Leonardo Sakamoto

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Opinião

Efeito colateral da suspensão do X será menos ódio circulando na eleição

A suspensão do X/Twitter no Brasil, ordenada, nesta sexta (30), pelo ministro Alexandre de Moraes, é uma decisão amarga, mas necessária. Não é admissível que qualquer pessoa, por mais rica que seja, decida quais leis e decisões judiciais vai cumprir ou não, como estava fazendo Elon Musk. Principalmente para se promover como liderança global da extrema direita.

Amarga porque muito melhor seria uma plataforma que aceita cumprir o ordenamento jurídico do país em que ganha o seu cascalho, mantendo representantes legais para o devido diálogo, investindo em uma estrutura robusta de moderação de conteúdo (como o Twitter fazia antes) e atendendo a decisões judiciais que solicitam a remoção de publicações de ódio, intolerância, nazismo, pedofilia, planejamento de ataques em escolas, tentativas de golpe de Estado.

Não é censura, portanto, mas um mínimo de respeito à soberania. E ao próprio capitalismo, uma vez que as mesmas regras devem valer para todos os empreendimentos que operam serviços em um mesmo país, sob o risco de concorrência desleal e favorecimento indevido. Por que Instagram, WhatsApp, Facebook, TikTok, YouTube, entre outros, seguem a lei e o X não?

Em um primeiro momento, a extrema direita vai jogar a responsabilidade pela suspensão da rede no campo democrático, usando o caso para esquentar a ultrapolarização durante as eleições.

Com isso, mobilizará seus seguidores e tentará substituir o debate sobre as necessidades do território municipal (creche, tarifa de ônibus, posto de saúde, segurança, entre outros) pela discussão de uma suposta censura, a chegada do comunismo, as conspirações de bilionários de Hollywood, as vacinas chinesas com chips de 5G e, claro, os illuminati. Deve conseguir algo, tal como já faz ao trazer Maduro e Hamas.

Mas há um efeito colateral positivo nessa tragédia toda que é a redução no montante de ódio e intolerância que vai circular durante as eleições de 2026. No que pese o X/Twitter ser uma importante fonte de informação para jornalistas e cidadãos e para a fiscalização de atores públicos e a comunicação com eles, há muito a plataforma havia se transformado numa catapulta para espalhamento de ódio. Desde que Elon Musk assumiu seu controle, virou uma terra sem lei. Tudo é possível por lá, o que não é boa coisa.

O ódio presente na rede não desaparece com a sua suspensão. Porém, ficará mais difícil de ser acessado e distribuído. Ao não aceitar moderar o conteúdo de sua plataforma, Elon Musk empurrou a Justiça que tomou decisões extremas. Esperemos que ela volte, dentro de parâmetros racionais, apesar de sabermos o quão difícil será isso.

Em tempo: A decisão de limitar acesso ao VPN (rede virtual privada, usada para mascarar conexões) a fim de impedir o uso do X, com punição aos usuários, é, contudo, fora da realidade. A ferramenta é usada para muitas outras atividades. Por isso, essa medida imposta pelo STF deve cair ou ser esclarecida, em nome do bom senso.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL