Israel e EUA vão se impor contra Irã, mas isso é diferente de ganhar guerra
Não há poder militar que faça frente a Israel respaldado pelos Estados Unidos no Oriente Médio. E o poder econômico exercido pelas petroditaduras não se mostra interessado em ir além da retórica. Então, o governo Benjamin Netanyahu faz o que quer em Gaza e no Líbano e vai se impor contra o Irã. O que não significa, contudo, que Israel ganhará a guerra. Ou que terá paz.
A preocupação maior de Netanyahu não é a vida dos israelenses (tanto que prefere manter a destruição de Gaza em busca de terroristas do Hamas do que negociar as dezenas de reféns que estão com o Hamas), mas manter-se no poder através da justificativa da guerra. O ataque ao Líbano usa a proteção das comunidades israelenses que vinham sendo alvo dos mísseis do Hezbollah como mote.
O problema é que qualquer tranquilidade alcançada será momentânea, exatamente pelo métodos adotados por Netanyahu. As explosões de pagers e o bombardeio de cidades mostra que ele não separa civis de combatentes. Por que, então, os filhos e vizinhos desses civis não se tornarão combatentes diante disso?
Israel quebrou o sistema de comunicação e de inteligência do Irã e do Hezbollah, permitindo ataques certeiros e mortais contra alvos do grupo xiita no Líbano, como o que matou o seu líder Hassan Nasrallah. E também leva medo ao aiatolá Ali Khamenei, que teria sido carregado para local seguro com a escalada do conflito.
Se o Irã, aliado do Hezbollah, atacar duramente Israel, os Estados Unidos entram na história - hoje interceptam mísseis, fornecem material bélico e serviços de inteligência. Por outro lado, se Teerã ficar quieta, vai ser a humilhação para o seu público interno, o que pode gerar protestos da ala linha dura.
O ataque iraniano com quase 200 mísseis ocorrido hoje não foi telegrafado como o de abril, mas, apesar do pânico entre cidadãos israelenses com as explosões, também não causou cócegas na estrutura de seu país. Teerã sabe que enfrentar Israel e EUA num conflito aberto pode levar à própria queda do regime. Netanyahu prometeu revidar, a questão é se isso é realmente útil para a sua narrativa.
"Muitos avaliam, e eu concordo em parte, que o mundo caminha para a multipolaridade devido ao poder econômico e militar da China e de outros países de poder médio. Isso é uma meia verdade. No Oriente Médio, embora China e Rússia tenham um bom relacionamento com governos locais, quando vai para a questão militar, só os EUA e o maior poder militar da região, Israel, que aparecem. Isso permite que Israel faça o que quiser", afirmou à coluna Reginaldo Nasser, professor de Relações Internacionais da PUC-SP.
"E isso esta levando a uma tragédia com mortes, deslocados e destruição no Oriente Médio", avalia. Só em Gaza, são mais de 41 mil mortos.
As ricas ditaduras do Oriente Médio poderiam colocar seu peso econômico para se contrapor, mas não farão. Arábia Saudita e Emirados Árabes se topassem um bloqueio econômico, Israel negociaria.
Israel temia o Hezbollah, mas o grupo fragilizado não teme mais. Toma cuidado para não transformar uma invasão terrestre no Sul do Líbano em um atoleiro contra guerrilhas que não conseguirá derrotar, mas vê o cenário de outro jeito agora.
A questão é que a "vitória" do governo Netanyahu aliado à ultradireita religiosa sobre Gaza e o Líbano e mesmo contra o Irã não são perenes. Todas plantam hoje os ataques terroristas que serão colhidos por esta e as próximas gerações de israelenses.
A própria história do Oriente Médio mostra que se a paz não vem de negociação que considere a qualidade de vida para todos os envolvidos, ela não dura.
O ataque que deixou seis pessoas mortas e nove feridas na região de Jaffa, ao Sul de Tel Aviv, nesta terça (1), provocado por uma pessoa portando um rifle e outra, uma faca, são um alerta disso. Quando guerrilhas e exércitos são desmantelados, o terrorismo se consolida como instrumento.
Newsletter
OLHAR APURADO
Uma curadoria diária com as opiniões dos colunistas do UOL sobre os principais assuntos do noticiário.
Quero receberNetanyahu dá de ombros, pois não precisa de paz perene. Precisa que ela dure o suficiente para mudar a percepção de Israel sobre seus casos de corrupção e sobre sua incompetência que permitiu o ataque terrorista do Hamas em 7 de outubro do ano passado.