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Madeleine Lacsko

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pesquisas de agosto nunca acertaram segundo turno neste século

Candidatos Lula e Bolsonaro 2 - Reprodução
Candidatos Lula e Bolsonaro 2 Imagem: Reprodução

Colunista do UOL

15/08/2022 11h36

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Eleição presidencial no Brasil, pelo menos neste século, é uma maratona decidida nos últimos 100 metros. Na qualidade de jornalista, acompanho a mesma coisa pela sétima vez.

A minha primeira cobertura, a de 1998, foi a última em que eu vi pesquisa de agosto acertar quem estaria no segundo turno. No caso, era ninguém.

Todas as pesquisas davam como certa a reeleição de Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno. Estávamos vivendo o Plano Real intensamente e era a primeira vez em que havia possibilidade de reeleição, o que mudava as características do pleito.

Dali para frente, nunca mais pesquisa de agosto acertou quem estaria no segundo turno. A história da polarização toma o brasileiro de uma forma tão emocional que o pessoal não se lembra nem das últimas eleições.

Ou talvez eleição seja uma coisa que a gente, de certa forma, mistura com Copa do Mundo e torce mais do que analisa. Então ninguém lembra direito quem acertou e quem errou.

Em agosto de 2018, tanto Ibope quanto Datafolha apontavam que o segundo turno seria entre Jair Bolsonaro e Marina Silva. Ainda havia uma confusão sobre a possibilidade de Lula ser candidato e Fernando Haddad não decolava.

Em 31 de agosto de 2018, Fernando Haddad, que chegou ao segundo turno, foi motivo de chacota em toda a imprensa. Era ainda tão desconhecido no nordeste, que as pessoas se referiam a ele como "Andrade".

Estamos em 15 de agosto. Diversos luminares da política afirmam que a eleição já está decidida. Não é novidade. Foi assim em todas as outras, quando nem o segundo turno estava decidido.

Em 2014, após a morte trágica de Eduardo Campos, as pesquisas de agosto indicavam um segundo turno entre Marina Silva e Dilma Rousseff.

Foi justamente nesse ponto que se iniciou a primeira grande campanha de Fake News das eleições presidenciais, capitaneada por João Santana, que hoje é marketeiro de Ciro Gomes. Deu certo. Dilma Rousseff enfrentou Aécio Neves no segundo turno.

Em 2010, as pesquisas de agosto mostravam vitória de Dilma Rousseff no primeiro turno. O segundo lugar seria um páreo difícil entre Serra e Marina Silva, que cresceu quando a campanha pegou fogo e parecia mais forte que o tucano.

No final das contas, houve segundo turno, diferente do que as pesquisas indicavam em agosto. Foi entre Dilma Rousseff e José Serra.

Em 2006, a previsão em agosto era de uma sonora vitória de Lula no primeiro turno, com margem de mais de 30 pontos percentuais sobre o segundo colocado, o tucano Geraldo Alckmin. Nas urnas, a diferença foi de apenas 7 pontos percentuais e os dois foram ao segundo turno.

Essa eleição teve ainda algo curioso depois, quando Alckmin fez menos votos no segundo turno do que no primeiro.

Em 2002, ao final do mandato de Fernando Henrique Cardoso, era certo em agosto que o segundo turno seria entre Lula e Ciro Gomes. Como sabemos, Lula fez neste ano sua eleição histórica, vencendo o segundo turno contra José Serra.

As pesquisas não erraram porque são a foto do momento. Elas acertaram, indicando que nesse século o brasileiro não escolheu um segundo turno presidencial até que a reta final da campanha pegasse fogo.

Há um ponto curioso, no entanto. Embora o segundo turno tenha sempre sido decidido aos 49 do segundo tempo, o primeiro colocado em agosto foi o vitorioso em todas as eleições deste século.

O que isso quer dizer estatisticamente? Rigorosamente nada. Para os mais debochados, seguindo a teoria da aleatoriedade, é mais provável que o segundo turno seja definido em agosto, já que ainda não tivemos isso no século.

Suponhamos que o segundo turno não seja entre Lula e Bolsonaro. Todo mundo vai lembrar de quem jurou que seria e não havia outra possibilidade, certo? Errado. Análise também é sobre o calor do momento, tanto que ninguém se lembra do que foi dito nas eleições anteriores.

Em outra era geológica, trabalhei com um meteorologista que recebia perguntas do tipo: "Minha filha vai casar em São Roque, daqui a dois anos, no dia 13 de novembro. Vai chover?". Ele respondia que não ao vivo, com a maior certeza do mundo.

E se a previsão desse errado? Não havia problema. Conviver com incerteza é um incômodo tão grande que os fãs preferiam arrumar desculpas para as falsas certezas.