Leonardo Sakamoto

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Opinião

Com Trump, Bolsonaro tentará fugir (de novo) se for condenado por golpe?

Diante do indiciamento de Jair Bolsonaro e mais 36 por tentativa de golpe de Estado, dissolução do Estado democrático de direito e organização criminosa, uma pergunta voltou a ser feita em círculos políticos e jurídicos e em grupos de zap de jornalistas: quando uma condenação estiver iminente, o ex-presidente tentará fugir para os Estados Unidos de Trump ou vai encarar de frente a prisão como fez Lula?

O procurador-geral da República vai apresentar denúncia pelo caso no início de 2025, e o Supremo Tribunal Federal deve julgá-lo no mesmo ano para evitar contaminar as eleições gerais de 2026. Diante da robustez do que foi apresentado até aqui, poucos duvidam que Bolsonaro será declarado culpado e pegar décadas no xilindró. A questão é: ele aceitará cumprir a pena?

Paralelos com o presidente Lula não são aplicáveis aqui. Diante da proximidade de sua prisão devido à condenação no âmbito da Lava Jato, muitos sugeriram ao petista asilar-se fora do país, o que ele rechaçou. O STF acabou anulando a condenação por conta da falta de lisura do processo, mas ele chegou a pagar 580 dias de cana na carceragem da Polícia Federal em Curitiba e ser impedido de concorrer em 2018.

Já Bolsonaro nem precisou ser preso: diante da apreensão de seu passaporte em 8 de fevereiro deste ano, em meio a uma operação da PF sobre a tentativa de golpe de Estado, o ex-presidente se refugiou na Embaixada da Hungria, governada pela extrema direita de Viktor Orbán, entre 12 e 14 de fevereiro. Muitos viram o episódio como uma espécie de test drive de fuga.

Além disso, Bolsonaro fugiu do país, em 30 de dezembro de 2022, antes mesmo de terminar o seu mandato. Diz que foi para não passar a faixa presidencial, mas as investigações da Polícia Federal sobre o plano - que envolveu de minuta de golpe até esquema para matar Lula, Alckmin e Alexandre de Moraes) - revelam que ele tinha razão para temer ficar no Brasil e ser preso.

Valdemar da Costa Neto, presidente do PL, afirmou ao UOL que, se preso, ele "elege um poste de dentro da cadeia". Exagera sobre o aumento de popularidade, mas tem razão ao afirmar que Jair seria desenhado como um mártir por seus aliados e seguidores, que iriam explorar isso eleitoralmente com algum sucesso.

A questão, contudo, não é como a figura política de um Bolsonaro preso será usada como mártir da extrema direita, mas como o indivíduo Jair Messias vai encarar a possibilidade de ficar décadas preso.

Ele é do tipo que acredita que o seu sacrifício pessoal seria usado para uma causa maior ou é daqueles que abandonam aliados aos leões diante da percepção do risco e, por isso, não aceitariam abraçar o sacrifício? Ele pensa mais em si mesmo ou no coletivo? Perguntas retóricas, claro.

Com o retorno de Donald Trump ao poder em 20 de janeiro do ano que vem, ele poderia pedir asilo político aos Estados Unidos, sob a justificativa de "comandar a resistência" direto de Orlando, na Flórida. A falta de passaporte é o de menos, há outras formas de fugir do país caso necessário seja, ainda mais com alguém com recursos financeiros e políticos para tanto.

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O estágio de indiciamento é apenas o início de uma longa caminhada. E as declarações de lideranças da direita, como as do governador Tarcísio de Freitas, apoiando-o e chamando de "narrativas" um conjunto de evidências suficiente para desconstruir a imagem pública de Bolsonaro, mostram que ele continua com força política.

Se preso, ele será um ativo para a extrema direita, mas se fugir, o contrário. Como explicar que o líder do PT aceitou cumprir a cana enquanto Jair se escafedeu? Ele tem cerca de um ano para pensar se ele prefere sua liberdade ou seu legado.

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Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL