Leonardo Sakamoto

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Opinião

Bancos precisam restituir grana roubada por golpistas e não culpar a vítima

Um rosário de amigos e amigas e pessoas da minha família já foram vítimas de golpes financeiros, alguns deles perceberam que estavam sendo enganados a tempo, outros não tiveram a mesma sorte e ficaram no prejuízo, uma vez que o banco deu uma banana para o pedido de restituição. De acordo com o Datafolha e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, 4.600 pessoas são alvo de tentativas de golpe por hora no Brasil.

Empurrar, como em uma peça de Nelson Rodrigues, as vítimas a pedirem perdão por terem sido enganadas é estupidez. Como exigir a todas as pessoas idosas, um dos principais alvos dos bandidos, estarem atualizadas com os novos golpes na praça? Desconfiar sempre, desligar o telefone e ligar para a gerência do banco ajuda, mas os criminosos sempre estão um passo à frente. Quando uma sacanagem nova é comprometida, inventam outra.

Os bancos e o setor financeiro, que acumulam lucros bilionários, precisam arcar com as perdas relacionadas à fragilidade do sistema de relacionamento com os clientes. Ou oferecer um sistema praticamente a prova de falhas. Hoje, a depender do caso, eles dizem que a culpa é da vítima, dão uma de Pôncio Pilatos e fica por isso mesmo.

Não adianta o Banco do Brasil, só para citar uma das instituições que mais deu banana a conhecidos meus, fazer propaganda ensinando consumidores a evitarem golpes se continuarem negando restituição de valores. Isso é terceirizar o prejuízo, enquanto os lucros continuam sendo só deles (ver posicionamento do banco, abaixo).

"Ah, mas também há um trabalho para melhorar os sistemas internos." Não importa, enquanto, não produzirem resultados efetivos, deveriam arcar com as consequências disso.

Ao mesmo tempo, o poder público precisa atualizar seus sistemas e procedimentos de inteligência para investigar e prender rapidamente as quadrilhas envolvidas nesse tipo de fraude. A impressão é que a polícia é 1.0 enquanto os criminosos já estão no 4.0.

A sensação de impunidade decorrente da percepção de que o Estado é incapaz ou lento para punir quem aplica golpes faz com que eles se multipliquem.

É a mesma percepção de uma sociedade que é incapaz de punir quem cometeu um golpe de Estado, permitindo que novos golpistas surjam. O Brasil preferiu deixar para lá, em nome de uma suposta conciliação, e não não puniu os envolvidos no golpe de 1964, nem mesmo os carniceiros que torturavam em nome deles. Pelo contrário, incensa até hoje os que assinaram o AI-5 quando um deles morre.

O resultado disso é que novos golpes continuam sendo orquestrados por civis e militares, como aquele planejado a partir da derrota da eleição de outubro de 2022 pelo bolsonarismo. Ironicamente, tal como acontece em um golpe telefônico, os defensores dos golpistas no Congresso e na mídia colocaram a culpa pelos ataques no governo recém-eleito pela invasão e destruição das sedes dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023. Tal como um cliente de banco roubado, disseram que o golpe só foi tentado porque o governo não estava alerta.

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Se a polícia e a Justiça não fizerem seu papel, colocando na cadeia golpistas de contas bancárias e golpistas da democracia, vamos continuar vendo sacanagens se repetirem. E as vítimas serem duplamente punidas: na hora do golpe e na hora de contarem os prejuízos.

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O Banco do Brasil enviou um posicionamento sobre o tema, reproduzido abaixo:

O Banco do Brasil investe constantemente em ações de conscientização sobre os principais golpes financeiros, além de investir em tecnologia para mitigar riscos. Por exemplo, o BB notifica seus clientes sobre o que acontece na sua conta por meio do SMS, ou push ou aplicativo de mensagens. Essas notificações ajudam o cliente a ter ainda mais controle sobre as operações, e, por serem enviadas em tempo real, podem ajudar a identificar rapidamente qualquer movimentação que ele desconheça.

A busca pela satisfação do cliente tem sido uma tônica na atuação do Banco. Por exemplo, pelo oitavo semestre consecutivo o BB é a instituição mais bem posicionada dentre os grandes bancos brasileiros no ranking de reclamações do Banco Central. O resultado mais recente, do segundo trimestre, traz o BB na 14° colocação (sendo que a primeira posição é a pior, neste caso).

É importante salientar que o Banco do Brasil acolhe todas as contestações apresentadas pelos clientes e estas são analisadas por uma equipe especializada considerando o seu contexto. Essa análise é fundamental para que nem ocorram distorções sobre ações de golpes tampouco se crie condições para a prática de fraudes. O BB também disponibiliza atendimento para notificações sobre golpes ou fraudes pelo App BB e Central de Atendimento, 24 horas por dia, nos sete dias da semana - além de atendimento nas agências em todo o país, em horário comercial. Além disso, o BB investe em campanhas de educação financeira, disponibiliza conteúdo com orientações e dicas em seus principais canais de comunicação e relacionamento.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL