Madeleine Lacsko

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Opinião

Lula vai mudar o tratamento com Maduro? Seria ótimo

A julgar pelo que vimos hoje, Lula pode ter mudado o tratamento dado a Nicolás Maduro. Embora não tenha falado a palavra ditadura, assinou um documento defendendo eleições livres e prestando solidariedade às pessoas que tiveram de deixar o país.

Coincidência ou não, a Venezuela fechou ainda mais as eleições após declarações do presidente do Brasil. Semana passada, ficou decidido que os observadores internacionais europeus não serão aceitos nas eleições. Não é à toa que uma mudança de postura vem justo no encontro com líderes da União Europeia.

Na última quinta-feira, o presidente da Assembleia Nacional venezuelana, Jorge Rodríguez, declarou em uma sessão: "eles não voltam, por serem grosseiros, colonialistas, representantes dessa Europa imperial ultrapassada, assassina e escravista, eles não voltam aqui."

Em 29 de junho, quando ainda argumentava que a Venezuela é uma democracia porque tem eleições, Lula falou justamente dos observadores internacionais. Argumentava que seria possível ir até o país verificar se as eleições eram justas ou não. Essa possibilidade foi fechada pelo governo da Venezuela.

Agora acontece uma reunião da União Europeia com a Celac, Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos. Há ainda um outro fator envolvido, os laços de alguns com o Irã bem no meio da situação da invasão da Ucrânia pela Rússia.

Mês passado, o presidente do Irã, Ebrahim Raisi, fez um giro por Venezuela, Cuba e Nicarágua. No dia dos namorados, 12 de junho, assinou 25 acordos de cooperação em diversas áreas, desde indústira petroquímica até educação, passando por saúde e mineração.

Na ocasião, o mandatário iraniano mandou um recado sonoro. "A relação entre o Irã e a Venezuela não é uma relação diplomática normal, mas uma relação estratégica entre dois países que têm interesses comuns, visões comuns e inimigos comuns", declarou Ebrahim Raisi.

Existe uma disputa internacional pela influência na América Latina e Caribe. Os países que se alinham a ditaduras como a iraniana são minoritários. É importante para a União Europeia que o Brasil, líder da região, não entre nessa trilha e deixe claro que faz a opção democrática.

A esperança é que esse seja um posicionamento regional. Democracias não apoiam ditaduras. Há quem relativize dizendo que devemos ter relações com esses países, o que é verdade. A manutenção desse laço não inclui, no entanto, dizer que uma ditadura é narrativa ou receber ditadores com honras de chefe de Estado.

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Agora se coloca na mesa algo muito interessante para Maduro, a eliminação de todos os bloqueios. Já está muito claro, por exemplo, que as restrições no âmbito do Mercosul se devem ao regime ditatorial. A suspensão do bloco pode ser revertida com a volta à democracia.

Como a ditadura se estende por muitos anos, as sanções sobre a Venezuela vão se avolumando. É uma novidade acenar com a suspensão de todas elas caso haja eleições livres no ano que vem.

Lula tem aspirações de liderança internacional. No âmbito da América Latina e Caribe tem reais possibilidades. Agora, por exemplo, vai se reunir tanto com o governo venezuelano quanto com a oposição para dialogar. Seria excelente se tivesse avanços.

Vivemos uma realidade em que o campo democrático está se reduzindo no mundo todo, como aponta o levantamento de 2023 do V-Dem, instituto especializado no tema da Universidade de Gotemburgo, na Suécia.

O fechamento dos regimes não tem ocorrido como imaginamos, com tanques na rua. Começa com a polarização, evolui para a polarização tóxica (julgamento moral sobre opositores) e então para mentalidade tribal, desumanização e licença para atacar.

Caso o presidente Lula permaneça na linha apontada hoje, tem reais chances de impacto na situação da Venezuela. Seria uma mudança de rumo muito bem vinda não apenas para os venezuelanos, mas também para nós, brasileiros.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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