Ataque do clã Bolsonaro a Marçal anuncia Game of Thrones da extrema direita
A luz amarela acendeu na família Bolsonaro com o crescimento de Pablo Marçal em sua campanha à Prefeitura de São Paulo. Após o vereador Carlos Bolsonaro, foi a vez do deputado Eduardo Bolsonaro criticar o ex-coach e tentar mostrar a seus seguidores que ele não representa a direita. E, nesta quinta (22), rolou bate-boca no Instagram entre o candidato e o próprio Jair.
Para apimentar a situação, pesquisa Datafolha divulgada hoje mostra que Marçal lidera entre os eleitores de Bolsonaro, com 44%, frente a 30% de Nunes. No início de agosto, ele tinha 29% e o prefeito, 38%. Entre os que se assumem bolsonaristas, Marçal subiu de 25% para 46%, enquanto Nunes caiu de 37% para 26%.
Com isso, o coach está com 21%, empatado tecnicamente com Guilherme Boulos (23%), apoiado de Lula, e Ricardo Nunes (19%), aliado de Bolsonaro.
Marçal comentou uma publicação de Bolsonaro sobre ferrovias tentando mostrar-se próximo com um "Pra cima capitão. Como você disse: eles vão sentir saudades de nós". Bolsonaro (ou Carlos, que cuida das redes do pai) retrucou com um "nós?". O coach fez tréplica dizendo que colocou R$ 100 mil na campanha de Bolsonaro. "Se o capitão quiser me tirar do 'nós', me ajude devolvendo os R$ 100 mil depositando na minha campanha aqui de prefeito".
Eduardo Bolsonaro também reagiu à postagem comparando Marçal ao ex-vice-presidente e hoje senador Hamilton Mourão. "Estranho. Em 2022, você disse que a diferença entre Lula e Bolsonaro é que um deles tinha um dedo a menos. Só acordou agora? Tá parecendo até o Mourão."
O deputado já havia divulgado um vídeo batendo no empresário após compartilhar matéria do jornal O Estado de S.Paulo mostrando que membros do PRTB, partido de Marçal, estão envolvidos em um esquema de troca de carros de luxo por cocaína o PCC. "Muita gente reclama do PL, mas todo partido tem os seus problemas. E graças a Deus o do PL não é por envolvimento com droga ou PCC."
E Carluxo, ao criticar a posição de Marçal, que viu ressalvas no pedido de impeachment de bolsonaristas contra Alexandre de Moraes, disse: "É sério que o mais novo direitista está parecendo dar aquela passada de pano pro ministro depois de tudo que esse senhor fez e continua fazendo, mesmo agora diante de fatos expostos? Pegaram esse código?"
"É amiguinho dele? Você nunca me enganou e não vai ser agora!", acusou o pastor Silas Malafaia, aliado próximo da família, no mesmo sentido. O influenciador bolsonarista Paulo Figueiredo também trocou farpas com Marçal nas redes após o empresário cancelar uma entrevista em cima da hora.
Não precisa ser um gênio para perceber que isso não é para ajudar a candidatura à reeleição do prefeito Ricardo Nunes, apoiado pelo PL em São Paulo e que disputa com o empresário os votos da direita, mas de manter o controle sobre o próprio rebanho.
Se Marçal vence sozinho empunhando os valores (sic) caros à extrema direita, ele não será tributário de Jair. Mais do que isso: vai rachar a extrema direita, que terá mais um líder.
Vale destacar que, por mais estranho que isso possa aparecer, Bolsonaro não criou o bolsonarismo. Esse grupo da extrema direita sempre esteve aí. O mérito do ex-presidente foi organizar, canalizar as frustrações e os medos, mobilizar e dar um sentido a ele através dele próprio, de suas candidaturas e do seu governo.
Mas, como esse grupo veio, ele pode ir embora. O desejo da família é manter a influência sobre esse naco população e o controle do processo sucessório do patriarca. A princípio, o governador de São Paulo Tarcísio de Freitas está sendo preparado para ocupar o espaço enquanto Jair segue inelegível, mas isso a custo de tributos pagos. Como as chacinas policiais na Baixada Santista, o que não é bolsonarismo moderado, como alguns defendem, mas raiz.
Daí, esse ensaio de Game of Thrones da extrema direita.
Ao dar uma banana para as decisões da Justiça Eleitoral, cometendo infrações reiteradamente, o empresário mostra que não só aprendeu com Bolsonaro, mas foi além.
Aposta que pode vencer mesmo sem se dar ao trabalho de esconder que não sabe nada da cidade que pretende administrar, contando que o eleitorado queira apenas "autenticidade" e entretenimento. Antes, nas campanhas de Jair, havia pelo menos o verniz da tentativa de mostrar conteúdo. Agora, Marçal disse no debate da revista Veja que não iria responder pergunta e que as pessoas lessem depois o que seria postado nas redes sociais.
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Quero receberMesmo que Marçal passe para o segundo turno e o Bolsonaro componha com ele contra Boulos, ainda assim ficará a impressão de que o seguidores do Capitão tiveram vontade própria. Para quem acredita que controla um grande rebanho, ver o gado se encantar por outro berrante deve ser assustador.