Como definiremos quem são os animais selvagens que Lula pretende extirpar?
Negar a alguém a condição humana está na gênese dos acontecimentos mais perversos da história da humanidade. É gravíssimo que o presidente do Brasil tenha decidido enveredar por essa linha de discurso. O pior é que Lula dizia querer a presidência para fazer justamente o oposto, unificar o Brasil e acabar com o discurso de ódio.
Não há justificativa para o que o presidente disse hoje e é importante que ele corrija o rumo o mais rápido possível. Vivemos numa sociedade polarizada com inúmeros episódios de violência política. É inadmissível que o primeiro mandatário da nação se expresse dessa maneira.
Lula quis comentar o episódio ocorrido no aeroporto de Roma envolvendo o ministro do STF Alexandre de Moraes. Segundo relatos, estamos provavelmente falando de injúrias e até de altercação física.
"Nós precisamos punir severamente pessoas que ainda transmitem ódio, como o cidadão que agrediu o ministro Alexandre de Moraes no aeroporto de Roma. Um cidadão desses é um animal selvagem, não é um ser humano", disse Lula. Não existe ódio maior que a desumanização, negar a condição humana de alguém. Mas a declaração ainda piora.
"Essa gente que nasceu no neofascismo, colocado em prática no Brasil, tem que ser extirpada", declarou o presidente do Brasil. Seria interessante explicar de que maneira pretende extirpar pessoas e o que exatamente quis dizer com isso.
Lula dá o tom de sua militância e sabe muito bem disso. Na manifestação sobre o ocorrido com o ministro do STF, fala menos sobre o caso em si e mais sobre o que espera de seus militantes.
O presidente opera habilmente na dissonância cognitiva, como já fez diversas outras vezes. Está aparentemente, pregando contra o ódio na política. Elege alguém que simbolizaria esse ódio porque se envolveu num episódio concreto. Então, dá o primeiro passo rumo ao ódio, a desumanização. Diz textualmente que "não é um ser humano". Depois, defende que as pessoas sejam extirpadas.
É possível alegar que ele estivesse falando apenas dos fascistas ou neofascistas. Lula teria passado então para a turma do "direitos humanos para humanos direitos". Nessa visão de mundo, os fascistas precisam ser extirpados. Daí vamos a outra questão: como e quem define quem são os fascistas?
O petismo vê fascismo até em barraquinha de cachorro-quente. Geraldo Alckmin e o próprio Alexandre de Moraes eram até outro dia chamados de fascistas por gente que tem cargo no governo. Fascista é o termo que os extremistas luloafetivos usam para estigmatizar e calar qualquer crítico de seu ídolo político.
Lula sabe disso e agora, na prática, deu sinal verde para que a militância fique ainda mais radical. É justamente o oposto do que ele prometeu. Digamos que não tenha sido de propósito, que apenas escorregou na linguagem e carregou nas tintas. Se esse for o caso, a correção vem rapidinho. Vamos esperar.
É preocupante o relativismo moral de Lula quando falamos de violência na política. A última declaração pode dar a entender que ele repudia, mas o conjunto da obra deixa claro que pouco importa o que é feito, importa quem fez ou em nome de quem.
Há um ano, em 9 de julho do ano passado, o presidente agradeceu publicamente um militante que tentou matar alguém, jogando debaixo de um caminhão. Agradeceu "o companheiro Maninho, por me defender, ele ficou preso 7 meses porque resolveu não permitir que um cara ficasse me xingando na porta do instituto." É de uma naturalidade chocante e jamais houve retratação. O caso concreto rendeu 7 meses de prisão por tentativa de homicídio.
Fossem piadas num show de standup, o Brasil estaria estarrecido e teria gente autoritária defendendo até a prisão de quem falou. Mas, como é apenas o presidente da República, não vamos levar a sério.
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