Leonardo Sakamoto

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Opinião

Israel e EUA vão se impor contra Irã, mas isso é diferente de ganhar guerra

Não há poder militar que faça frente a Israel respaldado pelos Estados Unidos no Oriente Médio. E o poder econômico exercido pelas petroditaduras não se mostra interessado em ir além da retórica. Então, o governo Benjamin Netanyahu faz o que quer em Gaza e no Líbano e vai se impor contra o Irã. O que não significa, contudo, que Israel ganhará a guerra. Ou que terá paz.

A preocupação maior de Netanyahu não é a vida dos israelenses (tanto que prefere manter a destruição de Gaza em busca de terroristas do Hamas do que negociar as dezenas de reféns que estão com o Hamas), mas manter-se no poder através da justificativa da guerra. O ataque ao Líbano usa a proteção das comunidades israelenses que vinham sendo alvo dos mísseis do Hezbollah como mote.

O problema é que qualquer tranquilidade alcançada será momentânea, exatamente pelo métodos adotados por Netanyahu. As explosões de pagers e o bombardeio de cidades mostra que ele não separa civis de combatentes. Por que, então, os filhos e vizinhos desses civis não se tornarão combatentes diante disso?

Israel quebrou o sistema de comunicação e de inteligência do Irã e do Hezbollah, permitindo ataques certeiros e mortais contra alvos do grupo xiita no Líbano, como o que matou o seu líder Hassan Nasrallah. E também leva medo ao aiatolá Ali Khamenei, que teria sido carregado para local seguro com a escalada do conflito.

Se o Irã, aliado do Hezbollah, atacar duramente Israel, os Estados Unidos entram na história - hoje interceptam mísseis, fornecem material bélico e serviços de inteligência. Por outro lado, se Teerã ficar quieta, vai ser a humilhação para o seu público interno, o que pode gerar protestos da ala linha dura.

O ataque iraniano com quase 200 mísseis ocorrido hoje não foi telegrafado como o de abril, mas, apesar do pânico entre cidadãos israelenses com as explosões, também não causou cócegas na estrutura de seu país. Teerã sabe que enfrentar Israel e EUA num conflito aberto pode levar à própria queda do regime. Netanyahu prometeu revidar, a questão é se isso é realmente útil para a sua narrativa.

"Muitos avaliam, e eu concordo em parte, que o mundo caminha para a multipolaridade devido ao poder econômico e militar da China e de outros países de poder médio. Isso é uma meia verdade. No Oriente Médio, embora China e Rússia tenham um bom relacionamento com governos locais, quando vai para a questão militar, só os EUA e o maior poder militar da região, Israel, que aparecem. Isso permite que Israel faça o que quiser", afirmou à coluna Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da PUC-SP.

"E isso esta levando a uma tragédia com mortes, deslocados e destruição no Oriente Médio", avalia. Só em Gaza, são mais de 41 mil mortos.

Protesto de iranianos contra o governo islâmico de Teerã durante a Assembleia Geral da ONU em setembro de 2024
Protesto de iranianos contra o governo islâmico de Teerã durante a Assembleia Geral da ONU em setembro de 2024 Imagem: Leonardo Sakamoto/UOL
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As ricas ditaduras do Oriente Médio poderiam colocar seu peso econômico para se contrapor, mas não farão. Arábia Saudita e Emirados Árabes se topassem um bloqueio econômico, Israel negociaria.

Israel temia o Hezbollah, mas o grupo fragilizado não teme mais. Toma cuidado para não transformar uma invasão terrestre no Sul do Líbano em um atoleiro contra guerrilhas que não conseguirá derrotar, mas vê o cenário de outro jeito agora.

A questão é que a "vitória" do governo Netanyahu aliado à ultradireita religiosa sobre Gaza e o Líbano e mesmo contra o Irã não são perenes. Todas plantam hoje os ataques terroristas que serão colhidos por esta e as próximas gerações de israelenses.

A própria história do Oriente Médio mostra que se a paz não vem de negociação que considere a qualidade de vida para todos os envolvidos, ela não dura.

O ataque que deixou seis pessoas mortas e nove feridas na região de Jaffa, ao Sul de Tel Aviv, nesta terça (1), provocado por uma pessoa portando um rifle e outra, uma faca, são um alerta disso. Quando guerrilhas e exércitos são desmantelados, o terrorismo se consolida como instrumento.

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Netanyahu dá de ombros, pois não precisa de paz perene. Precisa que ela dure o suficiente para mudar a percepção de Israel sobre seus casos de corrupção e sobre sua incompetência que permitiu o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro do ano passado.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL