Kajuru entrevista Lula e Alckmin para a TV e nega conflito de interesse
No último domingo (3), os senadores Jorge Kajuru (PSB-GO) e Leila Barros (PDT-DF) estrearam um programa de entrevistas na RedeTV!. O primeiro convidado do PODK Liberados foi o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB). A segunda entrevista, que vai ao ar no próximo domingo (10), é com o presidente Lula (PT) e foi gravada nesta quarta.
Alckmin é o principal expoente do partido de Kajuru. Tanto o PSB como o PDT de Leila são partidos aliados do governo Lula e têm ministros na Esplanada. A legislação brasileira não veta a dupla jornada de trabalho de parlamentares como apresentadores de programas de TV nem há nada que proíba no Código de Ética e Decoro do Senado. A legislação eleitoral veta a participação na televisão apenas no período de campanha.
Mas, no caso de Kajuru e Leila, o fato de conduzirem um programa de entrevistas sendo da base governista provoca questionamentos sobre a isenção jornalística das pautas dos entrevistadores.
Kajuru diz que não há conflito de interesse por manter um programa de entrevistas em rede aberta de televisão. Afirma que é "desrespeitoso" fazer questionamentos sobre o tema.
Ele diz que já entrevistou outros políticos de oposição, como os colegas de Senado Hamilton Mourão (Republicanos-RS) e Tereza Cristina (PP-MS). As entrevistas foram veiculadas apenas no YouTube, em março e em setembro deste ano, respectivamente.
A RedeTV! diz que o programa "é uma continuidade do projeto do senador" no YouTube. "Jorge Kajuru integrou a equipe da RedeTV! no início dos anos 2000, inicialmente apresentando o TV Esporte e, posteriormente, o Bola na Rede."
Kajuru diz que tem "50 anos de carreira jornalística", quatro deles na Folha de S.Paulo, período em que, segundo ele, vários políticos eram colunistas e recebiam salário do jornal. Atualmente, o jornal veda que seja colunista quem ocupe ou se candidate a cargos no Executivo.
Kajuru afirma que tampouco a imprensa pode questionar se a TV potencialmente pode lhe favorecer em uma eventual reeleição. Diz que nunca falou que vai concorrer de novo e que o programa não passa em Goiás. No entanto, a RedeTV! informa que o sinal está disponível em Goiânia pela TV Brasília.
"Tem oito meses que tenho esse programa, entrevisto bolsonaristas e lulistas. Pergunta se a entrevista com o Lula foi de alto nível ou não", justifica Kajuru.
A senadora Leila fez carreira como jogadora de vôlei. Ela respondeu, via assessoria, que o PODK Liberados é um "talk show independente, idealizado sem vínculos partidários ou pessoais" e "independentemente de ideologias".
Segundo a senadora, o convite para ela participar partiu de Kajuru e já foram transmitidos 56 episódios (54 exibidos em canais regionais e plataformas digitais como o YouTube), com destaque para "a pluralidade de seus convidados, que incluem líderes de diferentes partidos, além de jornalistas, personalidades e atletas".
"Leila encara o PODK Liberados como um espaço de interação com a sociedade, onde temas diversos são discutidos de maneira acessível e plural, sem qualquer objetivo eleitoral."
Ambos foram eleitos em 2018, então seus mandatos terminam em 2026, quando podem concorrer à reeleição.
Visibilidade para o eleitorado
Ainda que Kajuru negue que um programa em TV possa aumentar sua projeção junto ao eleitorado e, potencialmente, facilitar sua reeleição, cientistas políticos afirmam que a superexposição pode facilitar o impulsionamento de votos.
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Quero receberSem tratar especificamente do caso de Kajuru e Leila, Rafael Cortez, cientista político da Tendências Consultoria, diz que um programa de TV abre a possibilidade para parlamentares encontrarem espaços para construir relações políticas e se posicionar para o eleitor, "provavelmente olhando 2026".
"É um tipo de exposição do mandato. Não assisti ao programa, mas pode ser um espaço tanto para fazer articulação política quanto, por meio dos convidados, se posicionar e sinalizar para grandes temas que estão sendo discutidos no debate público. No mundo de rede social, com outras ferramentas para esses parlamentares ganharem mais capital político, eles estão aparecendo e fazendo um investimento."
O caso mais emblemático é o do deputado Celso Russomanno (Republicanos-SP), que por décadas manteve um programa sobre direito do consumidor em paralelo ao seu emprego na Câmara.
Para o cientista político Claudio Couto, professor da FGV (Fundação Getúlio Vargas), a vantagem por aparecer na TV "é clara" em casos de políticos que concorram a cargos em eleições proporcionais, como vereador ou deputado, mas menor em casos de eleições majoritárias. Ele cita como exemplo o apresentador José Luiz Datena (PSDB), que não conseguiu bom desempenho neste ano na corrida pela Prefeitura de São Paulo.
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