cidade se tornando forte candidato à cadeia.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL